Artur Luiz Andrade   |   04/01/2010 12:02

Saudade inspira Paulo Salvador a analisar mercado

Paulo Salvador, hoje morando e estudando em Paris, analisa as tendências do turismo para os próximos anos e como o Brasil se encaixa nelas

SAUDADE

Por Paulo Salvador, jornalista, especialista do turismo, mora em Paris, onde faz seu mestrado em Sociologia na SciencesPo
E-mail: paulo-salvador@sciences-po.org

Fui olhar no Wikipedia o que eles dizem sobre a palavra saudade: ela so existe na língua portuguesa e diz a lenda que surgiu na época do Brasil colônia. Servia para definir a solidão dos portugueses em uma terra estranha e longe dos amigos. Saudade é geralmante considerada como a palavra mais dificil de traduzir para outras linguas: “ou a gente sente ou a gente canta”, dizem os fadistas portugueses.

Faz quase quatro anos que deixei o Brasil para vir morar nessas terras europeias como executivo internacional. Nesse tempo estive envolvido em missões com diversos países mas muito pouco com o nosso. Olhando o que aconteceu no Brasil nesses quatro anos meu coração bate de saudade e de alegria. E ao mesmo tempo vem uma enorme vontade de surfar em tantas ondas de oportunidades.

INTERNET
Em 2009 o número de internautas deve chegar a 68 milhões segundo o Ibope/Netratings. O Brasil se tornou o oitavo país do mundo em número de usuários, ficando na frente da Inglaterra e Franca por exemplo. Somado a isso, o volume de vendas on-line saltou de R$ 4 bilhões em 2006 para R$ 11 bilhões em 2009 com 17 milhões de e-consumidores. As oportunidades para o e-turismo na internet brasileira sao enormes: segundo a consultoria e-bit, a categoria viagens aparece entre os cinco principais itens de compra preferido dos internautas brasileiros. Se olharmos como esse mercado revoluciona o turismo em mercados maduros dos EUA e Europa, com gigantes como Expedia, Bookings e Priceline ou emergentes como TripTV, ainda vemos o mercado brasileiro como um vasto campo de oportunidades para atores inovadores no turismo.

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Esse é o dado mais emblemático: todos os indicadores sociais ressaltam o avanço do Brasil nesse campo, com mais crianças frequentando por mais tempo as escolas (certamente o desafio agora é melhorar o ensino), menos pessoas consideradas na linha de miséria e um crescimento espantoso da classe média. Nos últimos quatro anos, mais de 20 milhões de pessoas (10% da população) bascularam das classes D e E para a classe C. Os investidores internacionais consideram esse indicador como o mais importante na hora de investigar o crescimento de um país emergente. Quanto maior for a curva de crescimento da classe média de um país, mais bem fundamentada está a economia e mais oportunidade de venda de produtos. Dentre os países do bloco do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) o Brasil possui o melhor indicador na geração de novos consumidores de classe média.

COPA E OLIMPÍADA
A despeito de tudo o que se diz no trade sobre as oportunidades que esses dois eventos maiores vão trazer para o mundo do turismo, os volumes engajados de investimento são extremamente promissores em todos os campos: somente por meio do BNDES serão US$ 50 bilhões na Copa de 2014 e outros US$ 15 bilhões para a Olimpíada de 2016 que circularão na economia sob forma de investimentos. O Itaú-Unibando levantou o o comportamento quatro anos antes de países que sediaram esses eventos e constatou que “por inércia” a economia ganha meio ponto no PIB.

TURISMO
Todos os indicadores mostram o crescimento do turismo nesses últimos quatro anos. Mas sob o ponto de vista externo ainda temos um longo caminho a percorrer. Um recente estudo encomendado a pedido do WTTC para a Booz & Company coloca o Brasil em 45ª posição em competitividade turística, de um total de 133 países. Entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) o Brasil é o primeiro colocado em infraestrutura e desenvolvimento sustentado. Apesar de nos últimos quatro anos termos saído da 59ª posição para a 45ª, o item segurança ainda nos coloca longe de outros destinos emergentes.
Todos esses indicadores chegam na Europa fria e recessiva como um sopro de calor e otimismo: Despertando curiosidades e ajudando a consolidar a imagem do Brasil como um país sério, com excelentes executivos e trabalhadores motivados.

Nos próximos anos veremos muitas empresas internacionais se instalando no Brasil. Empresas com visão de longo prazo e em busca do apoio de parceiros locais. Essas empresas serão diferentes do que estamos acostumados a ver: ao invés de grandes grupos, serão as pequenas e médias que trarão novas tecnologias e novas aplicações para este fantástico mercado emergente. No turismo, será por meio da distribuição, do marketing on-line e da formação de mão de obra que essa onda de inovação vai chegar. Com tantas oportunidades uma coisa é certa: não vamos sentir saudade dos tempos difíceis.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é editor-chefe da PANROTAS, jornalista formado pela UFRJ e especializado em Turismo há mais de 30 anos.