Beatriz Contelli   |   10/07/2025 09:29

FecomercioSP alerta para perigo dos golpes digitais para as empresas do Turismo

Segundo a entidade, o setor se tornou um dos principais alvos dos golpistas


Especialistas apontam para negligência das empresas de tecnologia em garantir a segurança dos usuários
Especialistas apontam para negligência das empresas de tecnologia em garantir a segurança dos usuários

Perfis falsos em redes sociais, sites clonados e anúncios fraudulentos podem prejudicar desde pequenas pousadas até grandes plataformas de venda, comprometendo não apenas as receitas, como também a confiança nas marcas.

Para debater o assunto e alertar o Turismo nacional, o Conselho de Turismo da FecomercioSP reuniu representantes da Federação e especialistas como o professor David Nemer, pesquisador na Universidade da Virgínia e especialista em tecnologia e plataformas digitais. Na sua apresentação, ele citou a relação direta entre o crescimento das fraudes e a estrutura das próprias redes sociais.

“As plataformas se tornaram intermediárias centrais entre consumidor e empresa. Só que, ao mesmo tempo que ganham dinheiro com anúncios — inclusive os fraudulentos —, se eximem de qualquer responsabilidade quando o conteúdo é criminoso”

Professor David Nemer, pesquisador na Universidade da Virgínia e especialista em tecnologia e plataformas digitais

Segundo ele, a negligência das grandes empresas de tecnologia é alimentada pela ausência de regulação adequada e pela dificuldade de rastrear os golpistas, muitas vezes vinculados a quadrilhas internacionais.

O pesquisador também chamou a atenção para a facilidade com que os criminosos replicam imagens e dados legítimos. “As ferramentas das redes sociais permitem criar anúncios altamente convincentes em poucos minutos. A Inteligência Artificial usada para validar conteúdo ainda é falha e acaba sendo usada contra os próprios usuários”, alertou.

Responsabilidade das plataformas

Boa parte do problema, segundo Nemer, está no entendimento jurídico atual, que sofreu, na semana passada, uma mudança com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Por 8 votos a 3, a instância máxima do Poder Judiciário considerou parcialmente inconstitucional o Art. 19 do Marco Civil da Internet, ampliando a responsabilidade das plataformas por conteúdos ilícitos — principalmente em casos de anúncios pagos, impulsionamentos, discurso de ódio, pornografia infantil e atos antidemocráticos —, mesmo sem ordem judicial prévia.

Nemer acredita que essa mudança no entendimento reforça a necessidade de responsabilidade proativa. “É muito diferente quando um usuário posta algo de forma espontânea e quando uma empresa paga para anunciar um serviço falso. As plataformas estão ganhando com isso. Estas precisam ser responsabilizadas”, argumentou. Ele citou, ainda, dados indicando que 70 % dos anúncios nos sites da Meta são fraudulentos ou de baixa qualidade.

O especialista também lembrou que o setor de Turismo se tornou um dos principais alvos dos golpistas, em decorrência da popularização de pacotes on-line, reservas diretas e uso intenso de redes sociais. “Os golpes vão além da perda financeira. Há roubo de dados pessoais, como CPF e contas bancárias, que depois são usados em outros crimes”, observou.

Atuação da FecomercioSP

Na ocasião, Kelly Carvalho, assessora da FecomercioSP, apresentou os dados mais recentes a respeito do impacto dos crimes cibernéticos para o Brasil. Segundo ela, essas fraudes já representam cerca de 18% do PIB nacional, com forte reflexo sobre os pequenos negócios — muitos destes parte da cadeia turística.

“O crime cibernético deixou de ser um problema econômico. Hoje, é uma questão de segurança pública e de soberania nacional”, afirmou. Kelly ressaltou ainda que 60% das pequenas empresas encerram as atividades em até seis meses após sofrerem um ataque digital.

A Federação tem apresentado propostas ao Congresso e ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Também participou da criação da Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança, momento em que entregou um decálogo com dez premissas para uma regulação equilibrada e eficaz — como a criação de uma entidade nacional de coordenação, incentivos para a capacitação de empresas e uma rede de resposta a incidentes.

“A autorregulação das plataformas não tem sido suficiente. É preciso criar uma estrutura normativa clara, com regras proporcionais ao porte dos negócios e que não penalize quem está tentando atuar de forma legítima”, defendeu.

O presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze, enfatizou a importância da mobilização empresarial diante do avanço das fraudes. “Os prejuízos não se restringem ao golpe em si. Há também a perda de reputação, a desconfiança do consumidor e a sensação de impunidade. Precisamos nos organizar para pressionar por respostas e defender os interesses do setor”, declarou, reforçando a urgência em adaptar práticas no ambiente digital.

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