TTH Day 2025: trilha de estratégia debate planejamento que molda o futuro do Turismo
Evento de Tecnologia para o Turismo reuniu especialistas que trouxeram cases de aplicação

O Travel Tech Hub Day 2025 foi dividido em três trilhas de conteúdo que trouxeram especialistas em sessões educacionais para debater assuntos diversos, mas sempre conectados ä Tecnologia para o Turismo, assim como é o mote de todo o evento.
Na trilha de Estratégia, o objetivo foi trazer conteúdo de planejamento, liderança e decisões que moldam o futuro do Turismo – hoje. Os temas abordaram estratégia digital e crescimento sustentável no setor de viagens; liderança em tempos de transformação e novas tecnologias; o papel da governança e dados nas decisões estratégicas inovação com foco em resultado: da visão ao impacto e mais.
Confira a seguir um resumo de cada sessão educacional da trilha de Estratégia do TTH Day 2025.
Digitalizar para crescer – o futuro real dos pagamentos no Turismo brasileiro

O country manager no Brasil da Clara, Francisco Simon, abordou os desafios e soluções no setor de viagens corporativas destacando a singularidade dessa indústria. Com mais de 120 milhões de viagens a negócios anuais, no Brasil, o setor cresce e representa uma fatia significativa do PIB, mas enfrenta dores específicas.
Simon destacou cinco características que tornam a indústria única:
- Alta intermediação: múltiplas empresas (cliente corporativo, TMCs, consolidadoras, operadoras, hotéis, locadoras de carro, companhias aéreas, seguros, meios de pagamento) interagem para atender um mesmo cliente, gerando desafios operacionais e processos ineficientes, muitas vezes manuais;
- Multiplicidade de dados: cada transação envolve uma vasta gama de dados, não apenas transacionais, mas também informações do cliente, aprovações de reserva, processos internos da agência/TMC, confirmações de fornecedores e números de reserva, tornando a operação complexa;
- Dificuldade de conciliação: a grande quantidade de dados resulta em desafios enormes para conciliação, tanto para agências (em demonstrar transações e autorizações) quanto para clientes (em lançamentos contábeis por centro de custo). Isso pode levar a uma percepção de serviço ruim e baixo valor agregado;
- Necessidade de financiamento: clientes corporativos esperam prazos de pagamento, enquanto agências frequentemente precisam pagar fornecedores em tempo real ou antecipadamente. Isso gera uma constante demanda por financiamento, apertando as margens, especialmente com a taxa Selic a 15% ao ano.
- Margens apertadas: o cenário de alta intermediação, multiplicidade de dados e necessidade de financiamento ocorre em um mercado cada vez mais competitivo, com agências tradicionais e travel techs. O cliente corporativo possui alto poder de negociação, demandando precificação agressiva, o que, somado ao custo de capital (Selic), pressiona as margens para baixo.
“A visão para o futuro da indústria é de alta integração digital, uso de meios de pagamento inteligentes para acelerar o crescimento (agências usando capital para crescer, não para financiar), acompanhamento em tempo real (VCN, cartões inteligentes) e transformação contínua pela inteligência artificial. A Clara reitera que não somos uma agência, mas uma parceira que apoia a indústria de travel, oferecendo uma plataforma de gestão de pagamentos e reembolsos corporativos com IA, emissão ilimitada de cartões pós-pagos inteligentes e uma conta digital, com retorno sobre o saldo dos clientes de até 110% do CDI líquido", enfatizou Simon.
Conhecendo os profissionais do futuro – novo perfil de devs em um novo momento de mercado

A head da Rocketseat, Josi Assis destacou que o setor vive um contexto de mudanças aceleradas, marcado pela pressão por resultados, escassez de recursos e impacto direto da inteligência artificial.
“Estamos em um mundo não linear, em que carreiras também deixaram de ser lineares. As empresas têm menos dinheiro, menos mão de obra e precisam fazer mais com menos. Isso exige profissionais mais generalistas, que consigam circular entre diferentes áreas e habilidades”, afirmou.
Josi ressaltou que funções padronizadas estão em processo de extinção e que a verdadeira transformação passa por uma mudança de crenças, não apenas de ferramentas. “A questão nunca foi tecnologia, mas cultura organizacional. Não basta contratar devs ou comprar soluções: é preciso orquestrar pessoas, metas e aprendizado.”
Entre os principais insights da apresentação, destacam-se:
- Potencial precisa ser transformado em experiência: treinar, capacitar e expor talentos a desafios é o caminho para desenvolver novas habilidades.
- Profissionais híbridos: o futuro está em perfis que combinam lógica, frameworks e código com criatividade, pensamento crítico e intuição.
- Fim do trabalho “mediano”: quem insiste em atuar da mesma forma há anos está fadado a ficar para trás. Funções repetitivas e padronizadas tendem a desaparecer.
- ROI não é suficiente: empresas precisam pensar também em LOI (impacto do aprendizado) e COI (custo da capacitação), orquestrando melhor investimentos em tecnologia.
- Novas habilidades em destaque: interpretar o invisível, conectar cálculos da máquina ao que ela não entende e valorizar soft skills como criatividade e resolução de problemas complexos.
- Lideranças em transformação: líderes devem orquestrar estratégia, cultura e tecnologia, investir em educação executiva como prioridade e manter programas contínuos de capacitação e retenção.
IA na Prática – uma sessão para transformar ideias em eficiência real

