Artur Luiz Andrade   |   07/07/2023 12:59
Atualizada em 07/07/2023 13:21

Lisha Duarte fala dos planos pós-SeaWorld e agradece a parceiros e amigos

Executiva, que mora em Orlando, quer continuar com laços com o Turismo e o Brasil

Foram quase quatro décadas dedicadas a um dos maiores grupos de entretenimento do mundo, o SeaWorld Parks & Entertainment, e Lisha Duarte encerra esse ciclo com orgulho do que ajudou a construir e do que viu na indústria, mas, acima de tudo, das relações que construiu com o trade de todo o mundo, especialmente da América Latina, e da estrutura que conseguiu montar para atender à região.

Divulgação/Imaginadora
Lisha Duarte e o time da Imaginadora
Lisha Duarte e o time da Imaginadora

“Comecei em 1985 e Orlando nem tinha aeroporto internacional. A Universal em Orlando não existia ainda. Nos parques, só se falava inglês e comia hod dog com batata frita. Foi um trabalho realmente pioneiro abrir as portas para a América Latina, construir toda uma história com esse mercado tão importante pra gente, mas que não era olhado como deveria naquela época”, relembra ela, que começou a trabalhar com vendas com menos de um ano no parque (no escritório de Miami) e aproveitou que falava espanhol para investir na América Latina.

Nascida em Nova York, Lisha aprendeu espanhol com a mãe, de Porto Rico, e por ter morado nas Ilhas Virgens Americanas e em San Juan, por conta do trabalho do pai. Anos depois se casou com um argentino, com quem teve um filho, Brian, hoje com 33 anos.

Mas o segundo casamento já foi com um brasileiro, Eduardo Duarte, que conheceu nas viagens a trabalho para o Brasil. Ele tinha uma operadora, a Salute Turismo, de São José do Rio Preto, e era diretor da Aviesp na época. “Mas eu busquei aprender português muito antes, pois via o potencial do mercado brasileiro. O SeaWorld recebia pequenos grupos de ingleses e brasileiros, e não havia um trabalho de treinamento cultural para receber esse público. Hoje somos um hub internacional, vemos e vivemos a diversidade nos parques, temos trabalho para os visitantes com necessidades especiais, todos são bem-vindos de forma muito personalizada e foi muito gratificante fazer parte e acompanhar essa evolução”, conta ela, mãe de um integrante do espectro autista.

O começo

Ingressos físicos que ficavam em um cofre em Miami, onde os guias passavam para buscar (alguns iam pelo correio). Grupo levados pelas pioneiras Stella Barros e Tia Augusta. América Latina ainda vista como algo distante. O começo foi desbravador, mas rendeu muitas histórias e experiências.

PANROTAS / Marluce Balbino
Lisha Duarte
Lisha Duarte

A aproximação com o Brasil se deu via outros pioneiros do setor: Carlos Lima, da Leaders in Travel, tinha escritório em Miami e ajudou bastante no começo, assim como Marcelo Leone, da Agaxtur, que também morava lá. Guillermo Alcorta, da PANROTAS, e Ricardo Román, da Interamerican, foram apresentados a ela por Fernando Conil ainda na década de 1980. “Todos grandes amigos até hoje. Lembro de chegar na casa do Ricardo Roman para um jantar, sem conhecer ninguém, e ser recebida muito bem por todo. Foi quando conheci a Gladys Roman também”, lembra ela.

O ano era 1987 e os contratos com as operadoras eram feitos à mão, com cópias coloridas de carbono, assinados no então Pow Wow, hoje IPW.

No parque, experiências completamente diferentes. “Acho que apenas os shows continuam os mesmos. O resto todo mudou”, diz. O relacionamento com a América Latina, segundo ela, foi o ponto de mudança em sua carreira, que a fez chegar a diretora sênior internacional de Vendas, cuidando de todos os mercados fora dos Estados Unidos. O primeiro deles foi a América Latina e as primeiras representações na Argentina e no Brasil.

Em 1989, a Anheuser-Busch, dona do Busch Gardens, em Tampa, e do Adventure Island, comprou o SeaWorld Orlando e assim nasceu um dos grupos mais fortes de entretenimento, hoje com quatro parques na região: SeaWorld Orlando, Aquatica, Discovery Cove e Busch Gardens Tampa Bay. Além de vários nos Estados Unidos, em destinos como Texas e Califórnia.

Evolução dos parques e do mercado

A primeira representação no Brasil foi com a South Marketing, de Newton Vieira, depois veio Jane Terra e há 14 anos o SeaWorld trabalha com a Imaginadora, de Ana Donato e Marjori Schroeder.

“Abrimos escritório em todo o mundo. Da Europa à China. E é gratificante ver que a América Latina, com a ajuda desses times, tem papel de destaque e a estrutura que merece, que lutamos para que tivesse”, diz ela.

Arquivo PANROTAS
Lisha Duarte
Lisha Duarte

“Nossos primeiros ingressos eletrônicos foram com a MMTGapnet, no Brasil, em 2001. Lembro de clientes que me apoiaram desde o começo, como a Ana Lucia, da NewIt Club, ou o pai da Viviane Fernandes da Via Ápia. Essas parcerias que conquistei fazem tudo valer mais a pena. A gente não tinha budget, mas queria apostar na América Latina, e a Marina Barros e o John de Denghy conseguiam os bilhetes na PanAm. Orlando foi um destino que se construiu junto. SeaWorld, Disney, Universal não como concorrentes mas como parceiros de destino. Foi muito bom fazer parte disso.”

