Victor Fernandes   |   07/06/2023 16:37
Atualizada em 07/06/2023 16:43

Produção de SAF deve crescer, mas Iata exige apoio político

Iata espera que a produção global de combustíveis renováveis atinja 69 bilhões de litros até 2028


Divulgação
Willie Walsh, diretor geral da Iata
Willie Walsh, diretor geral da Iata
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) anunciou sua expectativa de que a produção global de combustíveis renováveis atinja a capacidade estimada de pelo menos 69 bilhões de litros (55 milhões de toneladas) até 2028. Os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) representarão uma parte dessa produção crescente obtida por meio de novas refinarias de combustível renovável e da expansão das instalações atuais. É importante ressaltar que a produção esperada tem uma ampla cobertura geográfica, abrangendo a América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico.

“O aumento esperado da produção é extremamente animador. Com isso, os governos devem agir para garantir que o SAF seja incluído na produção. Isso significa, em primeira instância, incentivos à produção para apoiar a transição energética da aviação. E precisamos de aprovação contínua de métodos e matérias-primas diversos disponíveis para a produção de SAF. Com essas duas medidas implementadas com sucesso, podemos ter certeza de que os níveis de produção esperados para 2028 estarão realisticamente alinhados aos nossos roteiros publicados recentemente para atingir zero emissão líquida de carbono até 2050. Isso é importante, pois contamos com o SAF para fornecer cerca de 62% da mitigação de carbono até 2050”, disse Willie Walsh, diretor geral da Iata.

As tendências que sustentam essa perspectiva otimista já são visíveis. Em 2022, a produção de SAF triplicou e atingiu cerca de 300 milhões de litros (240 mil toneladas) e os anúncios de projetos de potenciais produtores de SAF estão aumentando rapidamente. A Iata conta com mais de 130 projetos relevantes de combustíveis renováveis anunciados por mais de 85 produtores em 30 países. Cada um desses projetos anunciou a intenção ou o compromisso de produzir SAF dentro de sua lista mais ampla de produtos de combustíveis renováveis.

Normalmente, há um intervalo de três a cinco anos entre o anúncio do projeto e a data de comercialização. Isso quer dizer que mais capacidade de combustível renovável até 2030 ainda pode ser anunciada nos próximos anos.

Se a produção de energia renovável atingir 69 bilhões de litros até 2028, conforme estimado, a trajetória para 100 bilhões de litros (80 milhões de toneladas) até 2030 estará no caminho certo. Se apenas 30% dessa quantidade de SAF fosse produzida, a indústria poderia atingir 30 bilhões de litros (24 milhões de toneladas) de SAF produzido até 2030.

“A produção de SAF necessário dessas instalações novas e em expansão não é uma certeza. Mas com os governos de todo o mundo estabelecendo na OACI uma meta aspiracional de longo prazo (LTAG) de zero emissão líquida até 2050, eles agora compartilham a responsabilidade pela descarbonização da aviação. Isso significa estabelecer uma estrutura política para garantir que a aviação obtenha a parcela necessária da produção de energia renovável no SAF”, disse Walsh.

APOIO GOVERNAMENTAL

É clara a situação de diversificação, dentro dos atuais critérios de sustentabilidade. Hoje, estima-se que 85% do futuro volume de SAF nos próximos cinco anos seja derivado de apenas uma das nove formas certificadas, que é HEFA (sigla em inglês para ésteres e ácidos graxos hidroprocessados), que depende da disponibilidade limitada de matéria-prima, como resíduos de gordura, óleo e graxa (FOGs, reconhecidos pela indústria como matérias-primas de segunda geração).

A Iata identifica três caminhos principais para atingir a diversificação do SAF:

  1. Expandir métodos já certificados de obter SAF, como Alcohol-to-Jet (AtJ) e Fischer-Tropsch.
  2. Acelerar P&D para formas de produção de SAF que estão atualmente em desenvolvimento.
  3. Ampliar tecnologia de matéria-prima/conversão de matéria-prima.

Para acelerar esses caminhos para níveis comercializados, será necessária liderança política dos governos. Para começar, há uma necessidade iminente de harmonização das principais políticas relacionadas ao SAF, como forma de reduzir obstáculos administrativos, logísticos e geográficos para a entrada de novas organizações no mercado, incluindo produtores, fornecedores de matérias-primas e compradores.

E o mais importante, o desafio é encontrar o capital necessário para financiar o desenvolvimento de novas tecnologias e unidades de produção. Os governos devem considerar o cenário de sustentabilidade mais amplo com esses investimentos. O SAF pode ser produzido a partir de resíduos florestais e agrícolas, resíduos sólidos urbanos, resíduos alimentares e resíduos úmidos (matérias-primas de terceira geração). A produção de SAF a partir desses resíduos pode criar oportunidades de retorno do investimento de longo prazo para os governos, com a possibilidade de financiar a limpeza do meio ambiente, apoiar economias em desenvolvimento e fornecer uma interseção entre transição energética e segurança energética pronta para desenvolvimentos futuros.

APOIO AO PASSAGEIRO

Uma pesquisa recente da Iata revelou apoio significativo dos passageiros ao SAF. Cerca de 85% dos viajantes concordaram que os governos deveriam fornecer incentivos para que as companhias aéreas usem o SAF.

“As pessoas viram o papel dos governos na transição para a energia verde no caso da eletricidade. Agora elas esperam o mesmo para o SAF. Os líderes do G7 estão entre os últimos a confirmar o SAF como componente fundamental para a aviação sustentável. Agora eles devem apoiar suas declarações com políticas eficazes. Para promover a produção de SAF, existem muitas ferramentas testadas e comprovadas, incluindo créditos fiscais, subsídios ou até mesmo investimentos diretos em tecnologias e soluções emergentes. O mercado está aí. As companhias aéreas querem comprar SAF. Qualquer coisa para incentivar significativamente a produção de SAF será um passo à frente”, acrescentou Walsh.

Tópicos relacionados