Artur Luiz Andrade   |   02/01/2010 11:22

O fator uau!: os fogos do Rio vistos do mar

Direto do CVC Soberano, como é ver o Réveillon da Cidade Maravilhosa de novo ângulo, por trás dos fogos, tendo Copacabana como background

(Antes de mais nada, feliz 2010, e vejam mais fotos no álbum anexo)

O Réveillon do Rio faz parte de minha vida desde que nasci (e lá se vão 40 anos) e é, por isso e também muito além disso, um dos maiores e mais impressionantes eventos do planeta. O ritual da festa até hoje é um dos filmes que guardo por inteiro na memória: primeiro, observar da janela do prédio a multidão de branco se dirigindo, como em romaria, com alegria e tranquilidade, para a avenida Atlântica. Depois, descer e fazer parte dela. No caminho, comprar flores. Ou uvas verdes para a simpatia. Tem também quem prefira a romã.

Ao chegar na praia, ficar boquiaberto com a quantidade de gente que ocupa as calçadas, o asfalto e a areia. O branco domina, mas há um amarelo aqui e ali, um azul e um vermelho que enriquecem a força do branco. Em seguida caminhar, cumprimentando conhecidos e amigos e observando a movimentação das mães de santo, as oferendas no mar, os grupos animados, os casais, as crianças, os idosos sentados em cadeiras de praia, as famílias com seus isopores cheios de comida, as caravanas de todo o Brasil.

Na hora dos fogos, risos, interjeições de espanto e encantamento, abraços, beijos, desejos de um feliz ano novo. E uma corrida para pular as sete ondas. Nas décadas de 70 e 80 nem de shows precisávamos. Eram os fogos e a energia positiva daquela multidão. Era o congraçamento com conhecidos e estranhos. Era fazer parte de um evento espontâneo e inacreditavelmente belo. E isso, a quarteirões de casa, na praia que frequentava todos os dias (afinal, dezembro é mês de férias...).

Os anos se passaram, os megashows chegaram (teve homenagem a Tom Jobim, teve os velhos baianos...), a mídia mundial aumentou o foco na cidade, os fogos foram para o mar (e jamais reviveremos a emoção de vê-los estourar e explodir, colorindo o céu bem acima de nossas cabeças), os navios viraram novos adereços na orla, mas a emoção e a unicidade da festa (dois milhões de pessoas sem tumulto e com muita alegria) continuam as mesmas.

Nas décadas de 90 e 00, incluindo minha mudança para São Paulo, continuei acompanhando a festa (com algumas faltas) de lugares diversos: uma vez reservamos um apartamento no Rio Othon Palace (foi o último ano dos fogos na areia), outra vez subi no topo do hotel Excelsior, já vi os fogos do alto do Corcovado e do Pão de Açúcar (neste último, como ontem, uma nuvem cobriu boa parte do espetáculo, mas deu para ver a maravilha que é mesmo assim) e outras vezes voltei às origens – a areia da praia, que continua imbatível. De todos os lugares, um dos dois maiores shows da terra (disputando com o carnaval carioca, claro).

Este ano, resolvi apostar em um ângulo totalmente novo e, a bordo do CVC Soberano, navio da Pullmantur que a CVC Cruzeiros freta, e assisti ao show bem em frente ao Copacabana Palace, só que no meio do oceano. Estávamos a cerca de dois quilômetros da praia e conseguíamos ouvir o som do palco que estava em frente à avenida Princesa Isabel. O navio fica fundeado e vai virando de acordo com o vento. À meia-noite, ficou de um jeito que os dois lados da embarcação conseguiam ver boa parte da orla, e o show inteiro. Da parte de simpatias, pelo menos pulamos sete milhões de onda, ou quase isso.

Foi fantástico e emocionante. No navio, a animação das bandas e da equipe comandada por Alexandre Sadan, que faz a diferença em um cruzeiro; a emoção dos tripulantes (todos com máquinas) e muitos em suas folgas, mas ainda com os uniformes de trabalho; a excitação dos turistas. Fiquei entre um casal de jovens e um de idosos e não sei dizer quem eram os mais apaixonados, felizes e encantados. A cada explosão, gritos dos passageiros. A cada novo desenho que se formava, flashes de todos os lados.

Atrás dos fogos, Copacabana, toda iluminada, majestosa, muito mais que princesinha, uma rainha verdadeira, a mais brilhante, a mais feliz.

Em volta do navio havia várias embarcações, de todos os tamanhos, e mais sete transatlânticos. Uma cena me chamou atenção: um pequeno veleiro, pequeno mesmo, com dois ocupantes. Um sentado, observando o show e tomando conta de manter o barco na direção certa, e o outro deitado, de barriga pra cima, olhando a lua, cheia, que surgiu na hora certa. Taí uma experiência que tenho de anotar na minha agenda de futuros réveillons no Rio.

No Soberano, a festa continuou no deque da piscina, com bandas ao vivo, telão e todo mundo fantasiado com adereços distribuídos pelos tripulantes. E muita champanhe (e outros bebidas, já que o cruzeiro é all inclusive – mas não vi, até agora, nenhum excesso. Só alegria). As bandas do Soberano, aliás, fazem a diferença. Músicos e cantores de altíssimo nível.

Ontem passamos pela Baía de Sepetiba, na ilha privativa da CVC, nossa última parada antes de Santos (as notícias da tragédia em Angra dos Reis pegaram todos de surpresa e foram uma nota triste na sexta-feira).

A experiência de ver o Réveillon do Rio do mar foi exatamente o que eu esperava, só que muito mais bonita (ou seja, conseguimos o fator uau!).

Essa década que começa é, sem dúvida, de todos os
brasileiros, e os cariocas com certeza ajudarão a torná-la mais bela, alegre e vitoriosa. De qualquer ângulo. Salve 2010.

Artur Luiz Andrade
editor-chefe

Fotos: Jaime Scatena

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