Felippe Constancio   |   09/08/2016 08:12

O que CEOs de hotéis pensam sobre terrorismo, zika e economia global

Se o consenso é de que os avanços serão vagarosos, todos concordam no grau de influência dos fatores adversos sobre o setor? Confira o que pensam as diretorias de algumas das maiores redes de hotéis do mundo

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Enfrentar tempos difíceis não é uma conjuntura exclusiva do Turismo, mas essa indústria se depara com fatores que incidem diretamente sobre seu ecossistema. Terrorismo, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, pandemias, a crise econômica mundial e até mesmo a corrida presidencial dos Estados Unidos são desafios a empresas que, na hotelaria, em especial, não estão nada dispostas a abrir mão de um futuro próspero.

Apesar da maioria dos CEOs de hotéis permanecer otimista em relação ao futuro de seus negócios no curto prazo, muitos têm feito revisão de cálculos, justamente por conta do atual cenário tanto político quanto econômico de grandes potências.

"A maioria das equipes de gerenciamento ainda fala de demanda baixa. As expectativas foram revistas para baixo, sendo que a previsão de crescimento lento mostra que a tendência é mesmo de morosidade", acredita o analista da Robert W. Baird, Michael Bellisario. Se os administradores estavam otimistas no último semestre, neste "a história é outra", frisa o executivo.

Se o consenso é de que os avanços serão vagarosos, todos concordam no grau de influência dos fatores adversos sobre o setor? Confira o que pensam as diretorias de algumas das maiores redes de hotéis do mundo:

TERRORISMO
A repugnante tática de guerrilha adotada por grupos fundamentalistas e simpatizantes hoje parecem fazer parte da normalidade. Apesar dos recentes ataques na Europa terem impacto imediato sobre o setor hoteleiro da região, a maioria dos CEOs acredita que o terrorismo não afeta suas estratégias como um todo.

"É claro que o terrorismo tem que ser levando em conta", aponta o chefe-executivo da Choice Hotels, Stephen P. Joyce. "Mas se você olhar para o histórico dos locais onde isso tem acontecido, infelizmente esses lugares estão acostumados com isso. Quando algo acontece, óbvio que há impacto imediato, mas depois as pessoas voltam ao cotidiano, vivendo, trabalhando e viajando. Então nossa posição é de que queremos ter certeza de que os hotéis estão seguros."

Joyce ressalta que recentemente a Choice Hotels selou diversos contratos na Europa e no Oriente Médio, incluindo Turquia, Alemanha, Hungria, Áustria e França - sendo que quatro hotéis na Turquia operam com taxa de ocupação na faixa dos 70%.

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Já o CFO do Hyatt Hotels, Patrick J. Grismer, vê uma série de cancelamentos nas reservas entre julho e agosto em Nice, na França, onde um homem conduzindo um caminhão fez 84 vítimas e feriu mais de 300 pessoas. Uma vez que tais mercados não são necessariamente os maiores da rede, o impacto negativo da baixa taxa de ocupação não têm afetado consideravelmente as finanças da companhia, ressalta Grismer.

O CFO do Rezidor Hotel Group, Wolfgang Neumann, contudo, traça um cenário mais pessimista diante do terrorismo na Europa, uma vez que a companhia tem hotéis espalhados pela Turquia, França e Bélgica."Os que mais sofrem são os mercados francês e belga. A ameaça contínua está certamente tendo consequências na Europa, uma vez que os viajantes evitam certos destinos atualmente. E ainda está para ser vista a velocidade com que esses mercado se recuperam disso".

A Accor também sente o peso dos ataques na Europa. Segundo o CEO da rede francesa, Jean-Jacques Morin, o impacto ainda acontece logo após a saída da Grã-Bretanha da União Europeia. "Mas a maior queda nos negócios foi em Paris, na primeira metade do ano, mas com a compensação de outras províncias do país. Ainda assim, precisamos de um tempo até estimar as reais consequências de Nice".


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PETRÓLEO

Preços mais baixos do petróleo significam mais viagens a lazer e margens maiores às linhas aéreas. Porém, o segmento das viagens corporativas é atingido, o que influi nos hotéis. Executivos das redes Wyndham, Intercontinental Hotels Group (IHG), Marriott e Rezidor disseram que os números do segundo trimestre mostram isso. A receita por quarto da Wyndham nos países produtores da commodity, por exemplo, despencou 16% no período.

