Da Redação   |   23/04/2014 07:55

Travelmetrics analisa dados da Copa do Mundo

Quem assistiu ao filme Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo (2011), com Brad Pitt, sabe o básico sobre sabermetrics. Para quem não viu, uma breve descrição do Wikipedia pode ajudar: “análise empírica do baseball, especialmente das estatísticas sobre o baseball, que medem as atividades dos jogos”.

Artigo escrito por Pascal Clement, chefe de Inteligência de Viagens da Amadeus

Quem assistiu ao filme Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo (2011), com Brad Pitt, sabe o básico sobre sabermetrics. Para quem não viu, uma breve descrição do Wikipedia pode ajudar: “análise empírica do baseball, especialmente das estatísticas sobre o baseball, que medem as atividades dos jogos”. De fato, isso poderia ser traduzido como um grupo de cientistas de dados de inteligência processando toneladas de dados e tentando gerar “estatísticas avançadas” para obter um conhecimento melhor e mais profundo sobre o jogo de baseball.

No filme, o personagem de Brad Pitt utiliza o sabermetrics para desafiar a sabedoria convencional e orientar um grupo de jogadores abandonados e desvalorizados para uma sequência recorde de vitórias e até mesmo a disputa do campeonato. Em suma, ele utiliza uma compreensão profunda de seu negócio por meio de estatísticas para explorar ineficiências de mercado.

No mercado de turismo, a mesma lógica pode ser usada para transformar dados brutos em informações significativas, por meio da geração de estatísticas avançadas, para obter um conhecimento melhor e mais profundo sobre a indústria de viagens. Isso poderia ajudar a desafiar a sabedoria convencional e a capacitar os profissionais da área para explorarem as ineficiências do mercado.

Um exemplo é a Copa do Mundo, que acontece no Brasil em 2014. Todos os organizadores de grandes eventos dizem que o fluxo de turismo para o país irá crescer substancialmente. A Embratur – Instituto de Turismo Brasileiro – estimou no ano passado que cerca de 600 mil turistas estrangeiros irão visitar o Brasil na Copa do Mundo. Provavelmente, esse será o caso. Até mesmo as estatísticas das últimas Copas do Mundo confirmam estas estimativas: A África do Sul alcançou um aumento de 22% no turismo depois da Copa do Mundo de Futebol de 2010.

O “travelmetrics” pode dar uma visão mais profunda e precisa daquelas previsões? Parece que sim. Pode se começar processando alguns dados de busca. As buscas de viagens ao Brasil durante os meses de junho e julho atingiram o pico em 06 de dezembro de 2013, segundo análise publicada pela Amadeus. Esse, não coincidentemente, foi o dia em que a FIFA realizou o último sorteio do torneio. Desde então, os volumes de buscas mantiveram-se relativamente elevados.

Então, agora já se sabe que houve mais procura por voos para o Brasil, mas é preciso ter certeza de que eles foram realmente impulsionados pelos jogos. Quando são avaliados os dados dos dias de partida inseridos nas pesquisas realizadas, é possível verificar que as buscas por partidas nos dias próximos a 12 de junho são mais do que dez vezes maiores do que maio ou agosto. Não é uma surpresa, novamente, dado que o lançamento do torneio será nessa data. Dessa perspectiva, parece que as previsões da Embratur estão corretas.

Mas, novamente, o “travelmetrics” é sobre olhares mais profundos nos números. Então, deve-se levar essa análise a um passo adiante. Um dos melhores proxies para saber se essa busca – que pode ser vista como uma demanda potencial – irá se transformar em um grande fluxo turístico é, com certeza, o aumento da capacidade de voos regulares para o Brasil. A capacidade para junho e julho irá subir 7% e 5%, respectivamente. Isso parece ser um aumento notável, especialmente quando comparado aos 1% e 3% no ano passado. Mas não tanto quando notado que isso é apenas sobre a média de crescimento do ano, e que agosto terá um crescimento de 8% de assentos disponíveis. Então, talvez esses potenciais 600 mil turistas estrangeiros tenham dificuldade de chegar ao Brasil?

Sim. E isso poderia muito bem ser por causa das ineficiências do mercado – lembre-se, “travelmetrics”, assim como o sabermetrics, são melhor usados para encontrar ineficiências de mercado. Quando comparados os dados de busca e capacidade de assentos, a descoberta mais marcante é que 47% das buscas têm o Rio de Janeiro como destino, mas os assentos disponíveis para o Rio são menos da metade quando comparados com aqueles disponíveis para São Paulo, que possui apenas cerca de metade das buscas.

CIDADES MAIS BUSCADAS DA EUROPA PARA O BRASIL - VIAJANDO EM JUNHO/JULHO DE 2014

1 - LONDRES-RIO
2 - PARIS-RIO
3 - FRANKFURT-RIO
4 - MOSCOU-RIO
5 - LONDRES-RIO
Fonte: Amadeus Master Pricer, Europa, de outubro de 2013 a fevereiro de 2014

Então isso significa que as companhias aéreas estão perdendo oportunidades de negócios por não oferecerem voos suficientes para o Rio? Ou que, contrariando a sabedoria convencional, a Copa do Mundo não trará o fluxo massivo de novos viajantes? Não se sabe. Esta é apenas uma primeira abordagem para todo o âmbito da Inteligência de Viagens, e para obter conclusões definitivas seria necessário incluir vários outros elementos, como reservas reais e fatores de ocupação de assentos, muitos dos quais não estão disponíveis ainda.

Mas isso serve para dar uma olhada na capacidade do “travelmetrics” de ir ainda mais fundo nos dados, e no grande potencial que a utilização destas métricas possui para fazer a diferença no futuro da indústria de viagens."