Roberta Queiroz   |   21/01/2016 15:35

Youtubers e blogueiros: por que as empresas apostam?

Saiba quando a estratégia é mais eficaz do que a publicidade tradicional

Turismo, moda, gastronomia, literatura ou matemática. Com certeza algum desses assuntos já te levou a apertar o play e dedicar alguns minutos, ou segundos, do seu dia a um vídeo que surgiu na timeline do Facebook. Se a informação foi útil, ou simplesmente engraçada, você deve ter procurado a autoria e se deparado com um blogueiro ou um youtuber seguido por centenas, quem sabe até milhares de pessoas.

O autor do vídeo, texto ou foto que você se encantou é um creator, ou seja, um criador de conteúdo, que também frequenta o Instagram ou o recente Snapchat. O creator não se torna popular conforme nome ou poder econômico de alguma emissora. Isso não interessa, por sinal. No universo on-line, são o engajamento e a personalidade que aumentam o número de visualizações e fazem o público voltar. Para se ter uma ideia, o Brasil já tem mais de 100 canais no Youtube com mais de um milhão de inscritos.

A concentração de fãs chamou a atenção do mercado e hoje muitas empresas apoiam, financiam ou inserem suas marcas nos vídeos ou sites de creators. Antes de saber o porquê dessa mudança de hábito, e conhecer alguns cases dentro do Turismo, assista o vídeo abaixo e entenda melhor o que é um creator e o que ele faz:

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A diretora do Grupo IT Brazil, especializado em conectar marcas com influenciadores digitais, Patrícia Brazil, acredita que a comunicação entre youtubers (ou blogueiros) e fãs é mais eficaz do que a estabelecida por uma empresa tradicional. “A forma de comunicar mudou e os youtubers são resultado disso”, opina. “As pessoas querem ver e consumir pessoas possíveis e conteúdo real. Os youtubers são porta-vozes de uma geração conectada e que não abre mão do uso celular e aplicativos na hora de se comunicar”, acrescenta.

O youtuber e professor de Planejamento, Redes Sociais e Vídeos da Comschool, Camilo Coutinho, também acredita nessa revolução. De acordo com ele, as empresas devem enxergar os creators como uma forma de investir em um outro tipo de marketing. Mas, para conquistar resultados satisfatórios, é preciso coerência. “A empresa só consegue resultado quando combina a sua linguagem com a do influenciador. Contar com um youtuber não é contar com anúncio, mas sim com marketing de conteúdo”, esclarece. Para Coutinho, essa técnica só funciona no instante em que o empresário entende que o youtuber conta histórias e não vende produtos. “O link da empresa, ou agradecimento, só estará no fim”, lembra.

DE OLHO NO BRASIL
O Turismo de Dubai arriscou e realizou uma ação com as youtubers Camila Coutinho (Garotas Estúpidas) e Vic Ceridono (Dia de Beauté). A dupla de creators estava gravando um reality show em alguns países e foi convidada pelo destino para cobrir o Dubai Shopping Festival e gravar alguns episódios sobre os atrativos turísticos da cidade. A webserie #CamieVicTakeDubai não foi uma contratação, mas sim um projeto desenvolvido pela Interamerican Network. Ao todo, foram quatro capítulos publicados no início do mês passado.

“Somadas as postagens nos blogs, Instagram e Facebook das youtubers, a ação teve mais de 1,5 milhão de visualizações em poucos dias”, contou Flávia Perin, da Interamerican. O projeto ganhou o prêmio de melhor campanha de Relações Públicas pelo Sabre Awards Latin America na categoria Travel and Leisure.

Acompanhe o primeiro episódio da webserie, que também recebeu o apoio da Emirates Airline, outro cliente da Interamerican. Repare que o nomes do Turismo de Dubai e da aérea só aparecem nos agradecimentos.

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Para Flávia, se uma empresa deseja atingir o público que segue determinado youtuber ou blogueiro, projetos como esse são bons aliados. “No nosso caso, nossos clientes poderiam e de fato se promovem sozinhos por meio de seus atrativos, mas ter formadores de opinião envolvidos numa ação ou campanha pode aumentar o alcance e atingir mais pessoas. É uma questão de maximizar o alcance das mensagens que se deseja comunicar e promover”, argumenta.

Essa não foi a primeira vez que Dubai apoiou e mediou a viagem e a logística de produção de creators. A edição anterior do Dubai Shopping Festival, por exemplo, contou com as blogueiras Carol Celico e Lala Rudge. Como podemos perceber, todos os influenciadores são mulheres. E, sim, a escolha tem um motivo, ou melhor, vários. “Mulheres, além de terem forte influência sobre a decisão de viajar – qual destino, época e formato da viagem –, costumam ter maior interesse pelo quesito compras”. O canal Garotas Estúpidas, por exemplo, tem uma média de seis milhões de pageviews por mês e já integra o ranking dos 99 blogs de moda mais influentes do mundo.

APOSTA NACIONAL
Pernambuco também enxergou o potencial dos creators e trouxe um reforço inédito para promover o carnaval deste ano: o reality show Pernambuco é o Lugar, apoiado pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Estado, por meio da Empetur.

A atração contará com seis webcelebridades de seis Estados, são eles São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Ceará e Rio Grande do Sul. “Acreditamos que todos os meios de divulgações são importantes para o destino. Queremos diversificar nossa forma de divulgação e estamos utilizando youtubers para o reality, que terá a visibilidade tanto na internet quanto na TV aberta”, diz a diretora de Marketing da Empetur, Sylvia Sarubbi. “Sabemos que atualmente uma das principais plataformas de venda de viagens é a internet e nada mais interessante do que utilizarmos ferramentas digitais para a promoção do destino Pernambuco.”

