Rodrigo Vieira   |   30/01/2018 15:06

Despedida: Tarcísio Gargioni, 28 anos de aviação brasileira

Confira um pouco da trajetória do vice-presidente de Marketing e Vendas da Avianca Brasil, que se despede neste ano


Arquivo PANROTAS
Tarcísio Gargioni, desde 2011 na Avianca Brasil, é vice-presidente de Marketing e Vendas da companhia, mas suas funções vão muito além de seu cargo
Tarcísio Gargioni, desde 2011 na Avianca Brasil, é vice-presidente de Marketing e Vendas da companhia, mas suas funções vão muito além de seu cargo
Um dos ícones mais respeitados do Turismo brasileiro encerra em 2018 um ciclo de quase três décadas no setor. Poucos nomes são tão importantes para aviação comercial brasileira como o de Tarcísio Gargioni, tão concorrido pelos vários cantos onde pousam as aeronaves de suas companhias, entre eventos e a inauguração de destinos.

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Na Avianca Brasil, onde atua de 2011 até aqui, foi peça-chave de um time que passo a passo, de MK-28 a A330, de Foz do Iguaçu a Nova York, conquistou o Brasil, as Américas e deixou a pista livre para o resto do mundo. Mas restringir Tarcísio Gargioni à sua expressiva passagem na Avianca seria uma injustiça tão grande quanto suas habilidades no negócio.

NA VASP

O engenheiro de transportes de 70 anos não é prestigiado à toa. Foram conquistas atrás de conquistas. Trabalhou exatamente no período mais transformador da aviação brasileira e mundial, da glamurização à democratização. Vasp e Gol são gratas a isso. Na primeira, entrou em 1990 no processo de privatização e assumiu Cargas, área ainda inédita na companhia. Já havia passado por rodoviário e marítimo."Faltava o aéreo, que era um mundo completamente diferente, novo para mim. No começo eu chamava o porão da aeronave de bagageiro", relembra, aos risos, exclusivamente ao Portal PANROTAS.

"Lá fiquei dez anos como diretor de Cargas. Expandimos bastante uma área que começou do zero. Tenho essa característica expansionista, o que fez do departamento um dos mais representativos na receita da Vasp. Aos poucos, fui aprendendo sobre o transporte de passageiros: bilhetes, rotas, tarifas. Sem dúvida, minha melhor escola."

NA GOL


Arquivo PANROTAS
Gargioni foi vice-presidente comercial e de Marketing e Serviço da Gol
Gargioni foi vice-presidente comercial e de Marketing e Serviço da Gol
Já a Gol agradece a própria existência a Gargioni, um de seus fundadores ao lado da família Constantino. E a gratidão é recíproca. "A Gol foi um sonho. Criar uma empresa do zero, quebrar todos os paradigmas, sair da vala comum em comercialização, no ato de voar, nos uniformes, na comunicação, em todos os sentidos. Nosso propósito era popularizar o transporte aéreo, colocar dentro de um avião o brasileiro que nunca havia voado", aponta o profissional em despedida. Estava lançado, portanto, seu grande desafio, o de manter a empresa rentável mesmo com as tarifas mais baixas, categorizada como a primeira aérea low cost do Brasil.

"A fórmula foi a otimização dos ativos pra reduzir custos. No Brasil não há escolha de aeroportos, flexibilização de salário para piloto, redução de preço de combustível. A única maneira que encontramos era simplificar o processo de comercialização, o que fizemos por meio da internet, reduzindo a burocracia e a hierarquização da venda de bilhetes. Conseguimos redução da ordem de 25% nesses custos, vantagem que transferimos ao passageiro. Com todo orgulho posso dizer que trouxemos o brasileiro do rodoviário para a aviação. Quando deixei a Gol, ostentávamos 42% do market share nacional."

NA AVIANCA BRASIL


Arquivo PANROTAS
José Efromovich tem Tarcísio como um de seus braços direitos na Avianca Brasil. Não à toa ele sai de uma posição executiva para assumir uma no conselho
José Efromovich tem Tarcísio como um de seus braços direitos na Avianca Brasil. Não à toa ele sai de uma posição executiva para assumir uma no conselho
Essa despedida aconteceu em 2010, uma década depois e um ano antes de ser chamado para um desafio tão grande quanto o anterior. Avianca Brasil já era o nome da antiga Ocean Air, mas ainda era minúscula no conhecimento do consumidor brasileiro, tal como no radar do mercado, que ainda a via como uma empresa regional, com aviões pequenos, sem capacidade para rotas nacionais. O desafio de mudar essa imagem era enorme, mas pequeno perto da energia do profissional com então 64 anos, idade em que muitos executivos já estão deixando suas cadeiras nas empresas de maior expressão.

"Começamos a fortalecer a marca, mostrar que já tinhamos três A319 capazes de atingir rotas maiores, embora na época nossa frota ainda fosse dominada por MKs. Fortalecemos nossa relação com o trade, encaramos um processo de crescimento acelerado de renovação de aviões. Fomos conquistando novos desafios, aumentando as frequências onde operávamos... O Programa Amigo cresceu, reformulamos o Call Center, conquistamos espaço na Star Alliance, o que demandou troca de sistema. Quase oito anos depois deixo a Avianca Brasil muito orgulhoso, com 13% do market share doméstico, 11 pontos percentuais a mais de quando entrei, e pelo menos 26% de participação nos mercados em que atuamos. Estamos no radar, disputando a primeira divisão", comemora.

Homem de confiança do fundador José Efromovich, Gargioni, com toda sua influência, foi um dos articuladores dos atuais voos do Nordeste ao hub da "prima colombiana", em Bogotá. Transformou um projeto sonhador em realidade, sem baixar a guarda para um cenário em que todo o vento parece estar a favor das low costs (que ele mesmo ajudou a desenvolver). Hoje a Avianca é reconhecida pelo alto padrão de serviço e voos internacionais sem necessariamente baixar o custo do bilhete.

Em todo esse período de crise, ressalta Gargioni, a Avianca Brasil não só foi a companhia que mais cresceu, como se consolidou no mercado, principalmente após a chegada de equipamentos wide body capazes de chegar mais longe. E lá estão: Santiago, Nova York e Miami hoje contam com operações expressivas de sua atual companhia, que não deixará de ser sua tão cedo. O empresário deixa o cargo de vice-presidente de Marketing e Vendas em julho, mas assim que sair ganha uma cadeira no Conselho. Seu sucessor ainda não está definido e há possibilidade de que mais de uma pessoa assuma suas atuais funções, que, além de comercial e de Marketing, englobam Cargas, Call Center e outros departamentos.

Seja quem for, o sucessor, ou os sucessores, terão a oportunidade de contar com um professor de ponta. Acima de tudo, um ser humano justo, simpático e conhecido por jamais fechar a porta de sua sala para qualquer colega de trabalho. "Tenho 70 anos, mas com a energia de um jovem. Ainda quero dar muito à aviação e, claro, continuo sempre aprendendo com ela. Sou muito grato a tudo o que vivi, períodos muito diferentes e muito especiais. Vivi e tive muitas emoções durante todas essas décadas. A aviação vai ficar na minha vida."

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