Parcelamento em excesso pode comprometer finanças das agências, alerta economista
Guilherme Dietze aponta riscos do modelo de vendas parceladas excessivamente no Turismo

FORTALEZA (CE) — Em sua palestra durante o PANROTAS Next Fortaleza, realizada nessa terça-feira (20), o economista Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, chamou atenção para os desafios que o cenário econômico impõe ao setor de viagens no Brasil.
Um dos pontos centrais de sua fala foi o alerta sobre os riscos crescentes do excesso de parcelamento nas vendas de pacotes turísticos, especialmente em um contexto de alta de juros.
Segundo Dietze, o modelo de vendas parceladas, embora amplamente utilizado por agências e operadoras para facilitar o acesso do consumidor às viagens, pode comprometer a saúde financeira das empresas, principalmente diante de taxas elevadas cobradas pelas operadoras de cartão e instituições financeiras.
"Uma venda de R$ 10 mil parcelada em 12 vezes, por exemplo, pode gerar uma perda de até 22% do valor da transação quando se considera uma taxa de antecipação mensal de 3% e demais encargos", explicou o economista. "Quanto mais parcelas se oferecem, maior é o custo de antecipação, o que acaba corroendo a margem de lucro da empresa", completou.
Dietze destacou que muitas empresas, ao optarem por antecipar os valores das vendas parceladas, acabam ficando descapitalizadas e vulneráveis no momento de honrar compromissos com fornecedores.

"Você antecipa o valor, perde dinheiro, e quando chega a hora de pagar pelo serviço que foi vendido, o caixa não comporta. Isso pode gerar uma ruptura na entrega e, em casos extremos, levar ao fechamento do negócio"
alertou, pintando um cenário hipotético mas possível para empresas do mercado de viagens.
O economista enfatizou que o modelo de parcelamento precisa ser revisto ou, no mínimo, gerido com mais cautela. "Não se trata de dizer que parcelar é errado, mas é necessário refletir sobre o impacto dessa prática no médio e longo prazos, tanto para as empresas quanto para os consumidores", disse, completando que o relacionamento com o cliente deve ser construído ao longo do tempo.
"Não é uma venda pontual que garante a fidelidade. O que mantém o cliente é a entrega consistente e a confiança no serviço"
acrescentou Dietze
Cenário atual é de custos elevados
O palestrante também destacou que o atual cenário de custos elevados e câmbio volátil exige uma postura mais estratégica das empresas do setor de Turismo. "As condições mudaram. As empresas que apostaram em estabilidade e seguiram financiando o consumo sem rever suas estratégias estão enfrentando dificuldades", disse.
Na sua fala, o representante da FecomercioSP abriu um debate sobre práticas comerciais e sustentabilidade financeira no setor de Turismo, num momento em que o mercado encara de perto algumas crises com operadoras em reorganização e busca se adaptar a um novo ciclo econômico no qual os consumidores cada vez mais exigentes e sensíveis a preço.
Além de palestras como a de Guilherme Dietze, o PANROTAS Next Fortaleza contou com o apoio de patrocinadores como Turismo de Curaçao, Iberia/British Airways, Governo do Estado da Bahia, Bahia Turismo, Viaje Paraná, Visual Turismo e Hotel Gran Marquise.