Da Redação   |   21/09/2020 17:29
Atualizada em 21/09/2020 17:38

Orçamentos hoteleiros: o que esperar de 2021?

Diretor da HotelInvest, Pedro Cypriano dá sua visão da hotelaria para os próximos meses

ARTIGO

“Orçamentos hoteleiros: o que esperar de 2021?
Pedro Cypriano, managing partner da HotelInvest
pcypriano@hotelinvest.com.br

Setembro é o mês em que a hotelaria tradicionalmente define os orçamentos para o ano seguinte, tarefa que nunca foi fácil e hoje é ainda mais desafiadora. Sim, a incerteza e a volatilidade são grandes, porém, analisar o potencial de resultado do hotel é essencial para inúmeras decisões estratégicas e operacionais.

Então, o que esperar de 2021?

Apesar de ninguém ter uma resposta definitiva para essa pergunta, algumas análises podem nos ajudar nessa difícil missão. Vamos lá.

Divulgação
Pedro Cypriano
Pedro Cypriano
1) No Brasil, busca por hotéis no Google cresce e está acima de 50% do período pré-crise

Entre abril e agosto, as buscas por hotéis no Google cresceram em média quase 25% a.m., acima da busca por passagens aéreas (+13% a.m.) em razão da maior procura por viagens regionais, especialmente as de lazer. Com o controle da covid e o aumento da confiança da população, é natural que a curva continue ascendente e as conversões em reservas se intensifiquem.

2) Para 2021, espera-se recuperação mais clara do mercado aéreo
Oficialmente, representantes do setor aéreo anunciam uma expectativa de retomada de operação de até 65%-70% em dezembro de 2020, para o mercado doméstico. Para a FGV, é possível que cheguemos ao final de 2021 em volumes de produção próximos aos de 2019. Se a previsão for alcançada, é natural que parte expressiva das viagens também reintegre o mercado. Cuidado! A curva de recuperação não será idêntica para todos os destinos. Para a demanda internacional e de eventos, o ritmo de crescimento será mais lento e certamente se estenderá também por 2022.

3) Intensificação das atividades de eventos é pouco provável ao menos até o primeiro trimestre de 2021
Em pesquisa internacional com mais de mil profissionais de eventos, realizada pela revista Skift, a maioria dos respondentes indicou ser pouco provável uma retomada expressiva da atividade de eventos até o primeiro trimestre de 2021. Para mais da metade dos profissionais, a disponibilização de vacinas é importante para que novos eventos presenciais sejam planejados.

4) Recuperação de ocupação no interior será mais rápida
Na quase totalidade dosEestados do Sul e do Sudeste, as cidades do interior apresentam recuperação mais rápida de ocupação, em até 15 p.p. acima das capitais, segundo dados de julho do Fohb. A predominância de empresas de pequeno e médio portes, além do acesso majoritário rodoviário facilitam a reativação de demanda nas cidades menores com atividade econômica relevante.

5) Não analise apenas valores médios, a realidade de cada hotel pode ser distinta
A dispersão de performance dos hotéis em um mesmo destino pode ser grande. Fatores como localização, força de marca, perfil de produto e posicionamento de mercado podem “descolar” o desempenho de uma propriedade em comparação com os competidores. Os valores de ocupação de 25% dos hotéis que melhor performaram em julho no Rio de Janeiro chegaram a superar em mais de 15 p.p. a mediana da cidade, segundo dados do Fohb.

6) Para além do potencial econômico, o controle da covid será o principal driver de recuperação da hotelaria em curto prazo
Para uma recuperação mais clara do mercado hoteleiro, é fundamental que as curvas de contágio e de óbito entrem em uma tendência clara de queda, o que ainda não aconteceu. Adicionalmente, a tão esperada vacina é essencial para uma recuperação total do setor. E não apenas a descoberta, mas também a produção, a imunização da população e a certeza sobre a sua eficácia. Em um estudo elaborado pelo Bank of America com grandes laboratórios globais, estima-se que apenas o período de vacinação da população deva se estender pelo segundo trimestre de 2021.

Mas a final, o que esperar de 2021?
Certamente um ano melhor que 2020, mas abaixo de 2019 e não igual a todos os perfis de cidade e ativos, com alta dependência dos desdobramentos da covid. Entre as inúmeras incertezas, alguns direcionamentos mais prováveis:

  1. Lazer regional seguirá forte, em especial nos destinos próximos a grandes emissores de demanda.
  2. Lazer nacional também crescerá, mas depende mais da retomada de confiança nas viagens aéreas.
  3. Eventos devem ganhar força no segundo semestre, após a imunização da população e a confiança na eficácia das vacinas.
  4. Ocupação no interior será acima das capitais, ao menos em destinos pujantes economicamente.
  5. Recuperação mais longa em hotéis sofisticados, ao menos nos mercados urbanos e com dependência maior de eventos.
  6. Sensível diminuição da oferta. Fechamentos já em andamento, especialmente no interior e em hotéis com alternativa de uso residencial.
  7. Busca de estabilidade em preços. Ocupações em recuperação limitam o potencial de tarifa do setor.
  8. Resultados ainda modestos na média do ano. Potencial de lucro mais expressivo no segundo semestre.
E entre as maiores dúvidas, fica a esperança de uma imunização rápida da população e a intensificação das viagens corporativas também das grandes empresas pelo País.”

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