Clique aqui para visitar o hotsite e saber mais sobre o reality.

QUER APOIAR UM CREATOR? VEJA DICAS
Se você decidiu associar a sua marca a um creator e quer ter sucesso, é preciso planejar e entender as possibilidades de lucro em torno desse mercado. Segundo Patrícia Brazil, é essencial investir em conteúdos em primeira pessoa capazes de transmitir sentimento. “As pessoas querem se engajar com causas e não com ´propaganda´”, aconselha.

Camilo Coutinho também contribuiu com o assunto e listou cinco dicas para ter sucesso nessa empreitada. Acompanhe:

1 – Liberdade de criação: a empresa deve escutar o influenciador. O maior erro de uma empresa, nesse caso, é contratar e limitar. O youtuber não está acostumado com isso e a audiência, ao perceber a falta de naturalidade, irá identificar e sair do canal pensando que se trata de anúncio. Traga o youtuber para dentro da empresa e crie a ação ao lado dele. O youtuber tem muitas ideias para conquistar uma aderência maior.

2 – Invista nas redes sociais: esteja com as redes sociais bem afinadas. Depois que o vídeo acabar, o link da sua empresa irá aparecer e o usuário irá acessar as redes sociais a procura de conteúdo. Se você não preparar as suas plataformas, o retorno da ação será extremante ruim.

3 – Produza conteúdo próprio:
comece a produzir conteúdo para a sua empresa. O Youtube é um ótimo espaço para uma conversa informal. O conteúdo técnico do site pode ficar lúdico nessa plataforma. No site relacionado a viagens, por exemplo, você pode destacar valores, já no Youtube você deve falar como e porque o potencial cliente precisa escolher determinado destino. Lembre-se que o youtuber não precisa necessariamente aparecer na sua campanha, ele pode apenas dar ideias, ser uma espécie de editor. Os micro-vídeos podem ser uma boa ideia para a sua empresa. Veja:

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4 – Qualidade: por mais que o youtube tenha uma linguagem jovem é preciso investir na produção. É preciso comprar trilha, vinheta e ter qualidade de vídeo e áudio muito boas.

5 – Teste: a grande maioria das empresas tem receio desse novo modelo de marketing. Em nenhum momento peça que o youtuber ou blogueiro fale da sua marca. Entenda: ele irá apenas inserir o produto dentro do seu dia a dia. Sim, a sua marca não terá um momento exclusivo ao longo do conteúdo e isso pode dar medo. Mas precisamos perde-lo. É preciso maturar novos formatos e fazer!

POR OUTRO LADO

Sem dúvidas, a revolução cultural e comportamental na busca por informação e diversão é real. Isso não significa que modelos tradicionais estejam com os dias contados. Segundo Coutinho, o que existe hoje são formas diferentes de divulgar um produto ou uma mensagem.

“O anúncio convencional mede o volume de impacto. Por exemplo: eu atingi um milhão de pessoas com uma propaganda na televisão, mas somente cem compraram. Aqui não há uma métrica de gosto”, diz. “Já no outro modelo, com o youtuber ou o blogueiro, nós temos essa noção por engajamento do vídeo. A persona do Youtube cira isso e nós aproveitamos”, completa.

Nem todos os profissionais de marketing precisam concordar com a cultura dos creators. Lembre-se: pluralidade é essencial. Mas todos devem se adaptar as novas plataformas, redes e públicos. “As empresas ainda podem resolver problemas de marketing internamente. Ter influenciador não é novo, muitas vezes é jabá e nós não trabalhamos com essa ideia”, alertou o responsável pelas mídias sociais da Prefeitura de Curitiba, Alvaro Borba.

Os perfis sociais da capital paranaense no Facebook, Instagram e Snapchat são um dos principais exemplos de sucesso no quesito adaptação. A presença de memes, gifs, músicas e referências nos posts mostram como a equipe de mídia está antenada com o universo on-line.

Borba falou um pouco sobre a motivação do setor. “Investimos em um projeto para o Facebook da Prefeitura de Curitiba com o objetivo de desconstruir estereótipos. Utilizar símbolos da cultura pop e inserir corações é uma tentativa deliberada de desconstrução”, revela. “A ideia é que a cidade inspire um desejo de aproximação. No Facebook a cidade se porta como uma pessoa e a página é simpática porque muitos dizem que somos antipáticos. Os estereótipos estão sumindo porque eles não se aplicam a cidade.”, acrescenta.

O projeto foi resultado de uma experiência empírica. “Quando disse que iria mudar para Curitiba todos me disseram que eu seria mal tratado e fui muito bem recebido”, lembra. Segundo ele, os perfis querem dialogar diariamente com o público para educar, promover cidadania e divulgar o destino.

“Não temos anúncios. Nosso recorde no Facebook foi um post com sete milhões de alcance total. Nossas pesquisas dizem que de janeiro a junho de 2015, chegamos a 137 milhões de pessoas (alcance somado no Facebook). Se fosse para conquistar esse número na televisão, por exemplo, gastaríamos mais de 6,8 milhões de reais”, apresenta.

Leia um post da famosa e simpática “Prefs”:

* Ao contrário do que diz a internet, não há uma relação direta entre a longevidade dos pandas e seu comportamento no cotidiano. Apesar disso, trocar de faixa sem dar a seta pode ter consequências trágicas.

Publicado por Prefeitura de Curitiba em Sexta, 15 de janeiro de 2016

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