Rodrigo Vieira   |   09/05/2023 13:22

Revista PANROTAS traz jornada de Rogéria Pinheiro; conheça

Primogênita de uma família de 6 filhos, ela era orientada a buscar ser a mais forte, resistir, combater

Divulgação/Luiz Mendes
Empresária em seu novo apartamento em São Paulo
Empresária em seu novo apartamento em São Paulo
“Abaixa esse tom de voz, pois você está falando com a liderança de vendas dessa empresa.” No começo da década de 2000, as hierarquias na Teresa Perez Tours, uma das maiores empresas de Turismo de luxo do Brasil, eram subjetivas, mas não havia argumento, origem e diploma que superassem o faturamento. E quem pedia para falarem baixinho era Rogéria Pinheiro, com a ousadia de uma jovem de 25 anos, conforme descobria em si mesma um talento avançado para os negócios.

“Fui me tornando difícil, afrontosa, combativa. A única pessoa que me segurava era a própria Teresa. Era na base do ‘não queira entrar no meu caminho, caso contrário te atropelo’, e meu relatório de vendas me respaldava. Cheguei a representar 60% do faturamento da companhia, entre seis executivos.” Rogéria Pinheiro dos Santos, hoje com 45 anos, estava apenas colocando em prática o que aprendeu com Inara Oliveira dos Santos e João Antônio dos Santos, seus pais. Primogênita de uma família de seis filhos de São Miguel Paulista, extremo leste de São Paulo, ela era orientada a buscar sempre ser a mais forte, resistir, combater. Ser a melhor em tudo.

Ainda assim, consciência racial nunca foi algo despertado na menina preta, crescida nos anos 1980, época de bullying naturalizado e de combate ao racismo silenciado no Brasil. “À mesa, em casa, a orientação era nas entrelinhas. Fui forjada com frases como ‘a vida é complicada’, mas apenas isso. Em âmbitos raciais, a única orientação direta era quando minha avó dizia para eu me relacionar com homens brancos para clarear a família. Eu o fiz.”

Com Teresa Perez, na Travel Week, hoje ILTM Latin America. “Ela me ensinou muito”
Com Teresa Perez, na Travel Week, hoje ILTM Latin America. “Ela me ensinou muito”
Somente a mulher Rogéria, já mais madura, olhou para trás e, consciente, viu que obviamente enfrentou preconceito pela cor da sua pele, pelo seu cabelo, pela sua origem. “A ignorância é uma bênção. Com certeza eu não teria trilhado o caminho que trilhei nesse mercado tão desigual como o de luxo com a mentalidade de hoje sobre racismo. Eu percebia certas coisas, mas não tinha entendimento sobre o que fazer. Para mim, aquilo era assim mesmo. Como ninguém nunca me falou para rechaçar, eu só aceitava. Já palpitaram sobre meu cabelo, por exemplo. De alguma maneira, meu silêncio me encaixou no lugar onde precisava estar para ter resultado. Em alguns lugares, você precisa estar encaixada. Hoje posso me desencaixar, usar black, me vestir como quero, mas só após subir de patamar”, pondera ela. “Não guardo mágoa, apesar de tudo.”

SONHAR COM O QUÊ?

Foram vários degraus até o patamar de mulher preta referência no Turismo de luxo. Rogéria Pinheiro era periférica, mas sempre teve comida na mesa, graças aos dois turnos do pai como agente carcerário e à mãe, que também sempre trabalhou.

Com toda essa batalha dos pais, sobrava a Rogéria a função de cuidar dos irmãos. Isso não a permitia sonhar. Afinal, sonhar com o quê? Sem a certeza de que seu pai voltaria vivo de um trabalho tão perigoso (ele estava em turno no dia do massacre do Carandiru), sem tempo para passear, namorar, sem nem sequer grandes referências externas que a permitissem se inspirar... O que moveu Rogéria foi o incômodo.

“Não sei em que momento fui despertada pela indignação, se foi na adolescência, quando abria mão do meu lanche para os amigos de escola que não tinham comida em casa, se com as histórias escabrosas do trabalho do meu pai, ou se era com o simples cenário da periferia ao meu redor. Porém, logo notei que ao continuar ali, engravidaria cedo e aquela continuaria sendo minha vida”, relata.

