Karina Cedeño   |   07/12/2022 10:14
Atualizada em 07/12/2022 10:29

Companhias aéreas devem voltar a lucrar em 2023, segundo Iata

Em 2023 as aéreas devem registrar um pequeno lucro líquido de 4,7 bilhões de dólares


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Em 2023 as aéreas devem registrar um pequeno lucro líquido de US$ 4,7 bilhões
Em 2023 as aéreas devem registrar um pequeno lucro líquido de US$ 4,7 bilhões

Neste ano, as companhias aéreas reduziram as perdas decorrentes dos efeitos da pandemia da Covid-19 em seus negócios e devem voltar a lucrar no ano que vem, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata).

Isso significa que em 2023 as aéreas devem registrar um pequeno lucro líquido de US$ 4,7 bilhões, o que representa a margem de lucro líquido de 0,6%. Este será o primeiro lucro desde 2019, quando o lucro líquido do setor foi de US$ 26,4 bilhões (margem de 3,1%).

As perdas líquidas das companhias aéreas neste ano devem somar US$ 6,9 bilhões (o que mostra um melhor cenário no comparado com a perda de US$ 9,7 bilhões para 2022 estimada em junho pela Iata). Essa estimativa é significativamente melhor do que as perdas de US$ 42,0 bilhões e US$ 137,7 bilhões registradas em 2021 e 2020, respectivamente.

"A resiliência tem sido uma forte característica das companhias aéreas na crise da Covid-19. Para 2023, a recuperação financeira deve trazer o primeiro lucro do setor desde 2019. Essa é uma grande conquista, considerando a escala das perdas financeiras e econômicas causadas pelas restrições da pandemia impostas pelos governos. Porém, o lucro de US$ 4,7 bilhões sobre as receitas do setor de US$ 779 bilhões também mostra que ainda há um longo caminho até atingir uma base financeira sólida para o setor global. Muitas companhias aéreas são lucrativas o suficiente para atrair o capital necessário para impulsionar o setor e promover sua descarbonização. Mas outras companhias aéreas estão passando por uma série de dificuldades, incluindo regulamentação onerosa, custos altos, políticas governamentais inconsistentes, infraestrutura ineficiente e uma cadeia de valor em que as recompensas de conectar o mundo não são distribuídas de forma equitativa”, afirma o diretor geral da Iata, Willie Walsh.

2022

As melhores perspectivas para 2022 estão relacionadas em grande parte ao fortalecimento dos yields e forte controle de custos diante do aumento dos preços dos combustíveis.

Espera-se que o yield registre aumento de 8,4% (acima dos 5,6% previstos em junho). Com isso, as receitas de passageiros devem crescer e atingir US$ 438 bilhões (acima dos US$ 239 bilhões registrados em 2021).
As receitas do transporte aéreo de carga desempenharam um papel fundamental na redução das perdas, e devem atingir US$ 201,4 bilhões. Isso é uma melhoria em comparação com a previsão de junho, praticamente inalterada em relação a 2021, e mais que o dobro dos US$ 100,8 bilhões registrados em 2019.

As receitas gerais devem subir 43,6% em relação a 2021, atingindo o valor estimado de US$ 727 bilhões.
A maioria dos outros fatores evoluiu de forma negativa após a queda da estimativa de crescimento do PIB (de 3,4% em junho para 2,9%) e a demora para eliminar as restrições da COVID-19 em vários mercados, principalmente na China. A previsão de junho da Iata indicava que, em 2022, o tráfego de passageiros atingiria 82,4% dos níveis pré-crise, mas agora a recuperação desta demanda deve atingir 70,6% dos níveis pré-crise. Por outro lado, a previsão indicava que o transporte de carga ficaria 11,7% acima dos níveis de 2019, mas agora é mais provável que seja reduzida para 98,4% dos níveis de 2019.

Com relação aos custos, os preços do querosene de aviação devem ficar em média em US$ 138,8/barril no ano, muito acima dos US$ 125,5/barril estimados em junho. Isso é reflexo do aumento exagerado do preço do crack spread do petróleo, que está bem acima das médias históricas. Mesmo com a menor demanda, que causou redução do consumo, esse aspecto elevou a conta de combustível do setor para US$ 222 bilhões (bem acima dos US$ 192 bilhões previstos em junho).

