Artur Luiz Andrade   |   05/04/2022 08:14

Conheça os planos da nova concessão do Parque Nacional de Iguaçu (PR)

CEO do Grupo Cataratas fala do novo modelo de contrato e das novas atrações do parque

Divulgação
Cataratas do Iguaçu
Cataratas do Iguaçu
Se a próxima fronteira do Turismo é o desenvolvimento e expansão do sistema de parques naturais, o Parque Nacional de Iguaçu, no Paraná, sai na frente por dois motivos: é um case de sucesso e um pioneiro no programa de concessões do governo federal (lá nos idos de 1998) e acaba de passar por um novo processo de concessão, mais moderna e com contrato menos amarrado, que coroou o consórcio Novo PNI, formado pelo Grupo Cataratas (atual concessionário) e a Construcap, que, por meio da marca Urbia, começou a atuar no segmento com a administração dos parques de Aparados da Serra (RS) e do Ibirapuera, na capital paulista.

O CEO do Grupo Cataratas, Pablo Morbis, falou com exclusividade à Revista PANROTAS apenas dois dias depois do anúncio da vitória do consórcio Novo PNI e promete uma experiência mais imersiva e diversa dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Entre os projetos estão novas trilhas, novas atividades e equipamentos (por exemplo, para o Turismo de Aventura), 100% de acessibilidade, um teleférico, maior proximidade com a natureza, mais três polos de visitação, ciclovia e o estudo para ampliar a hospedagem no parque (do glamping a um novo hotel, tudo é possível). Tudo, segundo Pablo, mostrando a harmonia do Turismo com a conservação e o desenvolvimento das comunidades do entorno (as duas novas áreas de exploração, por exemplo, ficam em municípios vizinhos).

O investimento previsto em 30 anos é de R$ 3,6 bilhões e a proposta vencedora arrematou a concessão do parque por R$ 375 milhões (ágio de 350% em relação à proposta inicial de R$ 83,4 milhões). Somente na requalificação das trilhas e criação dos novos polos de visitação serão investidos mais de R$ 500 milhões.

FOI POSSÍVEL
A primeira fase da concessão, que começou em 1998, mostrou que é possível que Turismo e Meio Ambiente andem juntos e se beneficiem um do outro. Agora, o Parque Nacional do Iguaçu quer ir além e virar referência mundial. O contrato novo permite mais liberdade comercial e o consórcio vai atrás de todas as possibilidades. Para Pablo Morbis esse é o momento de Foz do Iguaçu e dos parques naturais do Brasil.

“Governos municipais, estaduais e federais estão falando de Turismo e estão com os parques naturais no radar. O BNDES tem 54 projetos e linha de crédito, o que deu mais profissionalismo ao setor. Quando começamos ninguém olhava para esse setor, que é vocação do Brasil, o Turismo de natureza”, analisa o CEO do Grupo Cataratas. Para ele, não tem cabimento o Brasil não explorar esse Turismo de natureza (que é diferente de ter belezas naturais) e mais ainda estar em segundo lugar, perdendo para o México, em competitividade na área de atrativos naturais. “O México que me desculpe, a Costa Rica idem, mas não tem comparação. O Brasil é líder em atrativos naturais e estamos apenas começando a estruturar esse setor, a vender o Turismo de natureza como já fazem muito bem os Estados Unidos, a África do Sul e a própria Costa Rica. É um projeto de longo prazo, mas os frutos vêm”, disse o líder do Grupo Cataratas, que também tem negócios em Fernando de Noronha e no Rio de Janeiro.

E entre esses frutos estão a maior permanência no destino Foz do Iguaçu, mais experiências dentro do parque, mais renda e desenvolvimento para o destino, mais investimentos em preservação e proteção ambiental.

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Pablo Morbis, CEO do Grupo Cataratas
Pablo Morbis, CEO do Grupo Cataratas
ENTREVISTA
Confira a seguir parte do bate papo com Pablo Morbis, que ocorreu no Sindepat Summit, em Gramado (RS).