No caso da IHG, o CFO Paul Edgecliffe-Johnson diz que o impacto é visto nos Estados Unidos e no Oriente Médio. "Neles, a receita por quarto caiu 6%. Entre os países não produtores (das Américas), a retração foi de 4%". Nos Emirados Árabes, a baixa foi de 8%.

Mas também há previsões mais otimistas que consideram o comportamento dos preços do petróleo, como a da Wyndham, que acredita que os mercados produtores terão melhora nos próximos trimestres por conta de quedas cada vez menores. Contudo, não há um consenso entre os investidores, segundo o analista Bellisario. Para ele, a diferença no otimismo entre eles e as redes na avaliação quanto à duração dos impactos da queda nos preços e pelo fato de alguns hotéis dependerem mais de viagens a lazer que outros.

ZIKA


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Diante das notícias da chegada do vírus a Miami e Porto Rico e das menores taxas de ocupação durante o primeiro trimestre em hotéis da América do Sul e do Caribe, naturalmente o zika seria tema das reuniões.

O CEO do Hyatt, Mark Hoplamazian, por exemplo, aponta que o problema de saúde pública que incide sobre as operações do Grand Hyatt do Rio de Janeiro se mistura ainda à volatilidade da economia brasileira em um momento de estreia. Em contrapartida, ele lembra o sucesso da unidade de São Paulo logo após um ambiente comparável ao atual, o de 2002. "Esperamos que o Grand Hyatt Rio tenha uma trajetória parecida ao longo do tempo."

A economia brasileira e o zika também tiveram efeito sobre os números da rede Hilton no segundo trimestre deste ano. "O Brasil continua sob pressão, dada a instabilidade política e econômica, ao passo que o medo em relação ao zika pesa nos resultados, o que mostra que a demanda do lazer é afetada na América Latina e em Porto Rico", pontua o CFO da Hilton, Kevin Jacobs.

BREXIT

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Na visão dos executivos, a expectativa no curto prazo é de flutuação da moeda britânica. Enquanto muitas hoteleiras não esperam muito impacto negativo como resultado do Brexit no curto prazo, o CFO da Accor Hotels acredita que a desvalorização da libra vai influenciar os lucros das empresas.

Apesar da IHG ser sediada no Reino Unido, o CFO, Paul Edgecliffe-Johnson, não acredita que o Brexit dificulte o andamento da indústria hoteleira local pelo fato de dois terços dos investimentos da companhias serem em moedas lastreadas ao dólar, enquanto 5% são em libras. "Mediante esse perfil, acreditamos que a atual flutuação cambial afete pouco nossos resultados."

Mesmo companhias com serviços predominantemente domésticos não se assustam com o Brexit. O CEO da Wyndham, Stephen P. Holmes, disse que a Europa conta por 13% da receita global da empresa, sendo a maior parte dela vindo de aluguéis de férias. "Deste percentual, 90% dos aluguéis para férias no Reino Unido são feitas por britânicos."

CENÁRIO ECONÔMICO

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Os CEOs e CFOs das grandes redes de hotéis obviamente esperam crescimento moderado no geral. Assim, as expectativas se voltam à economia dos Estados Unidos, que avançou 1,2% nos dois últimos trimestres, com diversas hoteleiras traçando perspectivas de acordo com os resultados referentes ao PIB do país.

O CEO da Choice Hotels, Joyce, é um dos otimistas, que vê nos números de empregados dos Estados Unidos um motivo para acreditar que mais pessoas viajarão.

Segundo analistas de mercado, a perspectiva é de crescimento da economia norte-americana em um ritmo moderado pelo resto de 2016 e sem riscos de queda. Para Bellisario, as marcas permanecerão atentas às ações do governo federal e ao andamento das eleições para presidente, "mas não esperam grandes mudanças".

"A oferta está aumentando e a procura vai devagar. Mas mesmo no curto prazo, este é o 'novo normal'. Os riscos são maiores e a economia é mais fraca hoje."

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