“O fato de as companhias aéreas terem conseguido reduzir suas perdas em 2022 mesmo com o aumento de custos, a escassez de mão de obra, greves, interrupções operacionais em muitos hubs importantes e crescente incerteza econômica reflete o desejo e a necessidade de conectividade das pessoas. Com alguns mercados importantes, como a China mantendo as restrições por mais tempo do que o previsto, o número de passageiros ficou um pouco abaixo das expectativas. Terminaremos o ano com cerca de 70% do volume de passageiros de 2019. Mas com a melhoria dos yields tanto para o transporte de passageiros como de cargas, as companhias aéreas podem voltar a ter lucro”, disse Walsh.

2023


Em 2023, as companhias aéreas devem obter um lucro líquido global de US$ 4,7 bilhões sobre receitas de US$ 779 bilhões (margem líquida de 0,6%). Essa melhoria deve ocorrer apesar das crescentes incertezas econômicas com a desaceleração do aumento do PIB global para 1,3% (versus 2,9% em 2022).

“Apesar das incertezas econômicas, temos vários motivos para manter o otimismo em relação a 2023. A inflação mais baixa no preço do petróleo e a demanda reprimida contínua devem ajudar a manter os custos sob controle, enquanto a forte tendência de crescimento continua. Além disso, com margens tão estreitas, mesmo uma mudança insignificante em qualquer uma dessas variáveis pode trazer números negativos para o setor. Vigilância e flexibilidade serão fundamentais”, afirma Walsh.

Principais fatores de impacto nas estimativas

Transporte de passageiros: o transporte de passageiros deve gerar receitas de US$ 522 bilhões. A demanda de passageiros deve atingir 85,5% dos níveis de 2019 ao longo de 2023. Grande parte dessa expectativa leva em consideração as incertezas da política zero COVID da China, que estão restringindo os mercados doméstico e internacional. No entanto, o número de passageiros deve ultrapassar a marca de quatro bilhões pela primeira vez desde 2019, atingindo 4,2 bilhões de viajantes. Porém, o yield deve cair 1,7%, pois os custos de energia um pouco menores serão repassados ao consumidor, apesar da demanda de passageiros aumentar de forma mais rápida (+21,1%) que a capacidade (+18,0%).

Transporte de carga: os mercados de carga devem sofrer mais pressão em 2023. As receitas devem ser de US$ 149,4 bilhões, isto é, US$ 52 bilhões a menos que em 2022, mas ainda assim US$ 48,6 bilhões a mais que em 2019. Com a incerteza econômica, os volumes de carga devem cair para 57,7 milhões de toneladas em relação ao pico de 65,6 milhões de toneladas registrado em 2021. Com o aumento da capacidade de transporte de carga no porão das aeronaves de passageiros alinhado à recuperação nos mercados de passageiros, o yield deve recuar significativamente. A Iata espera a queda de 22,6% no yield de carga, principalmente no final do ano, quando o impacto das medidas de amenização da inflação deve ser mais forte. Para contextualizar, o yield de carga aumentou 52,5% em 2020, 24,2% em 2021 e 7,2% em 2022. Mesmo com esse declínio considerável e esperado, o yield de carga está bem acima dos níveis pré-COVID.

Custos: os custos gerais devem aumentar 5,3%, atingindo US$ 776 bilhões. Esse crescimento deve ficar 1,8 pontos percentuais abaixo do crescimento da receita, apoiando assim um retorno à rentabilidade. As pressões dos custos ainda existem devido à escassez de mão-de-obra, qualificação e capacidade. Os custos de infraestrutura também são uma preocupação.

No entanto, os custos unitários excluindo o combustível devem cair e atingir 39,8 centavos/tonelada disponível por quilômetro (ATK) (abaixo dos 41,7 centavos/ATK em 2022 e quase igual os 39,2 centavos/ATK registrados em 2019). O aumento de eficiência das companhias aéreas deve elevar a taxa de ocupação de passageiros para 81,0%, um pouco abaixo dos 82,6% registrados em 2019.