A head de Inteligência Artificial da Ambev/Zé Delivery, Luiza Sangalli, apresentou como a aplicação de IA, principalmente agentes de IA, podem transformar ideias em resultados reais e mensuráveis.
No Zé Delivery, a executiva contou que a adoção desses agentes gerou ganhos de produtividade de até 70% na construção de sistemas. Para ela, o diferencial está em estruturar bem os prompts e aproveitar a memória dessas ferramentas, que se retroalimentam e ganham qualidade ao longo do tempo.
Entre os principais insights da palestra, ela destacou:
- Agentes especializados: é possível criar agentes de pesquisa, de mercado, de análise preditiva ou de design, que se consultam mutuamente para gerar respostas completas;
- Prompt bem estruturado: toda construção começa com uma meta clara, contexto detalhado, formato definido e exemplos;
- Contexto é rei: quanto mais informações relevantes e bem organizadas, mais qualidade o agente entrega;
- Impacto nos negócios: agentes conectados a buscadores e dados internos ajudam a entender concorrência, diferencial competitivo e prever cenários futuros.
Luiza também compartilhou uma lista de ferramentas de IA indispensáveis para empresas, divididas em seis segmentos:
- Prompt to App: Lovable, Bolt.new, Cursor
- Prompt to Data: ChatGPT, Claude
- Orquestradores: Zapier, N8n
- Prompt to Design: Motiff, Figma Make
Panorama Global – IA e Venture Capital em Transformação

Na palestra do fundador da Sunday Drops, Lucas Abreu, o executivo ressaltou que a inteligência artificial representa a revolução tecnológica mais impactante da história, superando até a transformação trazida pela era mobile. Para ele, a IA se diferencia por buscar replicar o cérebro humano – o sistema mais complexo e indecifrável que conhecemos – e já mostra impacto direto em como trabalhamos, consumimos e investimos.
Segundo Abreu, a democratização de habilidades é um dos pontos centrais. Assim como a internet democratizou o acesso à informação, a IA democratiza competências antes restritas a especialistas. Hoje, ferramentas como ChatGPT, Gemini e Claude já oferecem desde análises financeiras até orientações jurídicas básicas, alterando a lógica do sistema econômico.
O impacto no trabalho é inevitável. Abreu dividiu as tarefas em três blocos:
- Rotineiras, as primeiras a serem automatizadas.
- Técnicas, como programação, contabilidade e redação, já em processo de substituição parcial.
- Conhecimento tácito, relacionado a liderança, relações humanas e personalização, ainda preservado e cada vez mais valorizado.
Nas empresas, os efeitos já são sentidos: redução de pessoal, queda em vagas específicas – sobretudo desenvolvedores – e aceleração dos ciclos de criação e testes de produtos. Ainda assim, a chamada “última milha” da implementação segue como um dos principais desafios para organizações não nativas digitais.
No campo do Venture Capital, o contraste entre Brasil e mundo é evidente. Globalmente, foram investidos US$ 314 bilhões em startups em 2024, sendo US$ 100 bilhões apenas em IA – com rodadas bilionárias como as da XAI (US$ 12 bi) e OpenAI (US$ 6 bi). No Brasil, todo o volume investido foi de US$ 4 bilhões, valor inferior a uma única rodada internacional.
O alto custo de capital (juros de 14%) segue como grande entrave para o financiamento de risco. Ainda assim, a região demonstra resiliência: em 2023, fundos de VC captaram US$ 1,3 bilhão, e alguns dos maiores cases locais, como Nubank e QuintoAndar, nasceram justamente em períodos de crise.
Entre as tendências, Abreu destacou a concentração de capital, com apenas nove fundos norte-americanos captando metade de todos os recursos em 2024, além da escassez de rodadas Série A, fundamentais para consolidar startups. Para investidores, o grande desafio é separar hype de realidade em IA, sem paralisar decisões estratégicas.
“Estamos vivendo a curva mais rápida de adoção tecnológica da história. A questão não é se a IA vai transformar negócios e investimentos, mas como cada empresa vai se posicionar para não ficar para trás”, concluiu o palestrante.
O Travel Tech Hub Day 2025 conta com o patrocínio de Argo Solutions, Benner, Clara, Copastur, GRP, HotelDO, Jeeves, Larian AI, Lemontech, Ligaí, Mobility, Paytrack, Planne, Trend Viagens, Vale Pay e o apoio de Cubo, R1 e Tes.