Janize Colaço   |   03/11/2016 19:11

Airbnb aposta em parcerias políticas para seguir crescendo

O modelo de negócios do Airbnb tem se mostrado, cada vez mais, um verdadeiro sucesso econômico. Com nova realidade de uma economia tecnologicamente conectada e compartilhada das empresas – sejam as recentes ou as que estão migrando – todos acabam por se obrigar&

Após um período de ascensão meteórica e, com isso, a hostilidade de alguns governos e empresas da hotelaria, o Airbnb vem aos poucos estabelecendo contatos na cadeia do Turismo para legitimar-se diante de todos.

Reprodução/Airbnb

Diretor do La Torre Resort e presidente da Associação Brasileira de Resorts (ABR), Luigi Rotunno comentou, em artigo, o momento atual do serviço de hospedagens alternativas e seus passos recentes na direção de se adequar em políticas regulatórias. Lembrando que, recentemente, o Estado de Nova York, nos Estados Unidos, aprovou lei que restringe a operação do Airbnb em seu território.

Confira abaixo o texto completo de Rotunno:

Quebra de paradigmas

Uma revolução em matéria de modelo de negócio, o caso do Airbnb é mais do que um sucesso econômico, ele representa uma mudança radical na forma de organizar as atividades empresariais nos tempos de uma economia tecnologicamente conectada e compartilhada. Uma verdadeira revolução que nos obriga a mudar a forma de pensar e, sobretudo, de legislar as atividades econômicas. Qual o tamanho desse desafio e como o mundo se transformou em volta desse novo modelo de negócio? É essa questão que tentaremos analisar neste documento avaliando o complexo modelo estratégico do Airbnb.

A primeira resposta ao sucesso do Airbnb, no âmbito do turismo, foi explicada ao alegar que existia uma demanda reprimida (pessoas querendo viajar) e uma oferta excedente (imóveis desocupados). Ao enxergar essa oportunidade, o Airbnb tornou-se uma das startup’s de maior sucesso da história, fazendo a conexão entre essas duas necessidades. Com essa explicação, os profissionais da área de turismo do mundo inteiro passaram por incompetentes sem visão.

Será que é assim mesmo? De forma alguma. Todos sabiam analisar o mercado, mas ninguém teve coragem ou tamanho necessário para infringir as leis, pois é disso que se trata. Empresários e investidores têm como dever analisar os modelos de negócios dentro dos parâmetros jurídicos, portanto, jamais teriam criado um modelo de negócio similar ao do Airbnb. A partir desse momento, entra a análise da palavra “disruptivo”, que caracteriza o modelo de negócio do Airbnb. É disruptivo o lado extremamente ousado de um modelo que desafia as leis para, depois, tentar regularizar-se mediante uma forte pressão popular e midiática.

Com uma postura de “too big to fail” (“grande demais para falhar”, em tradução livre) e apoio dos mercados financeiros ávidos de produtos que lucram, o Airbnb elaborou uma estratégia mista entre políticas e investimento.

Aproximação política

O aspecto que permitiu esse crescimento acelerado do Airbnb é a ausência de legislação específica para as economias compartilhadas. Essa característica torna-se uma desvantagem, um ponto fraco em cima do qual o Airbnb deve trabalhar assiduamente para defender seu modelo de negócio. Para frear as reformas legais que poderiam atrapalhar o funcionamento operacional, o Airbnb adota uma estratégia de aproximação com a classe política, contratando ex-prefeitos das principais cidades do mundo. Esses políticos tornam-se, muitas vezes, “garotos propaganda”, defensores do modelo de negócio compartilhado e criam um verdadeiro lobby político.

O novo Conselho Consultivo do Airbnb é representado por Michael Nutter, ex-prefeito de Filadélfia, Estados Unidos, que assume a diretoria do grupo. Annise Parker, ex-prefeita de Houston, Francesco Rutelli, ex-prefeito de Roma, Itália, e Stephen Yarwood, ex-prefeito de Adelaide, Austrália, também fazem parte do conselho. Michael Nutter aprovou, na Filadélfia, uma das normas mais liberais em prol da economia compartilhada, convencido do impacto positivo na estratégia. Nutter era prefeito quando o papa Francisco visitou a cidade, e foi bem naquele momento que legalizou a atividade do Airbnb.

O Airbnb também contratou Chris Lehane, veterano das estratégias políticas, agora à frente das políticas públicas da empresa. Sua tarefa é estabelecer o diálogo com prefeitos e entidades reguladoras dos mercados.

No Brasil, a aproximação política está acontecendo com a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo). O presidente Vinícius Lummertz acaba de fechar um acordo de parceria com o Airbnb para divulgar o Brasil no exterior. “Esta ação conjunta vai resultar na vinda de mais turistas estrangeiros para o Brasil pela força e credibilidade do Airbnb pelo mundo”, declarou Lummertz.

Entre as ações previstas nessa parceria está a troca de melhores práticas. A entidade planeja organizar viagens com jornalistas estrangeiros e utilizar os imóveis disponíveis pelo Airbnb. Além disso, poderá, também, definir quais os destinos brasileiros são mais interessantes para direcionar as campanhas de promoção do País.

A ABR elaborou um estudo completo sobre o Airbnb no mundo. Confira o material na íntegra aqui.

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