Fernando Chirotto   |   03/08/2010 12:31

SNA: Tripulantes da Gol reclamam de escalas noturnas

Desrespeito à regulamentação do aeronauta e compreensão particular e conveniente à empresa no que diz respeito aos voos noturnos

"Desrespeito à regulamentação do aeronauta e compreensão particular e conveniente à empresa no que diz respeito aos voos noturnos". Segundo o diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, estas são as principais reclamações contra a Gol, que podem implicar em uma paralisação para o próximo dia 13, a qual, segundo ele, faria com que cerca de 200 co-pilotos e 400 comissários não se apresentassem para cumprir suas escalas.

“O movimento surgiu, principalmente, por parte de co-pilotos da companhia, que reclamaram do Crew Link, novo modelo de gestão da Gol, que faz com que a escala mude diariamente, o que é contra a lei”, explicou ele. “Soma-se este modelo com a interpretação que as companhias fazem do artigo 36 da Lei de Regulamentação Profissional do Aeronauta e o que temos são tripulantes submetidos à escalas noturnas em dias subsequentes”, completou.

Segundo Camacho, apesar de o artigo especificar que, após cumprir determinado período noturno o tripulante não poderia entrar na escala da noite do dia seguinte, com o novo modelo de escalas a companhia faz com que o mesmo tripulante voe à noite em dias seguidos. “Segundo a lei, ocorrendo o regresso de uma viagem, a tripulação volta para a base domiciliar e, no dia seguinte, não pode voar na madrugada. No entanto, por meio de uma interpretação errada da lei, a companhia ‘tira’ o tripulante da base e o escala para outro voo de madrugada. Acredito que o próprio legislador tenha se equivocado, permitindo esta brecha. No entanto, não estamos discutindo apenas o aspecto legal da questão, mas também a questão laboral, que entra na fisiologia do tripulante, o qual acaba tendo problemas como déficit acumulado de sono e estresse laboral”, detalhou. “Nestes casos, me pergunto: cadê a Anac? A agência que deveria regulamentar e fiscalizar estas leis”, alertou.

Ainda de acordo com ele, uma tripulação cansada quase provocou uma tragédia em um voo da companhia. “Não posso citar detalhes do voo e da tripulação, mas, no final de 2009, uma tripulação da Gol quase provocou um acidente. Aqueles colaboradores não iriam voar na madrugada e, por determinação da empresa, se apresentaram. Resultado: a aeronave teve uma aproximação equivocada que quase provocou uma colisão, o que foi impedido pelo sistema do próprio avião. E, o pior de tudo: o piloto acabou sendo demitido”, revelou ele.

SOLUÇÕES
Ao ser questionado sobre as soluções à divergência entre os tripulantes e a companhia, Camacho afirma que a Gol já respondeu às reclamações e está tomando providências. “A partir da reunião que teve com o SNA no final do último mês, o vice-presidente de Gestão & Pessoas da Gol, Ricardo Khauaja, ordenou o cancelamento do número necessário de voos em agosto para adequar a escala dos colaboradores”, revelou. Daí esses atrasos que estão ocorrendo.

Com isso, a paralisação seria evitada? “Se a companhia atender às reivindicações e comunicar isso aos manifestantes, acredito que o movimento diminuirá e a paralisação pode não acontecer”, ponderou, destacando que o movimento é anônimo e tem conseguido mais adeptos nos últimos dias.

Clique aqui para ler o blog que os pilotos da Gol criaram para falar sobre o movimento.

Em resposta às declarações, a Gol diz que está adequando a escala às necessidades de seus clientes e colaboradores.

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