PANROTAS – Antes de entrarmos nos planos desse novo contrato de concessão, como você define a fase que termina agora e na qual você disse que atuou por muitos anos sozinho e isolado?
PABLO MORBIS – Conseguimos estabelecer um case de sucesso, apesar de todas as dificuldades de contrato, que foi um dos primeiros contratos de concessão no Brasil – não apenas de Turismo, mas de todas as áreas. A Lei de Concessões é de 1996. Em 1998 o Ministério do Meio Ambiente faz a primeira concessão de um parque natural (o de Iguaçu), quase junto com as rodovias. Então, foi um dos primeiros contratos e era muito engessado, não trazia liberdade comercial. Era um contrato que regulava demais, com preço controlado, você não podia ter política comercial. Apesar de todas as dificuldades, foi um case de sucesso que provou que era possível aliar Turismo, licitação pública, ordenamento, experiência e qualidade de visitação com a conservação. Acho que maior resultado que temos é esse: um case de sucesso que mostrou que era possível fazer. Quantas vezes tivemos diversos visitantes que ficaram impressionados com a estrutura do parque. O nome do novo consórcio, com a Construcap, é o Novo PNI, porque queremos ir para um 2.0 que vai ser sensacional e que vamos lutar para que o parque seja referência mundial.

PANROTAS – Você tem que referências quando traça essa meta? Os parques americanos são o grande exemplo?
PABLO – Sim, são. Os parques da África do Sul, da Costa Rica também, mas os Estados Unidos têm parques, como o Yosemite, que é excepcional, e isso foi incorporado à cultura do americano. O americano tira férias e vai acampar em um parque nacional, isso ainda não temos. A gente como destino turístico trabalhamos pouco nosso principal talento que é a beleza natural.

PANROTAS – Esse novo contrato e modelo de concessão destrava um monte de amarras e abre novos caminhos. O gargalo continua na infraestrutura?
PABLO – No nosso caso, acho que não. Foz do Iguaçu é a bola da vez no Turismo. O trabalho que Gramado fez de forma brilhante nos últimos dez, 15 anos, agora está sendo feito em Foz do Iguaçu. Foz hoje tem mais de R$ 1 bilhão em investimento público sendo realizado e outro R$ 1 bilhão vindo da iniciativa privada. Temos uma nova ponte ligando Brasil e Argentina, o aeroporto foi todo reformado e ampliado, incluindo a pista e o terminal, a CCR tem um compromisso de buscar mais voos, novos mercados, em uma malha aérea mais consistente, o anel viário de Foz vai trazer mais facilidade ao transporte rodoviário, enfim, uma série de investimentos público, que o privado acompanhou. Você não se hospeda em um hotel em Foz hoje que não esteja em fase de ampliação ou que não tenha sido renovado. Fora os novos projetos, novos parques, teve agora a roda gigante, outras atrações. Temos um novo Marco das Três Fronteiras. Ou seja, tudo isso vai render bons frutos à frente.

PANROTAS – E o que você já pode adiantar dos planos para essa nova fase de concessão? O que vai ser feito de imediato, que novos produtos e experiências o parque vai oferecer?
PABLO – São dois os principais fatores que vão fazer com que as novas atividades, produtos e serviços funcionem. Uma maior integração do parque, pois o novo contrato traz mais três núcleos de visitação dos municípios lindeiros (vizinhos). Mas mesmo no núcleo Cataratas, que recebe dois milhões de visitantes, haverá maior integração e maior imersão ao parque. Esses dois milhões, até hoje, chegam, pegam um ônibus, visitam as trilhas das Cataratas, almoçam, compram algo e vão embora. Parte ainda fazia o Macuco. Vamos buscar encher todo o Núcleo Cataratas com atividades, de forma que a pessoa tenha uma imersão muito maior não só nas Cataratas, mas no parque nacional como um todo. O parque nacional é de uma beleza ímpar, com um rio lindo, que é possível explorar inclusive serviços náuticos. Podemos fazer atividades hoje não oferecidas, melhorando e aumentando a experiência de visitação, aumentando a permanência média no parque nacional, com uma conexão mais vibrante com a natureza. E mais tempo no destino como um todo, com toda a cadeia do Turismo se beneficiando.

