Artur Luiz Andrade   |   28/10/2020 23:55
Atualizada em 29/10/2020 17:05

6 desafios e 6 tendências do Turismo de luxo no Brasil

BLTA inicia seu fórum on-line com presidente do WTTC e painel sobre viagens corporativas e de lazer

Artur Luiz Andrade
Em 2019, os membros da BLTA, associação de viagens de luxo no Brasil, tiveram uma movimentação de US$ 1,2 bilhão com a venda de hospedagem, com números que superaram a performance de 2018. O inventário subiu de 1.633 quartos para 2.239 e a venda pulou de 313,6 mil para 428,6 mil, resultando em uma ocupação de 52%, equivalente à de 2018. A diária média foi de R$ 812,5 e os associados representaram 34 destinos, por onde passaram 616 mil viajantes. São no total 46 membros, entre operadoras (cinco) e meios de hospedagem (41).

Então veio a pandemia e a crise, com os índices despencando de março em diante, mas a boa notícia é que em setembro, os hotéis BLTA já alcançaram a ocupação média de 55%, superior a 2019.

Para debater os caminhos do Turismo de luxo no Brasil, a associação iniciou nesta quarta-feira, 28, o BLTA Forum 2020, totalmente on-line, e que seguirá por mais quatro dias (3, 4, 10 e 11 de novembro). O evento tem capacitações, debates e mesas de discussão, como as que ocorreram no dia da abertura, com a presidente do WTTC, Gloria Guevara, e o secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Vinicius Lummertz, na parte da manhã, dando início ao evento, e a sessão Diálogos, à tarde, com Eduardo Sanovicz, da Abear, Mariana Aldrigui, da FecomercioSP, Alexandre Sampaio, da FBHA, Rodrigo Napoli, dos Hotéis Fasanos, Artur Luiz Andrade, da PANROTAS, e Simone Scorsato, diretora executiva da BLTA.

TENDÊNCIAS
A BLTA divulgou, nesse primeiro dia, as tendências das viagens de luxo e que podem gerar oportunidades para o Brasil e a cadeia produtiva envolvida:
1 – Participação e aprendizado nas experiências com a comunidade local. As viagens com propósito e que contribuam para o desenvolvimento das comunidades e destinos ganham força e têm no Brasil diversos cases que ainda são pouco explorados pelos turistas e pela indústria. Segundo Simone Scorsato, o Brasil tem vários produtos que podem agradar a essa vertente do luxo, mas que ainda não tiveram adequação e treinamento para o atendimento voltado ao cliente de luxo.

2 – Sustentabilidade como propósito. O cuidado com o meio ambiente, com os moradores e com a sustentabilidade do destino são itens que o novo consumidor de luxo quer ver nas propriedades onde fica hospedado, nas atrações e atividades.

3 – Humanização no conceito de serviço, na troca benéfica das relações pessoais entre o anfitrião e o hóspede.

4 – Luxo essencial, conforto sem ostentação, autenticidade, o cuidado presente nos detalhes.

5 – Serviços que possibilitam o bem-estar, a saúde e o autoconhecimento.

6 – Otimização do tempo e viagens com grupos menores, familiares.

É claro que ainda existe o público para os hotéis suntuosos, a hospedagem em palácio e a exclusividade, mas nesse momento o Brasil pode se beneficiar com essas tendências e se destacar no novo tipo de luxo que os consumidores buscam. A redescoberta do Brasil passa por explorar novas facetas, produtos e destinos do País, e aqueles ligados a essas seis tendências saem na frente.

DESAFIOS
A BLTA também listou os desafios para o desenvolvimento do Turismo de luxo no Brasil:

1 – Falta de política pública do Turismo com enfoque para o Turismo sustentável e de luxo. Mas o descompasso entre a política pública e as tendências da indústria não é exclusividade das viagens de luxo.

2 – Conexões e imprevisibilidade de malha aérea interna. Muitos desses novos destinos estão em cidades secundárias com nenhum ou poucos voos. E mesmo o deslocamento entre regiões no País é dificultados por uma malha que prioriza poucos destinos, como as capitais e o Sudeste.

3 – Qualificação de mão de obra. Atender o cliente de luxo requer um outro olhar, para exigências que muitas vezes são subjetivas e precisam do toque pessoal apurado.

