Felipe Niemeyer   |   11/06/2009 13:16

Interação marca dabate na CNC sobre aviação

O Conselho de Turismo da CNC deu seguimento ontem ao debate sobre o futuro da aviação comercial brasileira.

O Conselho de Turismo da CNC deu seguimento ontem ao debate sobre o futuro da aviação comercial brasileira, iniciado no último dia 27 com a palestra do brigadeiro Allemander Pereira Filho, no Rio de Janeiro. No encontro de ontem, o brigadeiro Pereira Filho interagiu com os membros do Conselho por meio de perguntas e respostas sobre o trabalho apresentado na reunião anterior, quando tratou-se da liberdade tarifária e seus reflexos no turismo. Allemander deixou claro que, em seu ponto de vista, a tendência é de que as companhias aéreas brasileiras desapareçam do mercado de longo curso e o setor fique nas mãos das companhias internacionais. Veja abaixo algumas das perguntas e respostas apresentadas:

Harvey Silvello - Como ficará a participação das aéreas brasileiras no mercado de longo curso a partir da implantação total da liberdade tarifária?
Pereira - a tendência é de que as brasileiras desapareçam. Só temos uma empresa operando no mercado de longo curso e ela não tem as mesmas vantagens competitivas que as estrangeiras, como economia de rede e ganho em escala. Já vimos casos como os da Vasp, Transbrasil, e, mais recentemente, da Varig e da BRA. Vamos ficar sob a decisão de mercado das estrangeiras.

Harvey Silvello - Quando o Congresso deve tratar do tema?
Pereira - Em 12 meses (tempo para implementação da liberdade total) é impossível. O Congresso tem que ver os impactos antes para começar a reagir. Ninguém discute se a liberdade deva ou não ser adotada, mas questiona-se se o momento é adequado e se o tempo dado suficiente para as empresas se adaptarem. A grande motivação do governo nesse sentido é que estão cumprindo o que determina a lei da Anac.

Harvey Silvello - Quais os efeitos sobre a economia brasileira?
Pereira - Adotar a liberdade tarifária em tão pouco tempo é um salto no escuro. Ainda não dá para avaliar. Mas esse processo tinha que ser gradual.

Eduardo Genner - O momento para implementação da liberdade foi o pior possivel. Não há como fazer o governo voltar atrás. O problema agora é convencer o governo a fazer algo para minimizar os impactos para as companhias nacionais, e ajudá-las a se tornarem mais competitivas. Temos que trabalhar alternativas e mudar o enfoque da discussão se queremos criar subsídios para o governo que sejam possíveis de colorarmos em prática.
Pereira - Ninguém propôs retrocesso. Mas 12 meses é pouco até para uma reação nesse sentido. Precisamos de tempo, pois sabemos que a justiça é lenta e essas dificuldades poderão ser intransponíveis para as companhias brasileiras.

Brigadeiro Gandra - Comente um pouco sobre o aspécto do turismo.
Pereira - Em um ano passamos de 250 frequências semanais de longo curso para 497. Quase dobramos a oferta. Esse excesso de oferta é tão danoso quanto a concorrência predatória.

Luiz Brito - Já estamos sob a égide de céus abertos no Brasil?
Pereira - Tres aspectos definem os céus abertos: a capacidade, o preço e a propriedade da empresa (controle). Em relação à capacidade, nós dobramos a oferta em um ano, em relação ao preço, já instituimos a liberdade tarifária e, em relação ao controle, já se discute o aumento da participação de capital estrangeiro de 20% para 49%. Oficiosamente, já estamos trabalhando céus abertos.

Luiz Brito - Há um prazo para que as companhias brasileiras desapareçam do segmento de longo curso?
Pereira - Difícil saber. Mas em um ou dois anos as brasileiras definem se continuarão operando no internacional. Isso depende também do seguimento da crise econômica. Mas em pouco tempo podemos começar a pensar na aviação omercial brasileira de longo curso cmo coisa do passado.

José Antônio de Oliveira - Caso as brasileiras se desinteressem pelo mercado de longo curso, é possivel que seja criada uma estatal para suprir esta lacuna?
Pereira - Não acredito que o governo criaria uma estatal para sustentar isso. É uma questão de custos e concorrência. Mas acredito que é possivel ser criada uma estatal para operar no mercado interno.

Trajano Ribeiro - Acredito que vamos ter que caminhar para a criação de uma estatal para sustentar o mercado de longo curso. Nenhuma companhia brasileira tem condições de concorrer com uma estatal alemã, americana ou européia, por exemplo.
Pereira - Esta pode ser uma saída mais adiante. Vemos isso claramente na Argentina, com a Aerolíneas.

João Flávio Pedrosa - Qual seria a solição para mantermos as empresas de bandeira nacional?
Pereira - Temos que ter tempo para pensar. O governo deveria parar a introdução da liberdade tarifária antes de atingir os 50%. A partir desse limite, já considero um salto no escuro para o mercado brasileiro. Teriamos que consultar o Congresso para, a partir daí, estudarmos reações ao impacto real da medida.

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