O gasto total com combustível em 2023 deve ser de US$ 229 bilhões -- consistente em 30% das despesas. A previsão da IATA é baseada no petróleo tipo Brent a US$ 92,3/barril (abaixo da média de US$ 103,2/barril em 2022). O querosene de aviação deve apresentar a média de US$ 111,9/barril (abaixo dos US$ 138,8/barril). Esta redução é reflexo da relativa estabilização do abastecimento de combustível após as interrupções iniciais causadas pela guerra na Ucrânia. O valor cobrado pelo querosene de aviação (crack spread) continua próximo de altas históricas.

Riscos: o ambiente econômico e geopolítico apresenta vários riscos potenciais nas perspectivas de 2023.
Embora as estimativas indiquem que pode haver um abrandamento dos aumentos agressivos das taxas de juros para combater a inflação a partir do início de 2023, permanece o risco de recessão em algumas economias. Essa desaceleração pode afetar a demanda por serviços de passageiros e cargas. No entanto, provavelmente isso traria alguma redução na forma de preços menores do petróleo.

As perspectivas antecipam uma reabertura gradual da China ao tráfego internacional e o relaxamento progressivo das restrições domésticas da COVID-19 a partir do segundo semestre de 2023. O prolongamento da política zero COVID da China afetaria as estimativas de forma negativa.

Se concretizadas, as propostas de aumento de taxas ou impostos de infraestrutura para apoiar os esforços de sustentabilidade também podem prejudicar a lucratividade em 2023.

“O trabalho da gestão das companhias aéreas segue com muitos desafios, pois será fundamental uma avaliação cuidadosa das incertezas econômicas. A boa notícia é que as companhias aéreas criaram flexibilidade em seus modelos de negócios para conseguir lidar com as acelerações e desacelerações econômicas que afetam a demanda. rentabilidade das companhias aéreas é mínima. Cada passageiro transportado deve contribuir em média com apenas US$ 1,11 para o lucro líquido do setor. Na maior parte do mundo, isso é muito menos do que o necessário para tomar um café. As companhias aéreas devem permanecer atentas a qualquer aumento de impostos ou taxas de infraestrutura. E precisaremos ter mais cautela com as taxas criadas em nome da sustentabilidade. Nosso compromisso é zerar as emissões de CO2 até 2050. Vamos precisar de todos os recursos que pudermos reunir, incluindo incentivos governamentais, para financiar essa grande transição energética. Mais impostos e cobranças maiores seriam contraproducentes”, disse Walsh.

Resumo de cada região
O desempenho financeiro de todas as regiões continua melhorando desde as grandes perdas causadas pela pandemia em 2020. A América do Norte é a única região que deve ter lucro em 2022, com base em nossas estimativas. Duas regiões se juntarão à América do Norte nesse aspecto em 2023: a Europa e o Oriente Médio, enquanto a América Latina, a África e a Ásia-Pacífico permanecerão no vermelho.
As transportadoras da América do Norte devem ter lucros de US$ 9,9 bilhões em 2022 e US$ 11,4 bilhões em 2023. Em 2023, o crescimento da demanda de passageiros de 6,4% deve superar o aumento da capacidade de 5,5%. Ao longo do ano, a região deve atingir 97,2% dos níveis de demanda pré-crise e 98,9% da capacidade pré-crise.

As operadoras da região se beneficiaram com o relaxamento das restrições de viagem em relação a vários outros países e regiões. Isso impulsionou o grande mercado doméstico dos Estados Unidos, além das viagens internacionais, principalmente as rotas que cruzam o Atlântico.

As transportadoras da Europa devem apresentar perda de US$ 3,1 bilhões em 2022 e lucro de US$ 621 milhões em 2023. Em 2023, o crescimento da demanda de passageiros de 8,9% deve ultrapassar o aumento da capacidade de 6,1%. Ao longo do ano, a região deve atingir 88,7% dos níveis de demanda pré-crise e 89,1% da capacidade pré-crise.

A guerra na Ucrânia reduziu as atividades de algumas transportadoras da região. As interrupções operacionais em alguns dos hubs desta região estão sendo resolvidas, mas o problema de mão de obra continua em vários locais.

