Rodrigo Vieira   |   23/08/2023 13:49
Atualizada em 24/08/2023 10:57

"Loteria a ser evitada", diz CEO da Latam sobre pacotes com datas flexíveis

Jerome Cadier ainda diz que essas loterias e os milheiros são ambos problemáticos e das mesmas plataformas

PANROTAS / Emerson Souza
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, em entrevista à PANROTAS
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, em entrevista à PANROTAS

O consumidor brasileiro precisa desconfiar e ponderar muito bem antes de comprar viagens com data de embarque indefinida, os chamados pacotes flexíveis. Quem faz mais esse alerta é o CEO da Latam Airlines Brasil, Jerome Cadier, ao ser questionado sobre todo o imbróglio causado pela agência 123Milhas nos últimos dias e que, meses atrás, colocou a Hurb em xeque.

Na visão de Jerome Cadier, esse é um modelo arriscado com o qual o passageiro precisa ter muito cuidado. Em suma, "uma loteria que tem de ser evitada".

"Há um risco muito grande na operação desses pacotes com data em aberto, pois se a tarifa da passagem e o preço do hotel subirem muito entre a data da compra e a tentativa da data da viagem, o prejuízo é tremendo. É uma loteria, pois a agência não tem como projetar preço do petróleo, a flutuação cambial e outras variáveis que influenciam na tarifa. O passageiro tem de ser cauteloso ao comprar pacotes flexíveis."

Jerome Cadier, CEO da Latam, em entrevista para o Portal PANROTAS

Sem citar o nome da 123Milhas e nem de Hurb, o CEO da Latam Brasil ainda acrescenta que "não deveria ser surpresa" quando essas "apostas com o dinheiro do cliente" falham.


PANROTAS / Emerson Souza
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

"Há poucos meses, outra empresa que fazia o mesmo passou por problemas similares. É simples entender o que estas empresas fazem: é uma aposta com o dinheiro do cliente. Elas recebem, aplicam e ficam esperando. Se os preços das passagens aéreas e dos hotéis caírem, elas definem quando exatamente o cliente viaja. Com isso, conseguem comprar passagens e reservar estadas por um preço menor do que o cliente já pagou, e acabam ganhando muito dinheiro. Além de ficar com o rendimento da aplicação. Esta 'aposta' pode render muito, para elas", aponta Cadier.

"Porém, quando os preços sobem, elas podem perder muito dinheiro. E, neste caso, querem que o cliente pague esta conta. Não acho justo. Mas, milhares de pessoas compraram, e têm agora um enorme problema nas mãos."

Vale dizer que a Latam Brasil rescindiu contrato e processou a Hurb no fim de maio, ainda que tenha honrado as viagens de seus passageiros.

Loterias e milheiros, ambos problemáticos e das mesmas plataformas

Os pacotes flexíveis chamados pelo CEO da Latam Brasil de loteria, porém, representam um modelo de atuação diferente do ataque dos milheiros. Ambos são problemáticos e costumam ser manipulados pelas mesmas plataformas.

"E como confiar em uma empresa cuja principal atividade depende de fazer os clientes burlarem as regras dos programas de fidelidade? E pior, que pede que o cliente compartilhe todos os seus dados, inclusive sua senha?", questiona Jerome Cadier. Ele ainda pondera que quem sofre com a "atuação predatória dos milheiros" são as empresas aéreas brasileiras.

"Essas pessoas e empresas se aproveitam de uma brecha existente em que o passageiro não segue, não cumpre as regras do programa, para poder vender suas milhas. Fazem com que essa venda crie no mercado uma destruição de valor em longo prazos", avalia.

"Lamento, pois com o tempo, os programas de fidelidade acabam ficando menos atrativos, com menos benefícios, pois a regra é burlada. Para esclarecer, por fim, que são dois desafios diferentes do nosso mercado: uma coisa está totalmente errada, e outra é uma loteria que, apesar de legal, tem de ser evitada", conclui Cadier, que já chamou a venda de milhas como câncer da aviação.

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