Movida

Da Redação   |   15/08/2016 09:39

Artigo: Falta fair play das OTAs com hotéis no Brasil?

Se por um lado Decolar.com ou Booking não se pronunciam diante das acusações, por outro lado, representantes da indústria hoteleira expõem seus pareceres.

Mais um capítulo está aberto na história entre agências de viagens on-line, as OTAs, e hotelaria brasileira, representada então pelas associações e empresários do setor. Se por um lado Decolar.com ou Booking não se pronunciam diante das acusações, por outro lado, representantes da indústria hoteleira expõem seus pareceres.

Agora é a vez do diretor executivo e fundador da Gestour Brasil, Vadis Luiz da Silva. Em artigo enviado ao Portal PANROTAS, ele compara a ação das OTAs com a falta de fair play adotada por atletas que foram pegos no exame antidoping antes da Olimpíada no Rio de Janeiro.

Em outras palavras, Silva critica a postura das empresas on-line e aplaude siglas como Fohb, ABR e FBHA por entrarem na justiça contra a alta de comissionamento e pelo contrato de paridade. Leia abaixo o conteúdo na íntegra.

OTAs: Doping no Turismo!? Mercado exige fair play

Acabo de ler, com muita atenção e interesse a representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, contra a Booking, Decolar e Expedia, assinada pelo Fohb - Fórum de Hoteleiros do Brasil, alegando a ocorrência de práticas comerciais abusivas do ponto de vista concorrencial em decorrência da imposição, por estes, aos hoteleiros, de cláusulas de paridade tarifária, condutas estas passíveis de caracterizar infrações à ordem econômica.

Emerson Souza

Você deve estar agora pensando... Ok! Este é um tema inserido no contexto que nos últimos 20 dias vem ganhando destaque nos veículos da imprensa especializada, depois que a Decolar resolveu exigir das empresas do setor, remuneração de até 22% para comercialização no seu canal.

Mas, o que isto tem isto a ver com doping? Fair play? A resposta é, nada! E, ao mesmo tempo, tudo! Explico. Nada, porque Turismo é Turismo e esporte é esporte. Tudo porque as consequências têm muitas similaridades entre si, tanto no esporte quanto no turismo. Veja, as Olimpíadas são jogos que deles somente participam atletas de alto rendimento, a elite da elite dos desportos em nível mundial.

Um ambiente exclusivíssimo para pessoas que contam com uma infraestrutura excepcional de apoio físico, médico, financeiro, logístico, operacional, enfim, algo que 99,99% dos atletas, mesmo que profissionais mundo afora, não dispõem.

Mesmo com toda essa redoma de proteção e apoio vimos a poucos dias eclodir o maior escândalo da história dos Jogos Olímpicos protagonizado pela Rússia onde, atletas de todas as modalidades, com as bênçãos dos dirigentes desportivos e governamentais daquele país, usaram e abusaram de prática ilegal, o doping.

Veja, eles já integravam uma elite mundial, dos melhores dentre os melhores. O que justifica o uso deste expediente, a prática do doping, se não apenas se utilizar de um instrumento ilegal e imoral para tirar vantagens desproporcionais deixando de lado o fair play e a competição justa, o jogo limpo dentre esses verdadeiros "deuses do olimpo" e, com isso, colocando em prática o real espírito das Olimpíadas?

A resposta é única: ganância, ganância, ganância.

No universo do Turismo, um grupo também exclusivíssimo de “atletas de alto rendimento", formado por apenas três players (Decolar, Booking e Expedia) dominam mais de 90% do market share on-line brasileiro. Apenas a título de ilustração, estimava-se que somente no ano de 2015 essas OTAs comercializaram mais de 1,340,000 pernoites apenas de 508 dos hotéis associados ao Fohb.

Não satisfeitos com essa tremenda vantagem competitiva, esses players vêm se utilizando de práticas ilegais e anticoncorrenciais, impondo ao mercado cláusulas de paridade tarifária. Uma conduta anticoncorrencial (um verdadeiro "doping"), configurando uma flagrante ilegalidade e um desserviço ao desenvolvimento da economia do turismo brasileiro.

Imagine você, se essa prática lesiva à livre concorrência imposta por esses verdadeiros "deuses do olimpo" do comercio eletrônico do Turismo brasileiro provocam graves prejuízos até para a elite dos players dentre a hotelaria brasileira - hoje formada por 27 redes associadas ao FOHB que totalizam 637 hotéis e, aproximadamente 111 mil unidades habitacionais presentes em 150 cidades brasileiras e geram anualmente mais de R$2,6 bilhões de impostos e cerca de 195 mil empregos diretos e indiretos.

O que dizer então dos prejuízos gerados por esta prática lesiva se analisada sob a ótica dos players que formam a hotelaria independente, um contingente superior a 80% dos mais de 30 mil meios de hospedagens do mercado brasileiro? Ainda mais tendo em conta que destes, 70% possuem menos de 50 "UHs" e que obviamente não dispõem de igual condições de competição?!

O prejuízo direto gerado por este "doping" no Turismo brasileiro é inconteste e certamente será desta feita definitivamente expurgado do setor pelos órgãos reguladores também do Brasil, da mesma forma que esta prática já sofreu o seu nocaute em inúmeros países ao redor do planeta.
Nada mais que justo. Antes tarde do que nunca.

Sim, e o "fair play" no Turismo?

Este ideal olímpico deve ser necessariamente o caminho natural também para os players do Turismo brasileiro. E, isto somente acontecerá com a formação de um e-marketplace especializado no setor onde todos (produtores, varejistas, destinos e os turistas) tenham assegurado igualdade de competição e sejam empoderados sob os paradigmas do mercado ancorados na economia colaborativa.

Estão no caminho certo a ABIH Nacional, a FBHA,, o Fohb e a ABR que se uniram para exigir fair play no mercado e liderar o setor para uma nova jornada a qual certamente posicionará a hotelaria e o turismo brasileiro em um novo patamar de competitividade tanto em nível nacional, quanto internacional, mais livre, autossuficiente e empoderado.

Vadis Luiz da Silva
Fundador e CEO da Gestour Brasil, é especialista em marketing digital e comércio eletrônico do Turismo

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