EDUCAÇÃO ERA O VISTO PARA SAIR DE CASA

Rebeldia nenhuma tiraria Rogéria de casa pela porta da frente. E ficar naquele lar, cuidando de criança, não era uma opção viável. A única condição aceita por seus pais seriam os estudos. Aos 16 anos, passou em uma escola técnica em Secretariado na Penha. Afastar-se de São Miguel Paulista fez bem a ela. Cursou informática aos domingos e inglês com bolsa no período da tarde. Pulou de estágio em estágio em cargos públicos. “Essa neguinha é muito entrona”, ouviu uma vez, no banheiro de um dos trabalhos, despercebida. Não se contaminou pela raiva.

Três anos de papéis carimbados, telefonemas transferidos e burocracias resolvidas depois, se formou. “A faculdade você se vira para pagar”, ouviu de seu pai. Se a grana era escassa, a gana não. Rogéria teria diploma de ensino superior, e era capaz de enfrentar tudo e todos para alcançá-lo. Conseguiu crédito estudantil e escolheu o curso mais barato disponível em 1997: Turismo na Unip. Os mais místicos que avaliem esse destino à sua maneira: o curso mais barato acabaria levando Rogéria Pinheiro a um universo onde o tíquete médio é o mais alto.

Divulgação/Luiz Mendes
Rogéria Pinheiro esteve na lista dos Mais<br/>Poderosos do Turismo PANROTAS em 2022
Rogéria Pinheiro esteve na lista dos Mais
Poderosos do Turismo PANROTAS em 2022
O cenário era a avenida Paulista. Depois de uma infância e juventude reprimidas, estar ali, distante da sua casa (três horas de transporte público), era todo um novo horizonte. As roupas, os trejeitos, os costumes. As conversas não eram mais sofridas. Se o que a incomodava na periferia era renunciar ao seu lanche para alimentar uma amiga, no centro de São Paulo essa pessoa era ela.

“Eu trocava passe de ônibus por hot dog, mas não me importava, pois eu tinha com o que sonhar. Por exemplo, ir de carro para a faculdade, onde eu era a única preta da sala de mais de 60 pessoas. Sempre soube que era passo a passo e logo consegui meu primeiro estágio”, conta ela.

CHECK-IN EM GUARULHOS

TAP, Aeroperu e Aeromexico foram as empresas para as quais Rogéria trabalhou em seu primeiro estágio na faculdade. “O Turismo à época era amador, resumido a empresas de excursão, agências de viagens corporativas e aeroporto. Um professor conseguiu me colocar em uma terceirizada em Guarulhos”, relembra.

Seu turno era das 4h às 16h, enquanto a faculdade era das 19h às 23h. Dormia no fundo de qualquer lugar entre os turnos de uma aérea e outra. A motivação era uma barreira contra o cansaço. Quando muito exausta, lembrava que era aquilo ou lavar fralda. Era a estratégia de fuga. “A verdade é que ali me encantei. Eu, que, nunca havia sonhado em ter passaporte, passei a imaginar como seria estar do outro lado do balcão. Passei a ter com o que sonhar. Antes eu nem imaginava a existência daquilo tudo. Nem a própria faculdade de Turismo mostrava. Muito pelo contrário, o curso era muito institucional.”

JARDIM BRASIL

Um ano e meio no ritmo do aeroporto, surge a oportunidade estagiar na Wagonlit, indicada por amigos da faculdade. O upgrade ali era parar de trabalhar na madrugada. Fazia reservas hoteleiras para executivos, emitia bilhetes aéreos manuais da companhia aérea Rio Sul, recebia e enviava fax. Sua principal conta era a Gessy Lever, hoje Unilever. Sua primeira chefe, Liliana Moreira, hoje na LTN Brasil. “Uma pessoa maravilhosa”, diz ela, relembrando também de Bernardo Feldberg, hoje na Mobility.

Efetivada na Wagonlit, era momento de realizar mais um sonho. Morar mais perto do centro. No Jardim Brasil, zona norte, perto do metrô Carandiru, encontrou uma kitnet por R$ 400 mensais, pouco menos do que seu salário na agência de viagens corporativas, de R$ 700. Em novembro, de 1999 se mudou para “o apartamento mofado, com um fogão de acampamento e uma TV 14 polegadas e bombril na ponta”.

Foi difícil convencer os pais. “Eles não entenderam. Me acharam ingrata, não sabiam da importância da independência, de eu estar perto do trabalho. Meu pai via coisas terríveis em seu dia a dia. É pragmático, conservador. Minha família nunca foi muito do diálogo e tampouco do afeto explícito. Fui ouvir ‘eu te amo’ depois de muito tempo. Então, sair de casa foi difícil.” Mais difícil ainda foi o que aconteceu três meses depois de se mudar: demitida.

QUEM É TERESA PEREZ?