Também a evolução dos parques SeaWorld foi acompanhada de perto por Lisha Duarte. “Sempre tivermos o trabalho de conservação, reabilitação e educação, mas isso ficava nos bastidores. Hoje o visitante exige isso e passamos a colocar esses trabalhos no centro da comunicação, ao lado do entretenimento. Você vai na montanha-russa Manta e aprende sobre as arraias. Todas as atrações estão relacionadas ao nosso trabalho de educação, reabilitação e conservação”, conta Lisha Duarte (que nas primeiras visitas ao Brasil ainda assinava Lisha Susbielles).

A executiva se mudou para Orlando no ano 2000, já casada com Eduardo, e já com o Brasil e a América Latina tendo papel de destaque nos parques do destino.

Divulgação/Imaginadora
Lisha com o time da Imaginadora e Lucas Chumbo na WTM Latin America
Lisha com o time da Imaginadora e Lucas Chumbo na WTM Latin America

Crises e crescimento

As diversas crises (econômicas, mundiais ou do próprio parque) nunca desanimaram Lisha. E sim a fizeram crescer e aprender mais. “Vivi experiências incríveis nesses 38 anos, viajei, inaugurei atrações, desenvolvi mercados, mas as crises também foram importantes, os desafios nos ajudam a crescer”, afirma.

Arquivo PANROTAS

Ela lembra que na crise de 11 de setembro de 2001, teve tempo para desenvolver os ingressos eletrônicos. Nas crises econômicas do Brasil, trabalhava de forma mais criativa com os operadores. A pandemia, para ela, foi a pior de todas, com os parques fechados e as pessoas em casa. “Mas sobrevivemos juntos e saímos mais fortes.”

O lado engraçado inclui os americanos espantados com os biquinis das brasileiras nas atrações aquáticas. Ou os latinos reclamando do menu dos parques. Tudo isso era questão de aprender com as diferentes culturas e transformar os parques realmente em um local de bem receber a todas as nacionalidades, culturas, hábitos...ser um local com respeito à diversidade.

A diretora da Imaginadora, Ana Maria Donato, falou à PANROTAS sobre o convívio com Lisha Duarte:

"Lisha é um ser humano iluminado, daqueles que agradecemos termos encontrado. Gosta e entende de gente, por isso sabe liderar e motivar times como raramente ví, presenciei ou ouvi falar. Tenho a certeza que deixa um legado profissional e de amizade em vários países. Eu, especialmente, tenho muita gratidão pela Lisha. Logo no início da Imaginadora, nos deu a chance de representar SeaWorld, o que foi fundamental para nossa decolagem como empresa. Estou feliz pela linda história que Lisha escreveu junto com meu time. Só admiração".

Ana Maria Donato
Arquivo PANROTAS
Lisha Duarte com Marjori Schroeder e Ana Maria Donato, da Imaginadora
Lisha Duarte com Marjori Schroeder e Ana Maria Donato, da Imaginadora

Adeus ao Turismo?

De jeito nenhum. Lisha quer aproveitar todo seu conhecimento e continuar ajudando empresas e profissionais no Turismo. “Eu trabalho desde os 14 anos. Vai ser um desafio desacelerar, mas não vou parar. Não estou dizendo adeus. Nossos caminhos vão se cruzar muito, vou passar mais tempo inclusive no Brasil, por conta do trabalho do Eduardo. E construí relacionamentos no Turismo que são para toda a vida”, garante.

Mas ela não tem planos concretos ainda. Quer dizer, uma viagem de 20 dias para a Europa em setembro e uma temporada no Brasil no final do ano já estão certas. Depois disso, as oportunidades e os frutos dos relacionamentos no setor vão falar por si só.

Enquanto isso vai curtir muito a família (o marido, Eduardo, os filhos Brian, Carolina e Renata e as netas Vitória e Alice) e os amigos. É hora de descompressão, garante ela. E Lisha está muito feliz com isso.

“Não posso terminar essa entrevista sem dizer do orgulho de ter participado dessa jornada no SeaWorld, de ter construído essa estrutura internacional, especialmente no Brasil e na América Latina, e dizer que vou levar esses relacionamentos comigo para toda a vida. Só posso agradecer à Ana, Marjori, Leo, Juliana e Cristina, da Imaginadora, à Diana, ao Guillermo Alcorta e a você, Artur, todo time da PANROTAS sempre muito profissionais comigo, Ricardo Roman, Jane Terra, Newton Vieira, meu primeiro representante, ao Marcos Barros, da Universal, Martin Diniz e Renato Gonçalves, que trabalharam comigo, Ana Lucia Lima, Maria Lucia, da Nice Via Ápia, Marina Barros, ao Visit Orlando, Brand USA, Visit Florida, Experience Kissimmee, aos amigos da Disney e tantos e tantos que estiveram comigo nesses anos. Muito obrigado e com certeza nossos caminhos vão se cruzar em breve.”



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