PANROTAS – Esses três novos núcleos vão se transformar em que tipo de passeio?
PABLO – Eles ficam em outros municípios. Não é visita para fazer no mesmo instante. São passeios de um dia. Vai ter trilha que leva até cachoeiras, uma pegada mais natural, focada nessa conexão.

PANROTAS / Marcel Buono
Macuco Safári
Macuco Safári
PANROTAS
– Em relação a novas atividades, o que podemos esperar?
PABLO – A gente tem no plano de negócios um item obrigatório que é um teleférico, que vai ligar o Centro de Visitantes até a Usina São João, que é uma área que pretendemos revitalizar também; pretendemos criar alguns núcleos de esporte e aventura, inclusive um parque de aventura; uma parte de contemplação daquela mata virgem à beira do rio; diversas novas trilhas, com mais conforto, com acessibilidade 100%. Vamos para um novo nível de qualidade no parque de Iguaçu.

PANROTAS – Há planos para mais opção de hospedagem?
PABLO – Estamos avaliando ainda. É possível, pelo novo edital, mas ainda não temos uma posição clara sobre isso.

PANROTAS – E acampar no parque, como é possível nos Estados Unidos?
PABLO – Um glamping faz todo o sentido. Mas ainda vamos estudar bastante este ponto de hospedagem. Também teremos um novo sistema de transporte, mais imersivo, limpo. Vamos promover o uso de bicicleta no parque, temos ciclovia. E a questão da inserção da tecnologia. Ser um parque figital. Você conseguir transformar o ativo natural físico em um ativo digital também, de forma que a visita tenha uma imersão tecnológica, que um app consiga facilitar a vida dos turistas.

PANROTAS – Pensam em imersões guiadas, por exemplo, como na África?
PABLO – O Turismo na África é muito focado na vida selvagem animal. É para ver bicho. Em Iguaçu é uma pegada mais de natureza, obviamente com a maravilha da queda das águas, mas com menos contato com a vida selvagem. Não é o objetivo da visita.

PANROTAS – O mercado vendedor, o trade, está preparado para este novo momento dos parques naturais no Brasil?
PABLO – Não tenho menor dúvida. Pelo fato de o contrato anterior ter sido tão engessado, todo o trade turístico tem a exata noção do potencial dos produtos que podem ser gerados ali e acho que o mercado vai receber muito bem esses novos produtos, que serão uma fonte de renda adicional. O mercado está preparado, mas é claro que transformar uma visita de três horas em uma visita de um dia inteiro ou dois dias vai levar um tempo. Passa por treinamento, cultura, aumento do tempo de permanência no destino...Tudo isso tem de ser trabalhado, mas o trade está preparado para isso. E o próprio visitante que quer essas experiências.

PANROTAS – Como é a relação com o parque argentino?
PABLO – Uma relação boa, acho que uma visita completa passa pelos dois lados. Temos que cada vez mais trabalhar produtos para que o visitante tenha essas duas visões e culturas. Existe uma relação ganha-ganha, vamos sentar com o lado de lá e buscar essas formas de parceria, sem dúvida nenhuma. É uma visita super bacana, vale como experiência completa ao visitante fomentar a ida ao lado argentino.

CLIQUE AQUI E LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA REVISTA PANROTAS, ONDE PABLO TAMBÉM AVALIA A ATUAÇÃO DO GRUPO CATARATAS NO RIO DE JANEIRO E FERNANDO DE NORONHAS E FALA COMO OS PARQUES EM TODO O BRASIL PODEM LEVAR DESENVOLVIMENTO PARA DIVERSAS CIDADES.

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