“Não é possível que vocês vão fazer isso comigo”, esbravejou Rogéria, chorando à mesa da Wagonlit, assim que foi demitida. Ela não se dirigia a nenhum chefe, supervisor ou RH, mas às suas forças espirituais. “Comigo é assim, diálogo direto com eles. Tenho uma espiritualidade muito forte, esse sempre foi meu alicerce, em todos os momentos. Aquele foi um. Inesquecível. Um colega, não me lembro quem, me deu um papel com um telefone e o nome Teresa Perez.”

Arquivo pessoal
No fim de sua primeira viagem internacional, Rogéria se encontrou com Teresa Perez e outros profissionais de Turismo na França
No fim de sua primeira viagem internacional, Rogéria se encontrou com Teresa Perez e outros profissionais de Turismo na França
A fé não costuma falhar para a espírita Rogéria Pinheiro, que então se agarrou na única oportunidade que tinha naquele momento. “Quem é Teresa Perez? Isso aqui deve ser uma biboca”, relembra, se divertindo. “Eu não fazia ideia do que aquilo significava, mas não tinha outra escolha.”

Na Faria Lima, foi esquecida na recepção por duas horas antes de a própria Teresa a entrevistar, com termos dos quais Rogéria não fazia ideia. Provence, Bordeaux, Virtuoso, viagens personalizadas. “Dona Teresa, eu sei no máximo emitir passagem para Porto Seguro, mas não importa, oque você me ensinar vou aprender", eu disse. Ela foi com a minha cara e comecei no dia seguinte. E eu fui. Preta, mal arrumada, com autoestima baixa, imprimindo zero luxo. Eu fui.”

AUTODIDATA

Na inocência, Rogéria foi ser tutorada pela referência do Turismo de luxo no Brasil, para ganhar R$ 500 mais comissão. Sem a comissão, praticamente pagaria para trabalhar, então tratou de aprender. “Tenho os mapas até hoje que ela me ensinava a ler, montar roteiros. Fui descobrindo talento para vendas. De alguma maneira, eu juntava as palavras-chaves dos clientes. Um dia, um cliente me pediu para ir aos fiordes. Eu, sem a menor ideia do que ele estava falando, perguntei quando, com quem. Era assim, eu jogava outras perguntas quando não sabia a resposta. Corria para a sala de Teresa, que olhava para minha cara e não acreditava”, ri Rogéria.

Se tem um adjetivo fácil para Rogéria Pinheiro é “autodidata”. E os autodidatas são mais suscetíveis a serem as pessoas certas, nos lugares certos. A Teresa Perez Tours começava a crescer. Até então, era só Tomás Perez, hoje CEO, vendendo bilhete. Carolina Perez chegou depois. A empresa faz acordo com a grife Daslu e ascende.

ASSENTO 7F

Ser uma “esponja de informações” não foi o suficiente para Rogéria Pinheiro perceber que sua primeira viagem internacional era de classe executiva. Ela só dormiu naquela poltrona 7 da Air France. “Que desperdício. Não aceitei champanhe, não comi. Nem notei que era uma classe premium”, ela relata, com bom humor. A viagem não saiu do seu bolso. Rogéria ficou especialista em França após um ano de Teresa Perez. Depois de vender uma viagem para uma família abastada de São Paulo, teve argumento o suficiente para convencer Teresa de que aquele famtour tinha de ser seu. E todos aqueles nomes impronunciáveis de meses passados se tornaram seus destinos. Bordeaux, Borgonha, Champanhe, todos percorridos com roupas emprestadas por Carolina Perez.

Profissionais de Turismo competentes sabem transformar famtours em vendas. Depois de voltar da França, Rogéria se tornou uma fera naqueles produtos, até conquistar um de seus grandes sonhos: montar um roteiro sem que Teresa mexesse uma vírgula sequer. “Ela era exigente. Me ensinou absolutamente tudo no mundo do luxo, desde comportamento até pronúncia das palavras. Quando ela aprovou um roteiro sem alteração, eu notei que me tornei uma referência dentro da Teresa Perez Tours.

A diretora dizia que eu parecia atriz da Globo, pois conseguia captar informações e contar histórias como se tivesse conhecido os destinos. Qualquer lugar do mundo de superluxo que você imaginar, eu já vendi.” O luxo começou a ser natural para Rogéria. “Aquele universo, na verdade, nunca me chocou. Meu foco era vender para ganhar mais. Seguia as orientações de Teresa, com seus valores firmes, corretos. Sem me preocupar com consciência racial e social, eu era focada em resultado, no mundo corporativo. Se eu tivesse tido um tutor humilhador, que passasse a perna, eu poderia ter achado isso natural e ser malandra também. Tive a melhor.”

