Artur Luiz Andrade   |   18/06/2025 08:16

US Travel quer ajuda do governo para melhorar processos e esclarecer "percepções erradas"

Geoff Freeman falou à PANROTAS durante o IPW 2025, em Chicago

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
O presidente e CEO da US Travel Association, Geoff Freema
O presidente e CEO da US Travel Association, Geoff Freema

CHICAGO – O presidente e CEO da US Travel Association, Geoff Freeman, está em uma cruzada dupla às vésperas dos grandes eventos que os Estados Unidos irão receber nos próximos anos (da Copa do Mundo Fifa à Olimpíada de Los Angeles, passando pela celebração de 250 anos do país e os 100 anos da Rota 66):

  • Garantir a excelência desses eventos para visitantes e participantes em geral, com o padrão que se espera de um evento nos EUA;
  • E ao mesmo tempo passar a mensagem de que os turistas internacionais são muito bem-vindos, a despeito de percepções, que, segundo ele, estão erradas ou distorcidas.

Em entrevista à PANROTAS, durante o IPW 2025, em Chicago, Freeman avaliou o impacto dessa percepção, que só tende a segurar a recuperação do Turismo americano, tanto das perdas desde a pandemia de covid-19, como da diminuição da participação global da indústria de Viagens americana, que desde 2015 caiu de 12,8% para 9,1%.

  • Segundo o estudo “Seameless and Secure Travel” (Viagens seguras e fáceis), da US Travel, só a recuperação desse share perdido resultaria, em dez anos, em 127 milhões de visitantes adicionais, além de US$ 478 bilhões extras em gastos e 140 mil novos empregos.
  • Os eventos de 2025 a 2028 (Ryder Cup, 250 anos dos EUA, Copa do Mundo Fifa 2026 e Olimpíada de Verão 2028), se alinhados com as políticas certas de estímulo ao Turismo, poderão gerar US$ 95 bilhões em impacto econômico e 40 milhões de turistas estrangeiros.

“Somente os Estados Unidos têm a capacidade e o know how de fazer tantos eventos grandiosos em tão pouco tempo. Como fazemos o Super Bowl todos os anos e tantos outros. Mas precisamos que eles saiam com a qualidade e o padrão esperado dos eventos americanos”, disse Geoff Freeman, que iniciou uma campanha com o Senado dos EUA para que não aprove o projeto de cortar 80% do orçamento da Brand USA.

É o momento em que o país mais precisa de uma agência de promoção, ainda mais com a concorrência de pesos pesados do Turismo, como a Espanha e a França (já à frente dos Estados Unidos), a China, que deve passar os EUA como maior mercado de Viagens e Turismo na próxima década, e emergentes (no Turismo) como a Arábia Saudita, que anunciou investimentos de US$ 1 trilhão para atrair 100 milhões de visitantes até 2030, e a Índia, que quer chegar a 3 bilhões de passageiros aéreos até 2047.

Ou seja, os Estados Unidos precisam estar unidos, modernizados, antenados e com governo e iniciativa privada lado a lado, para que essas novas potências não se distanciem ainda mais.

Entre as sugestões da US Travel estão os investimentos em tecnologia nas fronteiras e aeroportos, a criação de um novo órgão para cuidar dos vistos de turistas, a extensão dos vistos B1/B2 por dois anos para facilitar o planejamento para os grandes eventos, a inclusão de mais países nos programas Visa Waiver e Global Entry, e, claro, a manutenção do financiamento da Brand USA, que para cada dólar investido recebe como contrapartida o mesmo valor da iniciativa privada e destinos regionais.

Encontro em Chicago

O IPW 2025, segundo Freeman, está um pouco menor que o de Los Angeles, mas maior que o de San Antonio, dois anos antes. A delegação canadense está sim, menor, por conta das questões políticas recentes, e os asiáticos estiveram em maior número na Costa Oeste. “Em geral, os IPW da Costa Oeste recebem mais público, mas estamos muito felizes com a energia da feira, com a qualidade dos compradores, com os estandes muito bonitos e profissionais, e com a hospitalidade de Chicago. O evento é forte e um sucesso. Um momento muito importante para reunirmos compradores de todo o mundo e reforçar as mensagens de que estamos abertos para todos os turistas desses países, com muitos produtos, novidades, destinos, nichos... Como sempre fizemos.”

