Dayse Regina Ferreira   |   21/02/2014 12:22

Paris assiste a mais um leilão em hotel de luxo

Depois do Crillon e do Ritz, Paris se prepara para arrematar lembranças entre três mil objetos e oito mil garrafas de bebidas, que serão leiloadas entre 19 e 25 de maio pelo mítico hotel dos anos 1930 – Lutetia

Depois do Crillon e do Ritz, Paris se prepara para arrematar lembranças entre três mil objetos e oito mil garrafas de bebidas, que serão leiloadas entre 19 e 25 de maio, pertencentes ao mítico hotel dos anos 1930 – Lutetia. Um tesouro que vai se dispersar, para renovação completa do hotel, cujo projeto só espera a licença para demolir e construir. Só a fachada, esculpida por Léon Binet, será conservada.

Hotel de luxo no 6ème arrondissement, o Lutetia sempre foi o símbolo da arquitetura art deco e Belle Epoque. Elegante, o maior hotel da Rive Gauche, com seus móveis de época, seus fantásticos lustres de cristal, seus 230 apartamentos (60 suítes), foi referência da arte de viver francesa, feita de luxo e refinamento.

Lutetia é nome que relembra a cidade pré-romana que existiu em passado remoto, no mesmo local onde Paris nasceu. Louis–Charles Boileau e Henri Tanzin foram os arquitetos que projetaram para os proprietários, donos da loja de departamentos Bon Marché, do outro lado da praça Boucicaut, o prédio em estilo art deco, vanguardista, pois só viraria moda na França 15 anos depois.

No Boulevard Raspail, entre as estações de metrô Rennes (linha 12) e Sèvres Babylone (linhas 10 e 12), distante três quadras de St. Germain-des-Prés, perto do Palácio de Luxemburgo e do Museu Rodin, o hotel da Rive Gauche foi, desde sua inauguração em dezembro de 1910, um ponto de encontro de artistas e intelectuais. Foi lá que Matisse, André Gide, Picasso, Antoine de Saint-Exupéry e tantos outros nomes da pintura e literatura viveram ou passaram temporadas. Lá James Joyce escreveu parte de Ulysses e o general de Gaulle passou sua noite de núpcias.

MUITAS HISTÓRIAS
Durante a ocupação da França pelas tropas da Alemanha, na 2ª Guerra Mundial, o Lutetia foi requisitado pela Abwehr (contraespionagem) e usado como residência, restaurante e local de entretenimento dos oficiais no comando da ocupação, como Alfred Toepfer e o colaboracionista francês Remy de Mèrode.

Quando Paris foi libertada, em agosto de 1944, tropas alemãs abandonaram o hotel, sendo então ocupado pelas tropas americanas e francesas e usado como centro de repatriamento dos prisioneiros de guerra, pessoas que perderam lares e refugiados dos campos de concentração.

Quando Paris retomou os caminhos da vida normal, o hotel foi comprado pela família Taittinger, em 1955. Nos anos 1980 foi redecorado pela estilista Sônia Rykiel, que abriu butique no hotel e procurou recriar o estilo art deco de décadas passadas nas instalações. O Grupo Louvre dos Taittinger incluiu o hotel como parte da cadeia Concorde Hotels & Resort. Em 2005 o grupo Taittinger vendeu a cadeia para a Starwood Capital. Em 2010, por 150 milhões de euros, o Lutetia passou para as mãos do grupo Israeli Alrov.

O Lutetia fechará suas portas no dia 14 de março, mas o restaurante Paris deixa de funcionar a partir desta sexta-feira (21). Os trabalhos de renovação iniciam em 1º de junho. As obras deverão durar três anos e transformarão o Lutetia centenário em um mundo novo.

O LEILÃO
O leilão acontecerá durante uma semana, entre 19 e 25 de maio. Antes haverá uma exposição de quatro dias, no período de 15 e 18 de maio. Na mesa, um inventário de três mil peças, entre móveis e 300 obras de arte, objetos e móveis dos apartamentos, ou um lote das oito mil garrafas da cave, para comemorar lembranças. Experts estão de olho nos objetos das suítes que foram decoradas por artistas célebres, como Arman e Césa ou brasileiro Vicky Dinis.

TRADIÇÃO DOS PALÁCIOS
Os hotéis-palácio fazem sonhar aos compradores. Em abril de 2013, o leilão do Crillon ultrapassou todas as expectativas. Durante cinco dias foram vendidas 3,5 mil peças, atingindo a soma de 5,7 milhões de euros. O que faz prever ótimos resultados na venda promovida pelo Hotel Lutetia.

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