SENTE-SE PERTO DA ROGÉRIA

Por volta de 2007, a Teresa Perez Tours deu uma escalada. Muitas histórias rolaram nesses cinco anos de Faria Lima, incluindo a afronta a um executivo do setor Financeiro. “Chamei ele para o pau, às vias de fato. Não sei onde estava com a cabeça.”

Chegavam as contratações e a orientação aos mais novos era sentarem-se atrás de Rogéria. Quando havia uma fila atrás de sua mesa, ela escreveu um projeto para se tornar coordenadora, e foi aprovada pela diretoria. “Foi meu primeiro empreendimento”. Foi também sua primeira derrocada no mundo do luxo. “Toda minha personalidade, falta de inteligência emocional, agressividade, afloraram. Eu seguia com a mesma cabeça focada em resultados, mas não dependia só de mim. Tentava fazer as pessoas entregarem na marra. Tive zero habilidade como líder, apesar das boas intenções. Foi traumatizante”, reconhece.

UM PEDRO NO CAMINHO

Os traumas da liderança foram mínimos depois que, em 2008, no banheiro da empresa, viu o teste de gravidez sinalizar positivo. Pedro vinha aí, fruto de um relacionamento com um homem branco. “Meu chão se abriu. Eu só conseguia chorar. O pai não olhava para minha cara, e eu era apaixonada por ele. De qualquer maneira, nunca pensei em ter filhos. Eu era aventureira, queria viver. Pensei que meu mundo acabaria. Meus pais, que depois de verem minha ascensão voltaram a falar comigo, novamente viraram as costas.”

Arquivo pessoal
Rogéria e Pedro
Rogéria e Pedro
O foco no trabalho fazia Rogéria esquecer a crise emocional. Ela conta que foi olhar para sua barriga após cinco meses. Quando tinha sete meses de gestação, Teresa a mandou para casa. Sua presença na empresa estava insustentável. “Me vi como uma profissional substituível. Foi um ano difícil para a Teresa Perez Tours, a equipe não vinha performando. Mas tanto Teresa quanto Carol asseguraram meu emprego quando voltasse e continuaram pagando meu salário integral. Foi um presente que me deram: a primeira vez na minha vida que me senti reconhecida. Eu me senti além do valor comercial, pois na verdade não estava produzindo nada.”

Quando voltou, Rogéria teve a opção de não continuar no departamento de Vendas. Foi transferida para Qualidade e Produtos, onde iniciava-se a criação do setor de Treinamentos. Era o começo do Café com Viagens, programa de capacitação B2B de Teresa e Carol, e foi onde Rogéria teve seu primeiro contato com o mundo da mentoria, que veio a consagrá-la.

RP TRAVEL EDUCATION

Rogéria se encontrou no novo cenário, e isso reacendeu seu lado empreendedor. Decidiu dar um passo adiante. Erik Sadao foi da Marketing Collection para seu lugar e, cerca de dez anos depois, ela se despediu da Teresa Perez Tours. Aliás, a teve como cliente, tal como foram clientes Costa Brava, Team Travel, Elaine Scanavacca e outros nomes do luxo." Já saí com oito contratos assinados na RP Travel Education.”

Rogéria criou sua própria didática de treinamento de destinos. De novo, aflorava sua capacidade de estudar e vender lugares aos quais nunca tinha ido. Agora, porém, estava mais familiarizada. Passava de agência em agência falando sobre destinos, fornecedores e outras nuances. Identificou, porém, que mesmo os mais conceituados mentorandos careciam de plano de carreira e gestão.

Rogéria Pinheiro em ação. Suas mentorias são feitas quase todas de maneira remota
Rogéria Pinheiro em ação. Suas mentorias são feitas quase todas de maneira remota
"Quando terminava os treinamentos, alguns proprietários me pediam para eu levar aquela firmeza a outros temas. Eu topava, claro. Precificava ali mesmo e fechava contrato de consultoria. Teve ocasiões em que toquei reuniões gerenciais, pois o chefe admitia para mim que não dava conta daquelas pessoas.”

Rogéria foi registrando resultados em muitas empresas. Sem pós, sem MBA, sempre usando a experiência a seu favor, ao seu modo de aprendizado, anotando TEDs e palestras. "Não sou sua funcionária, não tenho contrato de exclusividade. Eu trago a orientação, sou a consultora, se você quiser executar ou não, é sua escolha. E os resultados vinham, indiscutivelmente. Fui construindo meu nome no mercado de luxo."