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Geoff Freeman falou com Artur Luiz Andrade durante o segundo dia do IPW 2025, em Chicago
Geoff Freeman falou com Artur Luiz Andrade durante o segundo dia do IPW 2025, em Chicago

Entrevista com Geoff Freeman, CEO e presidente da US Travel Association

PANROTAS – Há uma percepção de que o IPW de Chicago está um pouco menor, tanto em tamanho de estandes, como em quantidade de participantes. Confere essa percepção?

GEOFF FREEMAN – O evento é forte e continua forte. É sempre um pouco mais forte quando estamos na Costa Oeste, muito por conta do mercado asiático. O evento deste ano é maior que o de San Antonio, em 2023, e provavelmente um pouco menor que Los Angeles. Mas o que ouço das pessoas é que, dada a incerteza do mercado, isso parece muito bom.

PANROTAS – Nós vemos, por exemplo, menos participantes brasileiros, mas uma qualidade muito boa, em relação a outros anos.

FREEMAN – Acho que, pelo que ouço da maioria dos expositores, que a qualidade está mesmo se sobrepondo. E isso é muito bom.

PANROTAS – Já em relação aos canadenses, a delegação está realmente menor...

FREEMAN – É uma questão pessoal para os canadenses e é uma questão que precisamos abordar. O Canadá é o nosso maior mercado emissor. Valorizamos imensamente o visitante canadense e temos trabalho a fazer para reconquistar seus clientes. Quanto mais cedo superarmos esta situação, melhor.

PANROTAS – Durante o primeiro almoço do IPW, você fez um discurso muito bom sobre o que deve ser feito para combater essa crise de imagem. Poderia resumir o que se espera da indústria e do governo nesse momento?

FREEMAN – Temos que deixar bem claro (para todos os turistas internacionais) que os Estados Unidos estão abertos para negócios. Há uma percepção formada em algumas partes do mundo de que os EUA não são tão acolhedores quanto antes, que você pode ser detido, revistado pela polícia, e os viajantes estão se perguntando se é seguro. Precisamos enviar uma mensagem clara de que queremos que todos vocês venham. Os Estados Unidos estão abertos para negócios, em primeiro lugar.

E, em segundo lugar, precisamos reconhecer que a experiência nem sempre é tão tranquila quanto deveria ser. Vários aspectos são um obstáculo, seja a passagem pela alfândega no aeroporto, alguns dos elementos do transporte nas cidades. Como podemos, em nome do nosso cliente, trabalhar um pouco melhor juntos para tornar o processo um pouco mais tranquilo? Acho que há trabalho que podemos fazer nesse sentido.

PANROTAS – Por exemplo, o que pode ser feito?

FREEMAN – Podemos usar o exemplo de Chicago um destino com tantas coisas ótimas a oferecer. Mas a experiência às vezes, com o trânsito, especialmente do aeroporto ao centro da cidade, pode ser desafiadora. Como podemos trabalhar juntos? Estive com o chefe da autoridade aeroportuária no domingo à noite, e foi essa a conversa que tivemos. Ele está preocupado com o aeroporto, mas também está pensando: "Ok, não vou ter pessoas no aeroporto a menos que eu consiga facilitar o processo de ida até o centro da cidade". Então, como nós, como indústria, trabalhamos juntos em nome do viajante para resolver algo assim? Esse é um exemplo. Há outras lentidões no processo. Mencionei a alfândega. Estamos trabalhando como indústria com o CBP para mudar a forma como examinamos os americanos que retornam ao país, o que melhoraria sua experiência e forneceria mais funcionários para se concentrar em viajantes estrangeiros, o que melhoraria sua experiência. Essas são duas áreas em que podemos fazer uma grande diferença.

Acho que todo esse conceito de que os Estados Unidos estão abertos para negócios... queremos que você venha. Temos outros eventos que estão por vir, não podemos desperdiçar essas oportunidades. Temos que usar esta oportunidade para mostrar o melhor dos Estados Unidos para que possamos impulsionar o aumento de viagens nas próximas décadas.

