Rodrigo Vieira   |   23/06/2021 13:35
Atualizada em 23/06/2021 13:53

Presidente da Abracorp analisa caso da AJMobi e diz que mais mudanças virão

Custeio baseado na consultoria e não nas transações são a tônica do mercado pós-pandemia


PANROTAS / Marluce Balbino
Rubens Schwartzmann, presidente da Abracorp
Rubens Schwartzmann, presidente da Abracorp
A decisão do Grupo JTB de suspender a atividade da AJMobi e focar na operação da Quickly Travel, com clientes estratégicos, é mais uma evidência do movimento de adaptação à crise por parte das agências de viagens corporativas no Brasil. Operações conjuntas, consórcios, sinergias para buscar maior eficiência. É assim que o presidente da Abracorp, Rubens Schwartzmann, enxerga mais esse anúncio no setor.

Há TMCs se juntando com travel techs e fornecendo sistemas para além do escopo das viagens, outras se especializando em gestão de despesas, além das parcerias com agências e operadoras de lazer, uma vez que staycation e bleisure serão comportamentos mais buscados daqui em diante.

"Não diria que existe uma tendência clara de desinvestimento, mas sim de mudança na estrutura de forma geral. Temos visto fusões, aquisições, consolidações e mais anúncios como esses certamente seguirão sendo realizados daqui em diante. Há coisas para acontecer ainda", afirma o também presidente da Costa Brava.

Segundo Schwartzmann, as TMCs estão se preparando para um mundo voltado às viagens essenciais, o que não significa o fim do fluxo de trabalhadores em estradas e aeroportos. Em paralelo, crescerá o anseio dos viajantes por atividades de lazer no roteiro. Desta maneira, por mais que o volume de embarques caia, a demanda pelo olhar de um especialista por viagens mais qualificadas crescerá.

"São estratégias justamente para enfrentar os desafios provocados pela pandemia. Concordo com o [Eduardo] Kina, da JTB, no aspecto de que o executivo não ficará mais no avião como acontecia pré-pandemia, mas nem por isso as viagens corporativas acabarão. Grande parte dos clientes da TMCs já sinalizou a intenção de voltar aos escritórios assim que a vacinação e as condições permitirem. As viagens não-essenciais serão diluídas, mas isso não significa chegar ao zero. As viagens essenciais serão mais complexas a partir de agora, o que exigirá agentes de viagens corporativas mais qualificados e participativos e menos self-booking."

Embora importantes setores da economia, como o financeiro, ainda estejam em home office e sem locomoção relevante, há exemplos como os segmentos energético, agro e industrial que estão necessitando de viagens. "Já havia TMCs especializadas nestes segmentos e outras nem tanto. É natural que cada um procure seu nicho neste momento, para rentabilizar a operação", aponta o presidente da Abracorp. "Fato é que as agências focadas em volume transacional terão mais dificuldade para encarar a retomada. Mais do que nunca os 'R$ 5 de transaction fee' não pagarão a conta. Não tem mágica."

DADOS DA IATA
Questionado sobre o termômetro da retomada, Rubens Schwartzmann se apoia em dados da Iata sobre outras crises globais no Turismo. A conclusão é de que não há qualquer precedente para a atual recessão, justamente o fator de transformação no modelo das TMCs.

"Recessão de 1991, 11 de setembro, Sars e grande recessão de 2009. Nenhuma delas apresentou queda maior do que 20% no volume de passageiros transportados, todas com recuperação entre seis e 18 meses. Por outro lado, a pandemia de covid-19 chegou a derrubar em 95% o fluxo de passageiros e o tempo de recuperação apontado pela Iata é de no mínimo 36 meses para voltarmos ao patamar de 2019. Essa pandemia foi diferente de absolutamente tudo e por isso que ela está forçando essa reinvenção. Apesar do otimismo com a vacinação, não sabemos quanto isso vai durar."

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