Artur Luiz Andrade   |   26/04/2023 14:45

Como o Brasil vai vencer a barreira de 6 milhões de turistas estrangeiros?

Três campanhas publicitárias, novo roadshow, pesquisa e plano de marketing saem ainda este ano

PANROTAS / Emerson Souza
Marcelo Freixo, Jaqueline Gil e Mariana Aldrigui
Marcelo Freixo, Jaqueline Gil e Mariana Aldrigui
Os debates do primeiro dia da 2ª Marcha dos Secretários de Turismo, promovida pela Anseditur, em Brasília, destacaram a promoção do Brasil no Exterior, as questões de conectividade aérea e custo dos bilhetes, e os gargalos que nos impedem, mesmo depois de sediarmos uma Olimpíada e uma Copa do Mundo de Futebol, de quebrar a barreira dos seis milhões de turistas estrangeiros. No ano passado, foram 3,6 milhões.

Questionada sobre como a Embratur pretende vencer esse desafio, a diretora de Marketing da agência, Jaqueline Gil, listou as três principais frentes.

1 - A primeira é a conectividade (aérea, terrestre e marítima). É preciso aumentar o número de assentos nos três modais. No aéreo, a diretora da Embratur diz que a capacidade está muito aquém do que é necessário. No rodoviário, é preciso trabalhar com seriedade e estratégia as viagens de ônibus, que nunca estiveram no planejamento da Embratur. E no marítimo, melhorar a infraestrutura de portos, para começar.

2 - O segundo ponto passa pela qualidade e competitividade dos produtos turísticos brasileiros. Para concorrer com o Caribe, com os vizinhos da América do Sul ou com destinos também distantes dos grandes emissores (como África do Sul e Nova Zelândia), a qualidade, segundo ela, precisa ser regra. Em todos os destinos. E os preços, competitivos.

Gil já trabalhou com os destinos África do Sul e Nova Zelândia, que, antes da pandemia bateram recordes de visitação e arrecadação, mesmo estando em rotas de longa distância para turistas americanos, europeus e asiáticos. O custo-benefício da experiência de alta qualidade na África do Sul é uma das causas do sucesso do país, que agora inicia uma retomada com mais força.

“A China passou três anos fechada. Quando reabriu, há poucos meses, a África do Sul foi o primeiro destino que estava lá, pronto para trabalhar novamente com os chineses. Essa agilidade nas ações é algo muito importante”, exemplificou. Quanto à Nova Zelândia, ela destaca o investimento estratégico do país no audiovisual (é um dos polos cinematográficos referência em todo o mundo) e um trabalho de longo prazo que fez o destino receber 3,3 milhões de visitantes estrangeiros, com uma população de quase quatro milhões. E isso literalmente isolada do mundo, dependendo tão somente do modal aéreo.

3 - A terceira frente é uma comunicação mais atual com o consumidor, com o viajante internacional. E não apenas nas redes sociais.

Para entender melhor como a Embratur vai trabalhar nos próximos meses e quais as estratégias para a promoção do País, conversamos com Jaqueline Gil logo após sua participação na Marcha dos Secretários de Turismo.

Antes, vale destacar que a agência vive atualmente o desafio de encontrar sua fonte de recursos, que pode vir de várias maneiras. Ontem (25), foi aprovada a primeira fase, com a Câmara votando para direcionar 5% da arrecadação de contribuições do sistema S, especificamente Sesc e Senac. Por enquanto, a Embratur vive de uma reserva de 2019 (quando por alguns meses tentou-se que o Sebrae fosse a fonte financiadora da agência) e também de parcerias, como um contrato com o próprio Sebrae, que vai até 2024, e alianças estratégicas, sem aporte financeiro, como com a Apex.

“O presidente Marcelo Freixo está dedicado a essa questão dos recursos para financiar a Embratur. E acompanha pessoalmente a votação e negociações na Câmara. Ontem tivemos uma grande vitória, ele comemorou e segue agora acompanhando na votação do Senado”, diz Jaqueline Gil. Segundo ela, para 2023 a Embratur trabalhará em um esquema emergencial com os recursos que tem, desenhando um plano de marketing novo para ser implementado a partir de 2024.

Já este ano será possível ver ajustes, mas a nova Embratur deve sair a campo como a equipe gostaria somente a partir do ano que vem, já com novo orçamento definido. Um novo estande nas feiras, por exemplo, pode sair para a WTM London, em novembro, ou para a ITB Berlim, em março. Também estão sendo pensados novos formatos de roadwhows pelos Estados Unidos, Europa e América do Sul, e ainda três campanhas, majoritariamente digitais, nesses mesmos mercados.

ENTREVISTA

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Jaqueline Gil
Jaqueline Gil
PANROTAS Quais as prioridades nesse início da nova gestão e sabendo das dificuldades orçamentárias?
JAQUELINE GIL A prioridade é recolocar o Brasil em um B2B de qualidade. Vamos reocupar espaço, estamos saindo tarde na retomada. A pandemia gerou um desgaste muito pesado para a imagem do Brasil e precisamos refazer essa imagem, repactuar as ações promocionais, com ferramentas que façam sentido nesse novo momento das viagens internacionais. Há uma demanda mais exigente e por isso são necessários ajustes nos programas, nos processos da Embratur e nos serviços que prestamos, como no caso dos roadshows, que não podem mais ser dentro de salas de hotel. Mesmo os produtos agora precisam incorporar sustentabilidade e ações climáticas. E também nossas ações. Não posso chegar na ITB Berlim com brindes de plástico feitos no pré-pandemia, para citar um exemplo.

