Rodrigo Vieira   |   21/09/2023 16:38
Atualizada em 21/09/2023 17:21

Crise da 123 Milhas não é a morte do negócio de milhas, dizem especialistas

Passagens flexíveis foi o que desencadeou a crise da agência de viagens on-line, segundo comunicadores


Divulgação
Gabriel Dias e Rodrigo Cunha, da Cartões, Milhas e Viagens (CMV)
Gabriel Dias e Rodrigo Cunha, da Cartões, Milhas e Viagens (CMV)

Recuperação Judicial, dívida bilionária, calote em milhares de pessoas físicas e dezenas de empresas, consumidores impossibilitados de viajar, de usufruir algo pelo qual pagaram. O escândalo da 123 Milhas "estourou" há um mês e gerou certa desordem na indústria do Turismo, principalmente em relação ao negócio que envolve pontuação, crédito e programas de fidelidade das companhias aéreas.

Contudo, existe gente e empresas sérias atuando no setor, que pode, sim, ser lucrativo e oferecer bons negócios para viajantes. É o que dizem Rodrigo Cunha e Gabriel Dias, há dois anos e meio focados neste negócio por meio do site e das redes sociais do Cartões, Milhas e Viagens (CMV).

"Não é a morte das milhas. Para quem sabe usar os vários programas de fidelidade, emitir por conta própria e negociar os pontos por plataformas confiáveis, o negócio pode ser um ganha-ganha" afirma o comunicador especialista no assunto Gabriel Dias.

Gabriel Dias, da Cartões, Milhas e Viagens

"Inclusive, estamos vendo que o caso 123 Milhas fortalece as agências de viagens, como foi na pandemia. Isto é, as agências fazem o negócio correto: vendem e emitem algo que existe, enquanto o que a 123 Milhas estava fazendo era a promessa de uma passagem. Os consumidores estão mais receosos com preços milagrosos e tendem a procurar um profissional que possa respondê-lo, alguém com quem possa contar", completa o comunicador especialista no assunto.

Passagens flexíveis foi o que desencadeou a crise da 123 Milhas

Segundo ele, quando a 123 Milhas vendia, a OTA se comunicava com o HotMilhas, outro site do grupo, e pegava milhas disponíveis, a maioria delas vendida por pessoas físicas. Entretanto, enquanto a 123 Milhas atuou neste modelo, não havia problemas. A encrenca começou quando a empresa entrou na onda das passagens flexíveis, isto é, sem data definida para o embarque, o mesmo formato que devastou a Hurb.

"Aí deu problema. A conta parou de fechar. Eles vendiam, usavam o dinheiro para fazer fluxo de caixa e, lá na frente, tentavam fazer emissão barato. Sabemos, contudo, que a demanda de passageiros está altíssima e, por consequência, as passagens não estão nada baratas. Na hora de pagar, a bolha estourou. Agora o cenário de crise está evidente: na lista de credores da 123 Milhas há mais de sete mil páginas de credores do grupo, e 99% deles são pessoas físicas, algumas com mais de R$ 300 mil para receber. É gente que usava a venda de milhas para gerar renda extra", lamenta Gabriel Dias.

Sócio de Dias, o empresário e comunicador Rodrigo Cunha alerta para o perigo do banco de milhas exercido pela HotMilhas. "As pessoas não se conhecem. Quando você vende para a HotMilhas, você dá livre arbítrio para eles atuarem como querem. O modelo de operação dentro de preços razoáveis se sustenta, mas quando se começa a praticar algo mágico, algo inexistente, o negócio não se sustenta, pois o mercado de milhas tem um preço médio, que funciona como um regulamentador. A questão toda é que foi se jogando muita milha no mercado e as pessoas aprenderam a não desperdiçar esses pontos. Então, a operação deles ficou insustentável."

O Cartões, Milhas e Viagens, no qual os sócios trabalham, é um negócio montado em cima de comunidades do WhatsApp. Neste balcão de milhas, o CMV conecta pessoas interessadas na venda com pessoas interessadas na compra de milhas. O primeiro usuário entra no balcão, coloca sua oferta e a pessoa interessada em viajar entra em contato com o vendedor para acertar o contrato.

"O papel do balcão é apresentar as duas pontas, dar todo o suporte para que tenham transação sólida e consistente. Usamos dados do Serasa, foto com documento, login, senha, pesquisamos o volume de milhas e tudo o que está disponível para que não haja problema no comércio. Então, colocamos as duas pessoas em contato e o pagamento acontece em até 24 horas, via pix", afirma Rodrigo Cunha. "Não fazemos custódia da milha nem do dinheiro. A pessoa que está comprando sabe quem está vendendo."

Outro negócio que sustenta o CMV é a consultoria. Por meio de comunidades nas redes sociais, os sócios ajudam as pessoas a comprar e acumular milhas, a usar o cartão certo, a entender onde e quando fazer o negócio. É uma comunidade de ensinamento de promoções e pontuações. "Hoje temos mais de 6,2 mil pessoas nos grupos, entre pagantes e assinantes. Nossa recorrência é superior a 90%, isto é, pessoas que renovam seus planos conosco. Procuramos ser bem didáticos."

Segundo Gabriel Dias, HotMilhas e MaxMilhas foram, sim, plataformas recomendadas pelo CMV, mas quando foi criado o modelo de pacotes flexíveis, os especialistas acenderam a luz de alerta. "Era uma bomba relógio. Entendemos na hora que a conta não fechava e fomos ainda mais incisivos na recomendação de não usarem estas plataformas quando a Hurb passou por problemas. Nunca fizemos propaganda deles, mas em alguns casos podíamos recomendar. Isso aconteceu até entrarem nessa onda dos flexíveis."

"Companhias aéreas se sustentam pelas milhas"

Os lucros dos programas de milhas das companhias aéreas é milionário e, na visão de Gabriel Dias e Rodrigo Cunha, as companhias aéreas brasileiras hoje em dia se sustentam em seus pilares.

"Por isso eles vendem ponto o tempo inteiro, fazem promoções e permitem, sim, a negociação de milhas. Tem CEO de empresa aérea dizendo que o trade de milhas é um câncer na aviação brasileira, mas não é bem verdade, pois é um ativo que dá lucro para eles. Se não desse, não fariam promoções com descontos tão atrativos. Se vendem pontos o tempo inteiro, é porque é rentável para eles. Basta ver que aéreas que se dizem contrárias à venda de milhas permitem emissão de passagem com até 25 CPFs", alerta.

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