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PANROTAS – Sobre os grandes eventos que estão por vir, a infraestrutura é um dos desafios e o governo tem abordado o tema, como no anúncio de investimentos para o controle aéreo. O que mais deveria ser feito para garantir uma infraestrutura impecável nesses eventos e no dia a dia do Turismo?

FREEMAN – Devo dizer o seguinte: nenhum país do mundo que eu conheça é capaz de realizar esses eventos em escala como os Estados Unidos. Com um Super Bowl todo ano, com a realização das Olimpíadas em cidades diferentes, que é a escala dos eventos que realizamos.

Estive no Brasil para a Copa do Mundo de 2014, e houve ótimos aspectos. Mas houve problemas reais de infraestrutura em Manaus, em Recife. Nossa infraestrutura é bastante forte nesses mercados que estão indo para lá. Podemos melhorar.

O secretário Duffy, de Transportes, está liderando os investimentos no sistema de controle de tráfego aéreo. Vai levar algum tempo para fazer isso, mas é o que precisamos fazer. Estamos com 3.000 controladores de tráfego aéreo a menos do que deveríamos ter. Estamos trabalhando para isso. Acho que o que pode ser feito a curto prazo são algumas melhorias na alfândega para agilizar a entrada de viajantes no país. Em seguida, quando olhamos para os jogos que serão em Seattle e Vancouver, como podemos garantir que criaremos uma experiência perfeita nesse deslocamento? Como analisamos os elementos da TSA e implementamos rapidamente algumas medidas que permitam aos viajantes manter seus sapatos e cintos, e manter seus líquidos em suas garrafas? Esse tipo de coisa é o que estamos analisando.

Acho que, do ponto de vista da infraestrutura geral, os EUA estão extraordinariamente bem preparados. Estamos trabalhando com a força-tarefa da Copa do Mundo. Os jogos vão correr muito bem. A questão é: eles vão atender aos nossos padrões? Eles vão correr tão bem quanto possível para mostrar o que temos a oferecer ao mundo e manter as pessoas aquecidas e interessadas em voltar?

PANROTAS – Há um pequeno teste em andamento, que é o Mundial de Clubes da Fifa. Muitos brasileiros estão vindo para cá. Você tem acompanhado o evento?

FREEMAN – A pessoa que lidera a Força-Tarefa da Copa do Mundo não está aqui no IPW exatamente porque teve que resolver algumas coisas relacionadas à Copa do Mundo de Clubes. Eles estão ajudando com isso. Acho que a ausência de notícias ou alarmes sobre o evento, em alguns aspectos, é uma boa notícia. As coisas têm sido tranquilas. Vimos com a Copa América do ano passado que as coisas não foram tão tranquilas em algumas dessas cidades. Até agora, tudo bem. As coisas estão tranquilas.

Esta é a primeira vez desse Mundial, então tenho certeza de que haverá aprendizados. Uma sensação de calma é um bom sinal para mim de que as coisas estão indo bem.

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Pavilhão principal do IPW 2025
Pavilhão principal do IPW 2025

PANROTAS – E qual é a sua avaliação da feira? Alguma coisa mudou? As pessoas estão procurando por novos produtos, por novos destinos?

FREEMAN – Em primeiro lugar, acho que adorei a agitação no salão de exposições. Há muito entusiasmo. Há muita energia. Você mencionou que está tudo muito lindo. Estamos investindo muito tempo e esforço para aprimorar o espaço da feira para que seja mais agradável e amigável. Sim, temos todo o sistema de reunião agendas. É sobre fazer negócios, mas também para mostrar os Estados Unidos, certo? Então temos sim, lindos espaços aqui. Temos a Disney bem aqui. A Universal, eu acho, que está com um estande fabuloso. Anaheim, outra ótima exposição. A Brand USA. Você vê as pessoas realmente investindo em como querem mostrar os Estados Unidos. Eu adoro isso. Acho ótimo ver isso.

Das novidades de produtos, o que ouço repetidamente é essa ênfase no luxo. É aquele viajante de luxo que continua viajando, continua gastando dinheiro de verdade, e acho que vemos cada vez mais pessoas enfatizando isso.