As transportadoras da região Ásia-Pacífico devem apresentar perda de US$ 10,0 bilhões em 2022, diminuindo para um prejuízo de US$ 6,6 bilhões em 2023. Em 2023, o crescimento da demanda de passageiros de 59,8% deve ultrapassar o aumento da capacidade de 47,8%. Ao longo do ano, a região deverá atingir 70,8% dos níveis de demanda pré-crise e 75,5% da capacidade pré-crise.

A região Ásia-Pacífico sofre grande impacto negativo nas viagens causado pela política zero COVID da China e as perdas da região são amplamente distorcidas pelo desempenho das companhias aéreas da China, que enfrentam o impacto dessa política nos mercados doméstico e internacional. Assumindo uma visão conservadora da flexibilização progressiva das restrições na China ao longo do segundo semestre de 2023, esperamos uma forte demanda reprimida para promover a rápida recuperação depois disso. O desempenho da região recebe um impulso significativo dos mercados lucrativos de carga aérea, onde ocupa a primeira posição.

As transportadoras do Oriente Médio devem registrar perda de US$ 1,1 bilhão em 2022 e lucro de US$ 268 milhões em 2023. Em 2023, o crescimento da demanda de passageiros de 23,4% deve ultrapassar o aumento da capacidade de 21,2%. Ao longo do ano, a região deve atingir 97,8% dos níveis de demanda pré-crise e 94,5% da capacidade pré-crise.

A região se beneficiou de ajustes nas rotas devido à guerra na Ucrânia e, mais significativamente, da demanda reprimida de viagens, usando as extensas rotas da região com a reabertura dos mercados de viagens internacionais.
As transportadoras da América Latina devem registrar perda de US$ 2,0 bilhões em 2022, reduzindo a perda para US$ 795 milhões em 2023. Em 2023, o crescimento da demanda de passageiros de 9,3% deve superar o crescimento da capacidade de 6,3%. Ao longo do ano, a região deve atingir 95,6% dos níveis de demanda pré-crise e 94,2% da capacidade pré-crise.

A América Latina mostrou dinamismo ao longo do ano, em grande parte devido ao fato de que muitos países começaram a suspender as restrições de viagem devido à COVID-19 em meados de 2022.

As transportadoras da África devem apresentar perda de US$ 638 milhões em 2022, reduzindo o prejuízo para US$ 213 milhões em 2023. O crescimento da demanda de passageiros de 27,4% deve ultrapassar o crescimento da capacidade de 21,9%. Ao longo do ano, a região deve atingir 86,3% dos níveis de demanda pré-crise e 83,9% da capacidade pré-crise. A África está particularmente exposta a adversidades macroeconômicas, que aumentaram a vulnerabilidade de várias economias e que dificultam a conectividade.

Conclusão da Iata:

“Os lucros esperados para 2023 são pequenos. Mas é muito importante que o lucro está mais próximo. Os desafios que as companhias aéreas enfrentarão em 2023, embora complexos, devem estar relacionados às nossas áreas de experiência. O setor criou uma grande capacidade de se ajustar às flutuações da economia, aos principais itens de custo, como preços de combustível, e preferência dos passageiros. Nós pudemos ver isso na década de fortalecimento da lucratividade após a crise financeira global de 2008 e o fim da pandemia. E um bom aspecto é que há muitos empregos e a maioria das pessoas está confiante para viajar, mesmo com incertezas econômicas”, disse Walsh.

Passageiros estão aproveitando a volta da liberdade de viajar. Uma pesquisa recente da Iata com viajantes em 11 mercados globais mostrou que quase 70% deles estão viajando tanto quanto ou mais do que antes da pandemia. E, embora a situação econômica seja uma preocupação para 85% dos viajantes, 57% deles não têm intenção de diminuir suas viagens.

O mesmo estudo também mostrou o papel importante que os viajantes veem no setor aéreo:
  • 91% disseram que a conectividade aérea é fundamental para a economia;
  • 90% disseram que as viagens aéreas são uma necessidade para a vida moderna;
  • 87% disseram que as viagens aéreas têm um impacto positivo nas sociedades, e
  • Dos 57% familiarizados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, 91% entendem que o transporte aéreo é um dos principais setores que colaboram para atingir esses objetivos.

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