Movida

Leonardo Ramos   |   11/05/2018 18:45

Clientes denunciam Sky Turismo (RJ) à polícia; operadora se defende

Sky Turismo é acusada de estelionato contra ao menos 40 viajantes de comunidade judaica

Wikicommons/Eudoxio
Polícia Civil do Rio de Janeiro é responsável pela investigação
Polícia Civil do Rio de Janeiro é responsável pela investigação

A polícia civil do Rio de Janeiro está investigando a agência de viagens e operadora Sky Turismo, localizada na Barra da Tijuca, por suposto estelionato contra ao menos 40 membros da comunidade judaica da cidade. Segundo o jornal O Globo, o grupo fechou a compra de pacotes turísticos para Israel junto à empresa carioca, com parte aérea e hospedagem inclusos; nem passagens nem as reservas dos hotéis, porém, teriam sido confirmadas após o pagamento.

As acusações na reportagem do O Globo começam com um viajante que desembolsou R$ 27 mil na compra do pacote, e não teria conseguido embarcar no último sábado (5), dia previsto para a viagem, pois os bilhetes segundo ele seriam falsos. De acordo com o viajante, um dos proprietários da operadora afirmou que resolveria o problema até o dia da viagem, mas não teve retorno.

Uma segunda passageira entrou em contato com a PANROTAS e disse que gastou R$ 23 mil em pacotes para a Rússia e França e teve de pagar novamente em outro fornecedor, porque ligou na KLM e a aérea informou que sua reserva havia sido cancelada dois dias após a compra. Ela se integrou a um grupo que fez queixa oficial na polícia. Segundo ela, também há um grupo de médicos que ia para um congresso, e que também não conseguiu viajar.

Outra passageira, a arquiteta Claudia Edelman, revelou que pagou R$ 17,5 mil por duas passagens aéreas, diárias e hotel e aluguel de carro, mas não recebeu nenhuma confirmação até dez dias antes da viagem - que segundo ela era dia 16 de maio, mas que a Sky, em entrevista à PANROTAS, afirma que seria apenas dia 26 de maio. A Sky Turismo teria então solicitado que a mesma pagasse novamente, com a promessa de que reembolsaria os valores em 30 dias.

Um dos proprietários da empresa, Carlos Eduardo Kligerman falou com a reportagem da PANROTAS por telefone e negou as acusações, que ele considera "infundadas e fruto de uma presunção dos clientes de que a Sky Turismo não honraria compromissos futuros devido a campanhas caluniosas contra ela nas redes sociais".

Segundo o empresário, o caso começou quando seis viajantes de um grupo que iria a Israel no começo de abril enfrentou problemas para entrar no avião, pois as passagens, de categorias superiores à econômica dos demais membros do grupo, não teriam sido emitidas até a hora do check-in por uma "falha sistêmica" da operadora. Kligerman confessa que tenha acontecido um estresse no aeroporto, mas ressalta que no final todos conseguiram embarcar.

"O que aconteceu foi que um deles reclamou para uma pessoa influente na comunidade judaica do Rio de Janeiro que acabou publicando a história no Facebook e em grupos do Whatsapp, gerando uma repercussão que eu nunca vi. Muitos clientes com medo começaram a sustar cheques, cancelar pagamentos sem falar diretamente com a gente, o que virou uma bola de neve. É a maior crise que já vi nos 37 anos de empresa", descreve o dono da Sky, que alega que a maioria dos envolvidos no processo ainda nem está perto da data da viagem, e por isso passagens e reservas ainda não foram efetuadas.

Até o momento três inquéritos policiais foram abertos por estelionato na 16ª DP, na Barra, onde dez pessoas foram ouvidas.

O QUE SE SABE ATÉ O MOMENTO
O empresário Carlos Eduardo Kligerman explicou na entrevista que de todos que apareceram publicamente alegando terem sido lesados pela empresa, apenas um deles - o primeiro caso citado, do viajante que desembolsou R$ 27 mil - realmente não conseguiu embarcar em seu voo, pois a operadora se encontrou sem capital para bancar passagem e reservas de hotel devido à queda de receitas em abril e à série de pedidos de cancelamentos e pagamentos anulados.

Kligerman, porém, esclarece que avisou ao passageiro previamente do problema, e afirma que ele teria aceitado negociar o adiamento da viagem. Declara, ainda, que os bilhetes aéreos e as reservas hoteleiras não eram falsas como alegado pelo viajante: diz que eram reservas legítimas, mas que a empresa não foi capaz de quitar o pagamento das mesmas.

"Estamos em um ano ruim, é verdade, mas este foi o único compromisso com um clientes que não fomos capaz de honrar. Agora, ele afirmar que eu sumi, ou que os bilhetes eram falsos, não é verdade. Entramos em contato com ele antes da viagem, e ele aceitou negociar. Mas depois disso só tivemos notícias dele de novo quando sua reclamação saiu no O Globo", explica o executivo da Sky Turismo.