CONSTRUIR VIAGEM, REALIZAR SONHOS

Com um boom repentino no número de representantes de fornecedores, Rogéria entendeu que para seu negócio se sustentar, precisava passar a vender por adesão. Criou, em 2014, o workshop Construir Viagens, Realizar Sonhos, destinado a agências e operadoras. Na primei ra edição, já angariou patrocínio de Silversea e Sul Hotel (hoje Remote Latin America).

"Criei o primeiro evento 100% focado em geração de conhecimento. A parte da manhã era minha didática e à tarde eu faria treinamento sobre Peru, pois a Mountain Lodges e a Sul Hotels estavam envolvidas. De novo, eu nunca tinha ido ao Peru, e quando souberam disso, os fornecedores desacreditaram.”

O workshop teve adesão de 40 pessoas, que pagaram R$ 650 para estar ali. Foi um momento de realização plena para Rogéria. "Não havia um patrão. O projeto era meu. Não tinha de provar mais nada a ninguém." O Construir Viagens e Realizar Sonhos está indo para o Módulo 6, com tutoria, e acompanhamento. Rogéria rodou o Brasil com esse produto.

Aliás, depois da pandemia, ela descentralizou de vez. Hoje, 80% de seus clientes estão em Estados de fora da região, e seu escritório, que acaba de ser inaugurado em seu novíssimo apartamento, é de onde saem seus ensinamentos.

RETREAT FÊNIX E D.A.R.

Outro produto da RP Travel Education é o Retreat Fênix, programa de imersão que já teve duas edições na Fazenda Capoava, em Itu (SP), e uma na Lagoa do Cassange, na Península de Maraú (BA). "Não é um evento para colaboradores, mas para os próprios donos, porque estamos falando em tomada de decisões e estratégias, conhecimento que vai definir para onde o seu negócio vai. É um programa para no máximo 20 pessoas."

Vale lembrar também o Donas de Agências Ricas, que reúne agências boutique de todo o Brasil para capacitações, networking e imersão no Turismo de luxo. Isso sem contar a Formação Avançada em Vendas de Viagens, uma extensão universitária chancelada pelo Ministério da Educação (MEC), que está prestes a concluir sua primeira turma de 100 formandos.

GEMINIANOS VÃO DOMINAR O MUNDO

"Meu signo? Gêmeos. Vamos dominar o mundo", diz, meio confiante, meio debochada, com a reportagem da PANROTAS, em um prédio ainda cheirando a tinta, neste que é seu quarto apartamento, desde o mofado do Jardim Brasil.

Divulgação/Luiz Mendes
Pedro, aos 14 anos, estava na escola naquele momento. "Hoje, com minha consciência forte, só peço que volte para casa vivo. Ele estuda em colégio particular e a maioria de seus amigos é branca. Eu oriento como ele deve lidar com situações como abordagens policiais." Rogéria Pinheiro não ajuda sua família financeiramente. Sua irmã caçula trabalha para ela. "Tenho ótimo relacionamento com meus pais e outros familiares, desde que não opinem na minha vida."

A maioria mora em Itaquera e São Miguel Paulista, lugares onde Rogéria já sofreu preconceito. "'Olha aí a empresária de sucesso', eles debocham. É louco, né? É de uma incompreensão terrível, mas isso não me dói."

ONDE ESTÁ A ROGÉRIA?

A consciência racial de Rogéria foi despertada em 2019, por um companheiro. Branco. "Eu usava alongamento, cabelo escovado, chapinha. Ele me perguntava onde estava meu cabelo, onde estava a Rogéria? Foi uma mudança maravilhosa ter esse reforço positivo para minha beleza. Sou muito mais feliz. Ali passo a ler, entender, compreender que muitas das minhas reações eram provenientes de uma educação pra me proteger do racismo", afirma.

"Pude ter outra visão, para além das armaduras criadas pelo meu pai. Hoje, sei que em alguns lugares, só de eu estar com meu black já é ato político. Sei também que já fui cota, enfeite, para muitos eventos, muitos grupos. Hoje, sou cota. Amanhã, sou imprescindível." Imprescindível como será sua presença no Desert Women Summit, no Marrocos, como palestrante, ao lado de Luiza Helena Trajano, Chieko Aoki e 150 empresárias brasileiras. "Não me sinto cota."

Antes, porém, embarca com Pedro, de classe executiva (dessa vez consciente, e com bilhete pago do próprio bolso), para a Europa, realizar o sonho do filho de assistir a um jogo do Real Madrid.

Esta reportagem é parte integrante da Revista PANROTAS, assim como outras matérias especiais de luxo.


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