Rafael Faustino   |   08/11/2017 17:22

Luis Vargas: aéreas podem perder ao 'driblar' GDS

O VP da Travelport lembra que serviços proporcionados pelos GDS levam conteúdo personalizado das aéreas aos agentes e operadores de viagens.

Jhonatan Soares

Vice-presidente interino da Travelport e gerente geral para América Latina e Caribe, o brasileiro Luis Vargas vê, no cargo que ocupa há quase seis meses, mais de perto a disputa pela distribuição entre companhias aéreas e GDS. Gigantes como Lufthansa, British Airways, Iberia, Air France e KLM já passaram a cobrar, no Exterior, taxas extras por vendas feitas nesses sistemas de distribuição, e no Brasil isso só não acontece ianda por uma barreira legal.

Para ele, apesar de compreensível – uma vez que, em tese, a distribuição direta é menos custosa às aéreas e as coloca mais próximas do consumidor final –, a atitude pode ser prejudicial a elas próprias. "Entendemos que toda cadeia produtiva é extremamente importante, e eventualmente cortar um elo nessa corrente pode acarretar em uma falta de serviços essenciais", alerta. Vargas lembra que serviços proporcionados pelos GDS levam conteúdo personalizado das aéreas aos agentes e operadores de viagens. Da mesma forma, as companhias se alimentam de tecnologias fornecidas pela Travelport - com soluções aue facilitam a resposta a cancelamentos ou modificações imprevistas em voos, por exemplo - o que torna a relação uma via de mão dupla.

Recentemente, um estudo da Infrata, consultoria do setor aéreo, classificou como "mito" o argumento de que a distribuição direta é mais barata pelas aéreas. Afinal, se cortarem um intermediário na distribuição, elas precisarão investir mais em publicidade, marketing e seus próprios motores de busca para compensarem. A economia efetiva, defendeu a pesquisa, seria de apenas 11 centavos de euro.
Reprodução / Facebook Lufthansa

O próprio CEO da Travelport, Gordon Wilson, criticou meses atrás essa busca por mudanças pelas companhias aéreas, quando as aéreas do IAG, British Airways e Iberia, anunciaram a taxa que começa a vigorar neste mês. "Estamos em 180 países e a Delta Air Lines acaba de renovar um contrato de conteúdo completo de vários anos conosco sem nenhum custo de reserva, nada. O valor que trazemos para companhias aéreas como a Delta é que elas podem vender em 179 países diferentes dos seus. Quem mais vai fazer isso [para as companhias aéreas]?", questionou Wilson, à época.

Vargas, argumenta no mesmo sentido, embora admita o argumento do custo extra utilizado pelas aéreas. "É o que sempre discutimos quando discutimos renovações de contrato. Os investimentos que fazemos pra manter atualizado todo nosso poderio tecnológico [em benefício dos parceiros], não é meramente um investimento na empresa. O custo existe e a aérea pode alocar de formas diferentes, mas o que se pode perder são os vários benefícios que oferecemos", ressalta.

Na América Latina, ainda não houve decisão de nenhuma companhia de sobretaxar as vendas por meio do GDS. Mas isso não as impede de buscar alternativas que driblem os intermediários. A American Airlines foi a primeira a utilizar o Direct Connect no Brasil, trêsanos atrás, colocando as empresas em contato direto com o inventário da companhia via XML. Hoje, foi a Lufthansa quem anunciou acordo com a consolidadora Rextur Advance para seguir o mesmo caminho.

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