PANROTAS – Como fazer isso com os problemas de orçamento?
JAQUELINE – Para este ano, contamos ainda com a reserva de 2019 e com um contrato com o Sebrae, que literalmente salvou a Embratur e que vai até 2024. Paralelamente às ações de 2023, que têm essas limitações, estamos preparando as de 2024 em diante, mas ainda sem a definição da fonte financiadora da agência, projeto em que o presidente Marcelo Freixo está empenhado pessoalmente.

PANROTAS – Então este ano a participação em feiras, por exemplo, será via esse contrato com o Sebrae?
JAQUELINE – A maior parte sim. Em algumas com recursos próprios. Para este ano vamos investir nas feiras (BTL, Fitur, ITB e Anato, que já ocorreram, Fiexpo, no Panamá, Imex, Fit, a feira do Paraguai, Imex Las Vegas e devemos voltar ao Top Resa na França. Estamos tentando ter o novo estande da Embratur para a WTM de Londres, mas se não der será para a ITB de 2024. Tivemos de cortar algumas feiras este ano, dentro das limitações, mas já faremos ajustes em como o Brasil vai se apresentar.

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Mariana Aldrigui, que comanda a área de Dados e Pesquisas, e Jaqueline Gil
Mariana Aldrigui, que comanda a área de Dados e Pesquisas, e Jaqueline Gil
PANROTAS – Qual a importância da volta da Marca Brasil?
JAQUELINE – Voltar a usar a Marca Brasil é outra prioridade. Vamos reocupar esse espaço, que durante 14 anos deu muito certo e que de 2019 a 2022 foi descontinuado. A retomada da Marca Brasil, que lançamos em Brasília, na Torre de TV, com apoio da Anseditur e do Fornatur para projetá-la em destinos de todo o País, é fundamental nesse momento. Estamos reconstruindo as pontes do Turismo brasileiro com o mundo e a Marca Brasil é o símbolo disso. A marca foi atualizada pelo Kiko Farkas, que a criou, e será a base do plano de marketing que estamos desenhando e que será pautado por uma grande pesquisa de mercado.

PANROTAS – Haverá campanhas publicitárias para promover o Brasil no Exterior este ano?
JAQUELINE – Sim. Serão três campanhas, majoritariamente digitais, nos Estados Unidos, Europa e América Latina. E também três roadshows, em formatos diferentes, levando um conjunto sensorial de Brasil para esses três mercados. Serão cinco em cada mercado. Passamos meses debatendo como seriam esses eventos, e queremos levar experiências sensoriais para locais que não sejam uma sala de hotel. Mais uma vez a parceria com o Sebrae vai viabilizar essas ações. Também estamos indo em conjunto com a Apex em algumas feiras internacionais.

FREIXO

Pedro Melim/Embratur
Marcelo Freixo relança a Marca Brasil na Viajes El Corte Ingles, na Espanha
Marcelo Freixo relança a Marca Brasil na Viajes El Corte Ingles, na Espanha
“O sucesso da Embratur está exclusivamente nas cidades onde estão os visitantes”, disse o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, na abertura da Marcha de Secretários de Turismo, promovida pela Anseditur, nesta terça-feira, 25 de abril, em Brasília.

E para que esse sucesso se materialize nos municípios, Freixo elegeu dois pilares: conectividade e promoção. “Temos que transformar o que todos nós sabemos de Turismo em política pública”, continuou, citando o exemplo de Portugal, onde esteve recentemente, que investe 250 milhões de euros no Turismo, que não tem uma pasta dedicada ao setor e sim um órgão dedicado à indústria, o Turismo de Portugal.

Freixo disse que, devido à falta de transição com a gestão anterior, a nova Embratur perdeu muito tempo nos primeiros 100 dias de governo e que a prioridade é reestruturar a promoção do País, a imagem do destino Brasil.

“O Brasil voltou, mas temos de dar condições para os turistas chegarem e o caminho é fortalecer as cidades.” Ele também citou a importância da recém-criada gerência de Dados e Informações, que vai qualificar os dados do Turismo brasileiro, analisar a realidade e ajudar cada município a se preparar para os próximos anos.

INOVAÇÃO

PANROTAS / Emerson Souza
Roberto Gevaerd
Roberto Gevaerd
Também durante a Marcha dos Secretários de Turismo, o diretor de Gestão e Inovação da Embratur, Roberto Gevaerd, revelou algumas ações que já estão saindo do papel. Segundo ele e Jaqueline Gil, a ideia era ter uma diretoria do Futuro na Embratur, pensando o Turismo anos à frente e com gestão separada das demais diretorias do dia a dia da agência. Como não foi possível ter a estrutura ideal, a Embratur investiu na diretoria de Gestão e Inovação e nas de Dados e Pesquisas e Sustentabilidade para formar um tripé que mantenha o órgão antenado e à frente em relação às melhores práticas e tendências.

O objetivo maior, segundo Gevaerd, é levar uma melhor experiência para os viajantes nos locais visitados. Na próxima semana, no lançamento do Embratur Lab, no Rio de Janeiro, serão convocadas empresas de tecnologia para trazer soluções para problemas apontados pela pesquisa divulgada pela Fecomercio-RJ na semana passada. O mesmo será feito em Foz do Iguaçu e assim a Embratur começa com dois destinos piloto.

Também começa pelo Rio uma parceria com as universidades, para também se buscar troca de informações, soluções e inovações para o Turismo. O Paraná deve ser o segundo destino a ter essa parceria academia-Embratur.

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