PANROTAS – E o que você tem ouvido sobre o mercado brasileiro?

FREEMAN – O mercado brasileiro é incrivelmente importante para os EUA e muito resiliente. Eu estava conversando com algumas pessoas aqui hoje, o que ouço é: eles (o brasileiros) não dão ouvidos ao barulho que existe por aí. Eles ainda querem vir para os EUA. Eles estão vindo em grande número.

PANROTAS – Se for fácil, se for acessível, estamos aqui.

FREEMAN - E essa é uma das questões. E falamos sobre isso. Uma grande preocupação que ouço é o custo. O custo vem com um dólar americano forte. Não há muito que possamos fazer sobre isso. Mas se for caro... podemos buscar valor. Podemos buscar valor para esse preço mais alto a ser pago. E a experiência precisa ser muito boa, certo? Porque se você está pagando muito, não vai aceitar nada menos do que uma boa experiência. E devemos isso às pessoas quando se trata da fluidez da experiência.

PANROTAS – Sim e esse é um momento em que o processo de vistos no Brasil melhorou muito. Precisa aproveitar essa maré...

FREEMAN – Precisamos dar crédito ao Departamento de Estado por essa melhora no Brasil. O Brasil é um bom exemplo do que pode ser feito. Se conseguimos consertar (o processo de vistos) no Brasil, podemos consertar em outros mercados também, como na Colômbia, no México...

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Geoff Freeman
Geoff Freeman

PANROTAS – Para encerrar, gostaria da sua visão sobre o risco do corte de financiamento da BrandUSA. Você iniciou uma campanha para sensibilizar os senadores. Está funcionando?

FREEMAN – A BrandUSA é incrivelmente importante para nós. Ajudamos a criar a BrandUSA há 15 anos. Ela desempenha um papel fundamental para o setor. Temos alguns desafios agora, quando se trata do financiamento da BrandUSA. Mas ativamos o setor, pedimos que se engajassem em nome da BrandUSA, e enquanto caminho pelo salão aqui, as pessoas vêm até mim para dizer: "Entrei em contato com meu senador, liguei para meu membro do Congresso, estou fazendo isso, estou fazendo aquilo". O setor está engajado de uma forma que nunca vimos antes. É fantástico ver, e estou muito otimista sobre o que vamos conseguir com a BrandUSA. Isso não significa que não teremos alguns questionamentos pertinentes ao longo do caminho, mas Fred (Dixon, CEO da Brand USA) e eu estamos trabalhando muito próximos.

PANROTAS – Se todos os Estados americanos estão aqui no IPW de Chicago, é uma prova de que o Turismo é importante para cada um deles... Por que então cortar o orçamento de quem está promovendo e atraindo a vinda de mais turistas

FREEMAN – Há alguns membros no Congresso que não acreditam que o governo deva ter um papel nisso. Acho que eu argumentaria agora, particularmente agora, que é uma ótima oportunidade para o governo se fazer presente. Quando viajantes têm percepções equivocadas sobre serem detidos, sobre terem seus dispositivos revistados, o governo precisa se envolver. O governo precisa se envolver mais agora do que nunca, e esse é o argumento que estamos usando.

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Fred Dixon, presidente e CEO da Brand USA, fala sobre os grandes eventos que os Estados Unidos receberão
Fred Dixon, presidente e CEO da Brand USA, fala sobre os grandes eventos que os Estados Unidos receberão

Uma década de grandes eventos nos EUA

Milhões de visitantes estrangeiros são esperados para:

2025

  • Fifa Club World Cup (acontecendo agora, com quatro times brasileiros – Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras)
  • Ryder Cup

2026

  • Fifa World Cup
  • America250 (250 anos dos Estados Unidos)
  • 100 anos da Rota 66

2028

  • Olimpíada de Verão em Los Angeles
  • Paraolimpíada

2031

  • Copa do Mundo Masculina de Rugby

2032

  • Copa do Mundo Feminina de Rugby

2034

  • Olimpíada de Inverno em Salt Lake City
  • Paralimpíada de Inverno

A PANROTAS viaja a convite da US Travel Association, Choose Chicago, Illinois e United Airlines, com proteção GTA



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