4 – A imagem negativa do País por instabilidade política e sanitária. O Brasil tem fronteiras abertas, sem exigências aos visitantes de fora (o seguro viagem foi obrigatório por pouco tempo) e o dólar está valendo quase seis reais... Mas a imagem de que a pandemia foi mal controlada por aqui, mais as questões ambientais e políticas devem afastar os estrangeiros na retomada. “Não contem com o visitante estrangeiro”, disse Eduardo Sanovicz, da Abear, e ex-presidente da Embratur, no painel da parte da tarde. Segundo ele, as viagens de luxo vão se beneficiar de cerca de três milhões de brasileiros impedidos de ir ao Exterior.

5 – Falta de segurança. Do coronavírus à violência urbana, a imagem do Brasil no quesito preocupa.

6 – Capacitação de fornecedores. Segundo a BLTA, receptivos, táxis, vendedores de lojas e produtores, entre outros, precisam estar mais bem preparados para atender o segmento.

Diversidade de produtos e destinos, sustentabilidade, preservação e autenticidade foram atributos do Turismo de luxo no Brasil que a BLTA acredita que serão pontos fortes na atração dos visitantes e no desenvolvimento do setor.

Emerson Souza
Simone Scorsato, da BLTA
Simone Scorsato, da BLTA
DIÁLOGOS

Na parte da tarde, os painelistas analisaram a retomada das viagens a lazer e a trabalho, além dos eventos, segmento que ainda está demorando a mostrar sinais de recuperação.

O Lazer é o que está trazendo os melhores números no momento, mas nem compensa as tarifas pagas pelo corporativo, nem sustenta toda a indústria. O verão 2020/21 deve ser muito bom para as viagens domésticas, mas Mariana Aldrigui, da FecomercioSP, acredita que pode ser algo momentâneo, que não tenha continuidade, por isso a necessidade da volta do corporativo. “Não façam planos a partir desse volume de demanda reprimida do verão”, alerta ela. Para a presidente do Conselho de Turismo da Fecomerio-SP, o setor de viagens de luxo pode ajudar o Turismo em geral a se reinventar e achar inovações importantes para a retomada.

Eduardo Sanovicz
acredita que a aviação chegará a 68% da oferta pré-pandemia em dezembro (no doméstico) e ainda vê um caminho lento de recuperação, especialmente devido à lentidão de retorno do corporativo e a ausência de horizonte para os eventos, que sustentam vários segmentos da indústria de Viagens e Turismo. Para ele, os desafios dos eventos no pós-pandemia serão oferecer conteúdo inédito que faça os participantes saírem de casa e dos escritórios; garantir a qualidade da audiência para networking; e ter os protocolos implementados, mas com o dentinho integrado e envolvido com o evento.

Para Alexandre Sampaio, o momento atual é de sobrevivência e não de retomada e para o Turismo as medidas do governo em 2021 serão fundamentais para que haja recuperação e incentivo às viagens. O setor que mais sofreu com a pandemia precisa de medidas urgentes e específicas para o segmento.

Rodrigo Napoli diz que a hotelaria se adaptou ao novo momento, mas também espera que o receptivo internacional e as viagens de negócios voltem o quanto antes.

O editor-chefe da PANROTAS, Artur Luiz Andrade, por sua vez, defendeu a união do setor para que as autoridades reconheçam a força econômica da atividade e citou, baseado na pesquisa da TVL LAB e da ELO, divulgada semana passada, algumas tendências para o corporativo: viagens multipropósito, otimizando os deslocamentos; viagens sem rótulos, onde a família viaja junta com objetivos distintos, inclusive trabalhar, e a intensificação do bleisure; e a segurança como símbolo do Turismo responsável, que é dever de todos – fornecedores, vendedores, viajantes.

Quer receber notícias como essa, além das mais lidas da semana e a Revista PANROTAS gratuitamente?
Entre em nosso grupo de WhatsApp.

Tópicos relacionados

Foto de Artur Luiz Andrade

Conteúdos por

Artur Luiz Andrade

Artur Luiz Andrade tem 18729 conteúdos publicados no Portal PANROTAS. Confira!

Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é editor-chefe da PANROTAS, jornalista formado pela UFRJ e especializado em Turismo há mais de 30 anos.