Karina Cedeño   |   21/05/2025 17:01
Atualizada em 21/05/2025 17:48

Custos altos e menos navios: equação da temporada 2025-2026 no Brasil

Temporada registrou números históricos, mas também trouxe preocupações para o setor de cruzeiros


PANROTAS/Emerson Souza
Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil
Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

A temporada de cruzeiros 2024-2025 no Brasil foi a maior de todos os tempos. Com mais de 170 dias de duração, nove navios e uma oferta de 860 mil leitos, ela foi um grande sucesso, nas palavras do presidente da Clia Brasil, Marco Ferraz.

“A oferta de 860 mil leitos nessa temporada foi muito próxima à do ano anterior, na qual tivemos 844 mil cruzeiristas. Então, imaginamos que o número de cruzeiristas da atual temporada seja próximo a isso”, comenta Ferraz, lembrando que os dados oficiais da temporada de cruzeiros 2024-2025 serão divulgados no 7º Fórum Clia Brasil 2025, que acontece no dia 3 de setembro em Brasília (DF).

Com o fim da temporada neste ano, é hora de olhar para a próxima. Mas em mares brasileiros, ela traz uma onda de preocupação.

Temporada 2025-2026 no Brasil terá dois navios a menos

O presidente da Clia Brasil conta que haverá, na próxima temporada, uma redução na oferta: serão dois navios a menos. “Isso equivale a uma redução de 200 mil leitos, o que pode ter um impacto em 18 mil empregos e redução de R$ 1,2 bilhão na economia”, explica Ferraz.

“Essa é a perspectiva que temos hoje. Claro, a gente ainda está em abril e vale lembrar que no ano passado até apareceu um navio em junho, mas hoje a fotografia que temos é de duas embarcações a menos. Lógico que iremos trabalhar para reverter isso, não só para resgatar, trazer de volta os navios que a gente está perdendo, mas também para trazer outros”

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

Nesse aspecto, ele cita os navios de cabotagem. “Temos a operação de cabotagem que a Costa e MSC fazem no País e os navios de longo curso que estão dando a volta ao mundo, se posicionando em Ushuaia para fazer cruzeiros pela Antártica, então também estamos trabalhando para que esses navios parem mais aqui”.

Clia quer cruzeiros de todos os tipos nas prateleiras das agências

Diante dos desafios do setor, as agências de viagens se tornam cada vez mais importantes na venda de cruzeiros. “As agências são responsáveis por mais de 75% das vendas de cruzeiros no Brasil e a Clia tem isso como prioridade”, destaca Ferraz.

“Queremos lançar um site de treinamento para os agentes de viagens aqui no País, assim como já é feito nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Austrália. Há hoje mais de 15 mil agências associadas e, dentro delas, 80 mil agentes cadastrados no site da Clia se capacitando”

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

“Iremos trazer isso para o País e queremos ver cruzeiros de todos os tipos nas prateleiras dos agentes. Ainda tem muito agente de viagens que não vende cruzeiro no Brasil e quando eles começarem a vender, aprenderem sobre o produto e ficarem mais confortáveis com ele, não vão querer voltar atrás”. Marco Ferraz destaca também a realização da segunda edição do evento Cruise360, que reuniu quase 800 participantes em Santos (SP) no mês de março.

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"Queremos ver cruzeiros de todos os tipos nas prateleiras dos agentes", ressalta Ferraz

“Foram quatro navios para visita técnica e um dia de treinamento com os nossos associados, apresentando o que eles têm de navios, de itinerários, de cabines, de investimento no futuro com novas embarcações. Foi um sucesso e já estamos trabalhando na terceira edição do evento, para que ela seja igual ou até melhor do que a realizada neste ano”.

Cruzeiros de luxo e de expedição estão em alta

Entre as tendências observadas pelo presidente da Clia Brasil, a busca por cruzeiros de luxo e de expedição tem crescido muito.