As demais acusações, porém, seriam de viagens que ainda irão acontecer. Segundo Kligerman, uma "onda de histeria" teria feito as pessoas cancelarem pagamentos semanas ou meses antes da viagem e entrarem com acusações na polícia. "Temos como política realizar a reserva em um momento inicial, mas emitir as passagens e reservas duas semanas antes da viagem de cada passageiro. Muitos deles estão presumindo que não vamos cumprir os acordos assinados, e cancelam o pagamento ou fazem acusações na polícia sem entrar em contato com a empresa anteriormente", se defendeu.

ACUSAÇÕES E DEFESA
Carlos Eduardo Kligerman tentou esclarecer o que há de verdade e de mentira ainda em cada um dos casos citados na matéria. Confira abaixo:

Claudia Edelman
Alegação: Pagou R$ 17,5 mil por duas passagens aéreas, diárias de hotel e aluguel de carro, mas não recebeu confirmação até dez dias antes da viagem, que seria dia 16 de maio. Afirma ainda que a Sky pediu que ela pagasse novamente, já que a empresa estaria sem dinheiro em caixa para emitir os bilhetes.

Kligerman: "Para começar, a viagem de Claudia é dia 26 de maio, não dia 16 como ela alegou na reportagem. E como dito anteriormente, nossa política é realizar as reservas por volta de duas semanas antes da viagem. Mesmo com as dificuldades financeiras, estávamos nos preparando para honrar o compromisso, e emitir as passagens até quarta, mas ficamos sabendo pelo O Globo que ela decidiu comprar outras passagens ao invés de aguardar que nós fizéssemos a reserva. Ela afirmou também que pedimos que ela pagasse novamente, mas não tenho conhecimento disso. O que pode ter acontecido é ela pedir que emitíssemos a passagem antes da data prevista por nós, e algum de nossos funcionários ter dito que isso só seria possível se ela pagasse os bilhetes, com a empresa se comprometendo a reembolsar posteriormente, já que não podíamos emitir a passagem antes do que estávamos preparados para fazer".

Pacotes Rússia e França
Alegação: Disse que gastou R$ 23 mil em pacotes para a Rússia e França e teve de pagar novamente em outro fornecedor, já que ao ligar para a companhia aérea, recebeu a informação de que a reserva havia sido cancelada.

Kligerman: "Não foi cancelada. Conferi hoje no nosso sistema, a reserva está lá, foi marcada dia 16 de outubro, e a viagem seria no final de maio. Como no outro caso, não havíamos efetuado a emissão ainda, mas nada que fugisse da nossa política de fazer o pagamento duas semanas antes".

Grupo de médicos
Alegação: Tiveram que pagar parte dos custos de hospedagem na hora de sair do hotel em Israel, quando já haviam feito o pagamento para a operadora.

Kligerman: "Esse foi um problema que não teve a ver com a nossa crise. O hotel não liberou a fatura para que enviássemos a remessa do pagamento até dois dias antes do fim da viagem. Quando enviaram, falamos que íamos pagar, mas eles alegaram que não daria tempo de chegar lá, já que ia levar três dias. Tentamos pagar com cartão de crédito, mas eles só aceitavam US$ 2 mil em pagamentos do tipo vindo de terceiros, quando a conta do hotel era US$ 7 mil. Conclusão: os médicos tiveram que pagar mesmo, mas já entramos em contato com todos e nos comprometemos a reembolsar o pagamento assim que a fatura dos viajantes cair".

Ana e Ilan Levy
Alegação: Compraram passagens para viajar dia 15 de maio para Boston; mas ao tentarem conferir no fim de março se os bilhetes tinham sido emitidos, descobriram que estavam pendentes de pagamento. Dia 12 de abril tentaram ir à sede da agência, mas a entrada deles não foi permitida.

Kligerman: "Esse caso foi o pior. Ainda faltavam dois meses para a viagem deles, e eles começaram a publicar acusações caluniosas nas redes sociais, como se tivéssemos lesado os mesmos. Assim como todos os casos, íamos emitir os bilhetes até a data da viagem, mas a histeria tomou conta dos clientes e todos queriam tudo na hora. Não deixamos eles subir pois recebemos uma ameaça de agressão de um cliente com uma queixa similar a deles e infundada, então resolvemos manter o contato por telefone e e-mail.

ABAV-RJ E IATA
A Abav-RJ confirma que recebeu inúmeras queixas contra a Sky Turismo e que deu até a próxima segunda-feira, 14, para que eles se manifestassem; mas a empresa garantiu à Abav que estava funcionando. Os telefones da operadora, porém, não atendem. A própria reportagem da PANROTAS só recebeu retorno após enviar e-mail para vendas@skyturismo.com.br. Os telefones não atendiam.

A PANROTAS também teve acesso a um comunicado da Air Tkt, que alertava, em fevereiro, a seus associados (todos consolidadores), que a Sky Turismo estava devendo a última fatura à Iata. Ou seja, o problema de caixa provavelmente havia iniciado antes das denúncias.

O empresário garantiu que está tentando resolver cada caso e a Abav-RJ afirmou que levará o caso a seu Conselho de Ética e Arbitragem após a próxima segunda-feira. Hoje, mais uma reportagem, dessa vez na TV, no Bom Dia Rio, voltou a alertar sobre o caso envolvendo a Sky Turismo. Mais uma vez os clientes afirmam que suas reservas haviam sido canceladas.

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