Fátima Gatoeiro   |   26/06/2009 15:54

Rafael Guaspari (Fohb) sai em defesa dos apart-hotéis

O presidente do Fohb, Rafael Guaspari, repercute artigo do presidente da ABIH-Nacional, Álvaro Bezzerra de Mello, contrário à proliferação de apart-hotéis no Brasil

O presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), Rafael Guaspari, escreveu hoje um artigo que repercute anterior enviado pelo presidente da ABIH Nacional, Álvaro Bezerra de Mello (clique aqui para ler), e que condena a proliferação de apart-hotéis no País, a falta de legislação para o setor, e apresenta o exemplo do Rio de Janeiro, que estabeleceu regras rígidas para preservar a hotelaria.

Leia abaixo a íntegra do artigo de Guaspari:

O Rio de Janeiro tem que acordar!

Ao longo dos últimos anos temos assistido a uma interminável sucessão de manifestações dos setores mais conservadores da ABIH se opondo ao modelo de negócios e formatação jurídico-financeira de desenvolvimento hoteleiro que mais resultados produziu no Brasil.

No final dos anos 90, com diárias médias ao redor de R$ 300, ocupações muito altas, consumidores insatisfeitos e nenhum movimento dos hoteleiros de então para aumento da oferta, investidores muito mais criativos e arrojados voltaram seus olhos para o setor e passaram a desenvolver empreendimentos que vieram substituir os antigos e defasados hotéis, rejuvenescendo a indústria e ampliando a oferta.

Utilizando a plataforma jurídica do condomínio, empreendimentos modernos, tecnologicamente equipados, contemporâneos e competitivos foram construídos com recursos da iniciativa privada e deram uma nova face ao parque hoteleiro nacional. As cidades de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Manaus e Brasília, apenas para citar algumas, se beneficiaram com os apart-hotéis, recepcionando de braços abertos tais empreendimentos, que em nada se equiparam, salvo poucas exceções, aos hotéis defasados, ineficientes e caros, que formavam a oferta nacional no final dos anos 90 e ainda comuns no Rio de Janeiro, cidade que não permite este tipo de formatação. E quem diz isto não sou eu e sim os hóspedes que lá se hospedam.

Hoje não podemos mais aceitar a visão que o presidente da ABIH Nacional, tradicional hoteleiro carioca, tem dos apart-hotéis, quando os define como “apartamentos no estilo quarto e sala” ou os qualifica, pejorativamente, como “verdadeiras cabeças-de-porco no meio de bairros nobres das cidades”, e “sem suficientes vagas para estacionamento”. Esta manifestação, além de desqualificar os apart-hotéis administrados por ele através de sua empresa, desrespeita também todos os investidores em apart-hotéis e as redes hoteleiras que os administram, muitas delas com seus empreendimentos afiliados a ABIH.

Apenas a título de comparação, o número de vagas médio em meios de hospedagem em São Paulo é de 0,67 vagas por apartamento, em Goiânia, 0,55, em Fortaleza 0,28 enquanto que no Rio de Janeiro observamos que a disponibilidade média de vagas é de apenas 0,16 por apartamento.

O que pude apreender de tais manifestações é que nenhuma tem como objetivo o bem comum, a diversificação de ofertas aos consumidores, o incremento do turismo brasileiro, a circulação de riquezas, a geração de empregos e a melhoria da qualidade de vida no Brasil. Ao que parece, o objetivo de referidas declarações é dificultar a entrada no mercado de novos players, criando uma espécie de reserva de mercado.

Apesar de não ter a natural vocação turística da Cidade Maravilhosa, São Paulo tem uma nova e moderna oferta de hospedagem, que conta com 44 mil quartos, dos quais 30 mil têm formatação apart-hoteleira. Só um parque assim poderia dar o suporte para os 600 mil m2 de espaços destinados a feiras, eventos e convenções que têm a capital paulista, o que possibilitou que a mesma se firmasse como uma das capitais mundiais de eventos. Tal transformação só foi possível em razão de um eficiente trabalho conjunto feito pela Prefeitura e Câmara Municipal, SP Turis, SPCV&B, associações de classe, empresas hoteleiras e empreendedores. Atualmente São Paulo recebe 90 mil eventos por ano, que representam 75% do mercado nacional, movimentando quase R$ 3 bilhões, com empreendimentos convenientemente espalhados pela cidade e com uma diversificada gama de categorias e preços. O Rio de Janeiro, mantendo sua postura conservadora, conta com uma oferta de apenas 19 mil quartos, concentrada em poucas regiões, com preços altos e em sua maioria formada de empreendimentos defasados e ineficientes.

Com uma oferta hoteleira tão grande e diversificada, São Paulo consegue explorar todo o seu potencial turístico, pois além de feiras, eventos e convenções, a cidade se beneficia dos turistas que a visitam em busca de negócios, lazer, gastronomia, museus, teatros, compras, religião, esportes e saúde.

Como economista, aprendi que o mercado tem suas próprias regras e que individualmente pouco podemos fazer para mudá-las. Como empresário, aprendi que os momentos de boom devem ser aproveitados, senão por nós, seguramente por outros mais empreendedores. Como hoteleiro, vejo os enormes benefícios que os apart-hotéis trouxeram para a indústria do turismo, investidores, colaboradores, hóspedes, redes hoteleiras e cidades por todo o Brasil. E como brasileiro, que hoje vive num regime de liberdade e de livre concorrência amparada constitucionalmente, aprendi que as oportunidades existem para todos, basta saber aproveitá-las.

Espero que o Rio de Janeiro, uma das cidades escolhidas como sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014 e candidata a sede dos Jogos Olímpicos de 2016, democratize seu parque hoteleiro o quanto antes e modernizando-o também por meio de apart-hotéis empreendidos desenvolvidos sem qualquer recurso público, evitando, assim, sujeitar os visitantes e torcedores que vierem para tão importante evento, a uma hospedagem cara e defasada.

Rafael Guaspari
carioca, presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb) e vice-presidente sênior da Atlantica Hotels International


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