“Temos esses cruzeiros passando pelo País, principalmente no começo e no final da temporada, quando os navios estão subindo de Ushuaia ou descen - do para o destino. Eles fazem escalas em lugares que os navios maiores não fazem e, nessa temporada, já vimos na - vios em Itacaré (BA), Morro de São Paulo (BA), Paraty (RJ), Ilha Anchieta (SP), São Francisco do Sul (SC), Abrolhos (BA), e temos visto bastante procura das com - panhias para conhecerem mais o Brasil. Por isso, estamos trabalhando com elas para que esses navios possam cada vez mais estar parando aqui”.

Eventos a bordo

Eventos em navios também são outra grande tendência, segundo Marco.

“Vemos muitos casamentos sendo realizados a bordo e cada vez mais eventos corporativos. Os cruzeiros têm toda a estrutura para esses eventos, seja ocupando 20 cabines ou o navio inteiro; é possível realizar uma venda personalizada para a empresa fazer o seu incentivo, a sua reunião. As embarcações têm sala de reunião e até mesmo o teatro pode ser disponibilizado. Isso sem contar a área da piscina e os restaurantes, que também podem ser usados”

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

Nesse sentido, as empresas podem escolher os destinos onde o navio pode parar, excursões exclusivas, com eventos em terra também, day use em hotéis. “Até o antes e depois do cruzeiro a gente tem percebido que as empresas têm aproveitado, além da estrutura do navio para fazer seus eventos”.

Quanto ao público dos cruzeiristas, ele é bastante diversificado. “A idade média do cruzeirista no Brasil está em torno de 43, 44 anos. Mas vemos a presença multigeracional nos navios, muitos avós com filhos e netos, temos visto também cruzeiristas que viajam sozinhos e tem crescido a busca de cruzeiros pelas novas gerações”.

Sustentabilidade em foco

Divulgação
Sempre em alta no setor de cruzeiros, a questão da sustentabilidade ainda tem desafios a serem superados
Sempre em alta no setor de cruzeiros, a questão da sustentabilidade ainda tem desafios a serem superados

Sempre em alta no setor de cruzeiros, a questão da sustentabilidade ainda tem desafios a serem superados. “A Clia se comprometeu a reduzir os gases efeito estufa em 40% até 2030 e em 100% até 2050. Também existe uma forte regulação para a troca dos combustíveis e a redução das emissões. E trabalhamos junto ao governo brasileiro, à Marinha do Brasil e ao Ministério de Minas e Energia para ter esses combustíveis aqui”.

“O Brasil defende muito o biodiesel, mas há outras alternativas, como o metanol e o gás natural liquefeito (GNL), que é o combustível de transição. Hoje não temos nenhum desses combustíveis. E os navios que estão sendo construídos já vêm prontos para eles. Ou seja, se a gente quer continuar a operar, a ter navios de cruzeiros aqui no Brasil e na América do Sul, os portos devem estar preparados”

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

“Também nessa linha, os navios na Europa, ao atracar, estão desligando seus motores e se conectando na energia dos portos. Precisamos de investimento nisso aqui no Brasil para que os navios possam se conectar. O investimento é alto, mas é necessário pensar nessa questão para daqui a três, quatro anos, termos os primeiros portos já oferecendo esse serviço”.

Por fim, o executivo destaca que a Clia tem regulamentos para cruzeiros que, em muitos casos, superam a legislação internacional para o tratamento de águas e esgotos, a diminuição de desperdício, o controle de lixo e reciclagem.

“Os navios têm diminuído a velocidade, o consumo, têm mudado, por exemplo, todas as lâmpadas para as de LED, utilizado ar-condicionado inteligente e as janelas são todas escurecidas para manter a temperatura dentro da cabine. Além disso, hoje as cabines desligam quando o hóspede sai. São ações que têm sido feitas para diminuir o consumo de combustível”, conclui Ferraz.

Esta matéria é parte integrante da edição especial de Cruzeiros da Revista PANROTAS:

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