Victor Fernandes   |   29/11/2023 18:35
Atualizada em 29/11/2023 18:55

Sem investimentos, Brasil pode perder navios no futuro, dizem Clia e MSC

Adrian Ursilli e Marco Ferraz citam altos custos de operação e infraestrutura dos portos como entraves


PANROTAS / Victor Fernandes
Adrian Ursilli, diretor da MSC Cruzeiros no Brasil
Adrian Ursilli, diretor da MSC Cruzeiros no Brasil

No último domingo (26), zarpou do porto de Santos o maior navio de cruzeiros a navegar em águas brasileiras, o MSC Grandiosa. Com a sua inauguração, a MSC Cruzeiros revelou que esta temporada será sua maior no Brasil, e, em entrevista ao Portal PANROTAS, Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil, afirmou que de fato a temporada 2023/2024 pode ser a maior para a indústria no País.

No entanto, o futuro ainda é incerto, aponta Adrian Ursilli, diretor da MSC Cruzeiros no Brasil. "Ainda há desafios que limitam a expansão da temporada e a certeza do nosso crescimento contínuo no Brasil", explicou Ursilli. Alguns gargalos ainda a serem superados são:

  • custo alto de operar no Brasil,
  • índice alto de judicialização,
  • infraestrutura dos portos limitada,
  • toda a insegurança jurídica
  • e o excesso de burocracia.

"São limitações que afetam o Turismo como um todo, mas isso faz com que o Brasil perca competitividade perante outros destinos turísticos, como Caribe, Mediterrâneo e a Ásia", enfatizou.

Adrian Ursilli

Além da incerteza da possibilidade de trazer mais navios ao Brasil na temporada de verão, também existe a dificuldade para manter navios aqui o ano todo, já que concorreria com o verão da Europa e Estados Unidos, e também a possibilidade de perder navios no próprio verão, caso países da África e a Austrália saiam na frente em relação à investimentos na infraestrutura portuária, aponta Marco Ferraz.

"A MSC trazer o MSC Grandiosa ao País, trazer o melhor que temos no mundo para cá, traz uma responsabilidade para o Brasil, porque para continuar recebendo esses navios precisamos de portos melhores, terminais melhores, ter gás natural liquefeito, ter energia elétrica nos portos, dragagens. A infraestrutura em si tem que melhorar, porque concorremos com outros países", afirmou o presidente da Clia Brasil.

"Se a África ou Austrália melhoram, que estão no nosso hemisfério, podemos perder navios no verão. No nosso inverno, que queremos manter navios, temos que estar melhor que o verão do hemisfério Norte, o que é difícil. Mas se a temporada atual vai até maio já significa que estão testando um pouco mais. É um avanço".

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

A falta de postos de abastecimento de gás natural liquefeito (GNL), inclusive, é obstáculo para a MSC Cruzeiros trazer equipamentos mais novos ao Brasil, como o MSC World Europa e MSC World America, assim como os próximos dois navios dessa classe a serem inaugurados em 2026 e 2027, por serem movidos com o combustível sustentável. "Temos navios que, infelizmente, não conseguimos trazer ao Brasil porque não temos infraestrutura técnica de abastecimento de GNL disponível", disse Adrian Ursilli.

No entanto, o executivo da MSC Cruzeiros reconhece que as mudanças não são feitas de um dia para o outro e segue comemorando a vinda do MSC Grandiosa, assim como esforços da Clia Brasil em prol da indústria. "O trabalho da Clia e nosso trabalho junto a autoridades é importantíssimo para superar essas barreiras e fazer com que o Brasil receba navios novos ou navios por mais tempo, alongando a temporada, e não perder esse navios para outros mercados", afirma.

"Brasil deveria aproveitar essa temporada recorde para fazer mudanças em prol de maior competitividade no setor e atrair mais investimentos. Houve melhorias e temos infraestrutura para a situação presente, tanto que estamos recebendo o MSC Grandiosa, um dos maiores equipamentos da companhia. Mas o trabalho tem que ser frequente, claro. Precisamos de ambiente mais favorável para trazer maior investimento ao Brasil".

Adrian Ursilli, diretor da MSC Cruzeiros no Brasil


Batalhas da Clia


PANROTAS / Victor Fernandes
Marco Ferraz e Flávio Peruzzi, da Clia Brasil
Marco Ferraz e Flávio Peruzzi, da Clia Brasil

Em esforços contínuos em prol do setor de cruzeiros, Marco Ferraz afirmou que a Clia Brasil está constantemente conversando com os portos, terminais, praticagem e Governo Federal para trazer avanços. Os últimos esforços têm sido realizados para incluir os cruzeiros, assim como todo o Turismo, na reforma tributária. Após trabalho com os senadores, a Clia Brasil conseguiu 33 emendas na CCJ, e agora a associação está explicando ao governo porque o setor "deveria estar em regime específico".

"Conseguimos um espaço ao sol, mas ainda brigando por uma alíquota justa na lei complementar para competir com o mundo inteiro. Primeiro, manter o setor na Câmara, e depois conseguir explicar como funciona nossa atividade na lei complementar durante o ano de 2024".

Flávio Peruzzi, diretor de Relações Institucionais da Clia Brasil

Sobre as questões trabalhistas que geram custos superiores para as companhias de cruzeiros no Brasil, Marco Ferraz explicou que "estamos trabalhando no TST e agora vamos trabalhar no STF para reverter isso. A Lei Geral do Turismo é um grande trabalho das entidades para melhorar a legislação trabalhista do tripulante, mas ainda não podemos sair comemorando".

"O setor de cruzeiros precisa ter competitividade. 2022/2023 foi a segunda maior temporada da história, mas a com o maior custo. Podemos perder navios pela falta de competitividade", concluiu Ferraz.


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