Da Redação   |   05/04/2022 09:49

"Como uma mulher preta se tornou referência no Turismo de luxo"

Em artigo, Rogéria Pinheiro, fundadora da RP Travel, conta sobre sua trajetória no setor



A edição especial da Revista PANROTAS com a lista dos melhores distribuidores de viagens já está no ar. Além da premiação dos Melhores do Turismo, o material apresenta reportagens especiais sobre tendências no Turismo, artigos sobre diversidade e novidades da WTM Latin America. O artigo a seguir é parte integrante da edição 1.514.

O texto escrito pela fundadora e mentora da RP Travel & Business Education, Rogéria Pinheiro, integrante do Comitê de Diversidade da WTM Latin America, conta a trajetória de Rogéria como mãe solo empreendedora e como é enfrentar o racismo em todos os mercados, incluindo o Turismo de luxo.

Confira na íntegra

Reprodução/ Youtube Rogéria Pinheiro
Rogéria Pinheiro
Rogéria Pinheiro
"Como uma mulher preta se tornou referência no mercado de Turismo de luxo

Quando surgiu a oportunidade de entrar no mercado de luxo, eu, mulher preta, nascida na periferia, pensei: é a hora! Para muitos, foi sorte. Para mim, foi a oportunidade. Porque sorte é quando algo cai no seu colo, muitas vezes imprevisivelmente. Mas oportunidade você cava, busca, luta, procura. E quem nasceu sem privilégios, querendo mudar uma realidade, faz isso desde os primeiros anos de vida.

Era 2000 e a Teresa Perez caminhava para se posicionar como a grande referência no mercado de Turismo de luxo no Brasil. Mas eu só descobri isso após uma entrevista com a própria Teresa, que me deixou encantada com tantos nomes de destinos que eu nem imaginava serem possíveis explorar. E, mesmo sem a menor noção de como eu daria conta, eu pedi uma chance de trabalhar com ela e me comprometi: “Sra. Teresa, eu não sei sobre nada do que a senhora está falando, mas o que me ensinar eu vou aprender”. Essa foi a frase que mudou a minha vida para sempre.

Essa confiança, que precisou ser muito trabalhada, é parte do legado que meus pais construíram e seguem ainda construindo. Cresci ouvindo que eu não podia baixar a cabeça para ninguém, que eu não deveria deixar que me rebaixassem, que eu precisava ser duas vezes mais excelente, aparência sempre asseada, português impecável e sempre muito atenta. Eu fiz o máximo que pude para cumprir toda essa lista. Mas somente aos 40 anos de idade fui entender que todas essas recomendações tinham a ver com a cor da minha pele. Nas entrelinhas, a informação estava lá.

Vinte anos se passaram e, durante os dez que trabalhei vendendo viagens para a mais alta sociedade brasileira, aprendi muito do que sei hoje. Cada dia que eu acordava era uma oportunidade. Cada treinamento de que eu participava, era uma oportunidade. As viagens começaram a acontecer e, para mim, tudo era uma oportunidade que me preparava para o meu real propósito. Viajei pelo mundo, frequentei os melhores hotéis, mas um sentimento me acompanhava: a solidão. Não ver outras pessoas, principalmente mulheres pretas, nestes mesmos lugares, começou a me causar um incômodo.

Quando decidi empreender, em 2010, não foi por ser visionária, mas por ter me tornado uma mãe solo que queria ver o filho crescer mais de perto. Foi o primeiro passo nesse outro solitário caminho que as pioneiras trilham. Hoje, estar à frente da RP TRAVEL EDUCATION e ser convidada para dar voz a outras mulheres pretas através do Comitê de Diversidade da WTM Latin America me fazem sentir muito orgulho e também o peso da responsabilidade.

Pouco a pouco, mulheres pretas, donas de suas agências de viagens, se conectam a mim - e suas vozes começam a se juntar à minha! Foram muitos anos caladas para ninguém reparar que estávamos lá. E agora é natural que a gente não queira que ninguém nos tire desse lugar.

Hoje, acessar nossa consciência racial nos empodera e abre caminhos para que a próxima geração desfrute e prospere. A representatividade está diretamente conectada com diversidade, inclusão, respeito e oportunidade. Mais do que com força de vontade.

Todos os mercados, inclusive o de Turismo de luxo, precisam entender que já é assim, que nós já somos consumidores de alto impacto, já somos profissionais impecáveis. Não basta uma empresa colocar uma foto na propaganda e contratar recepcionista e copeira pretas pra cumprir as “cotas”, só pra dizer que é a favor de diversidade.

É preciso pensar políticas afirmativas e conscientes de comunicação, incentivo à formação e desenvolvimento desses profissionais. É preciso enxergar pessoas pretas como seu perfil de cliente dos sonhos.

Temos um caminho para trilhar, mas toda mudança começa aos poucos. E a confiança de que nossa voz importa muda a forma como a gente enxerga e veio a esse mundo. Se minhas ações e minha voz poderem inspirar e mover ao menos uma mulher preta a continuar sua caminhada, sei que terá valido a pena, pois ela vai inspirar e mover outras mais."


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