Rodrigo Vieira   |   12/05/2023 13:18
Atualizada em 13/05/2023 14:23

Tarifa hotelaria alta é ignorada por viajantes de luxo; setor vive auge

Na ILTM Latin America, especialistas comentam como estão lidando com o alto preço da hospitalidade


PANROTAS / Emerson Souza
ILTM Latin America 2023
ILTM Latin America 2023

As tarifas exorbitantes praticadas pela hotelaria no mundo todo neste ano não são impeditivo para brasileiros de alto poder aquisitivo tirarem suas férias no Exterior. Além de continuar tirando o atraso da paralisação do período de pandemia, o topo da pirâmide da indústria de hospitalidade pratica a lei da oferta e demanda e, mesmo com preços nas alturas, segue com suas dependências lotadas, sobretudo para a alta estação.

Diretora de Portfólio Global da ILTM, a britânica Alison Gilmore está no Brasil para acompanhar a edição latina do evento, e resume a situação. No ano passado, ela chamava atenção para o altíssimo tíquete médio praticado na aviação. Neste ano, os bilhetes aéreos seguem caros, conforme a oferta de assentos ainda não é a mesma do pré-pandemia. Mas ela confirma que as viagens estão ainda mais caras devido à alta no valor das reservas hoteleiras.

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Alison Gilmore, diretora de Portfólio Global da ILTM Latin America 2023
Alison Gilmore, diretora de Portfólio Global da ILTM Latin America 2023
"Atualmente, a única maneira de o viajante de luxo tirar as férias com as quais ele está acostumado é pagando por elas. E a questão é que as pessoas estão dispostas a pagar. Em um almoço durante a ILTM Latin America, agentes de viagens me disseram que hoje faturam, com uma reserva, o que até pouco tempo ganhavam com cinco. Isso está ajudando esses agentes de viagens, muito embora eles estejam trabalhando como nunca, com agendas extremamente ocupadas", afirma Alison. "A demanda está alta. Tudo aumentou. A depender do trecho, um assento na premium economy está hoje no mesmo valor do que a executiva pré-pandemia."

A proprietária e diretora da Six Viagens, Cláudia Bernardo, concorda, mas com alguma ressalva. Segundo ela, a grande maioria dos clientes está passando por cima das tarifas e mantendo o padrão de suas viagens, mas em alguns casos pontuais os clientes estão repensando itinerários.

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Cláudia Bernardo, da Six Viagens
Cláudia Bernardo, da Six Viagens
"Mesmo os milionários, em alguns casos, sentem a diferença e não querem pagar. Ainda assim, não deixam de viajar, e buscam boas alternativas ou evitam as altas temporadas. Tenho um cliente que viaja acompanhado da família para St. Barths. Como seu perfil não é de badalação, ele trocou janeiro, quando as diárias estavam em 6 mil euros, por junho, quando estão metade do preço. Lá o tempo é bom o ano inteiro e sua viagem não demandava o nível de agito da alta temporada", afirma a consultora. "Mas, realmente, esse é apenas um caso. A grande maioria, mesmo que sinta a diferença na tarifa final, não está abrindo mão de embarcar e curtir a viagem sem baixar o nível."

O CEO da Viagens & Cia, Thiago Cuencas, tem discurso parecido, mas chama atenção para a necessidade de a hotelaria apresentar algo mais para justificar o preço. Apenas a alta demanda não é o suficiente.

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Thiago Cuencas, da Viagens & Cia
Thiago Cuencas, da Viagens & Cia
"Realmente a hotelaria internacional ainda surfa a onda do tempo de isolamento. O público de alta renda ainda está viajando e pagando, nem sempre muito feliz, mas ainda assim indo adiante", aponta ele. "Contudo, é necessário que a qualidade da hotelaria acompanhe o aumento tarifário, e nem sempre isso está acontecendo. Estamos chamando atenção dos agentes de viagens para que saibam selecionar os hotéis que evoluíram juntos com seus preços, para não aborrecer o cliente", completa Cuencas, ressaltando o amadurecimento do mercado de luxo nos últimos anos.

"Nós, que somos especialistas nos chamados destinos exóticos, estamos sentindo uma demanda voluntária dos clientes, algo que não era comum, principalmente para quem atua nesse mercado há 27 anos. Antes, tínhamos de oferecer; hoje, a demanda apenas chega. Os produtos estão na gôndola, basta ver quantos fornecedores de países asiáticos estão na ILTM Latin America."

Bruno Vilaça, da Superviagem, participante frequente das feiras de Turismo de luxo pelo mundo, diz estar participando na melhor ILTM Latin America de todas. Falta é tempo para dar conta de tantos clientes ávidos por viajar. "Não podemos nos queixar. A tarifa hoteleira está muito alta, mas os clientes estão pagando. Como está vendendo, resta a nós trabalharmos."

TENDÊNCIAS DE PRODUTOS

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Bruno Vilaça, da Superviagem, e Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America
Bruno Vilaça, da Superviagem, e Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America
Bruno Vilaça diz que destinos em alta na pandemia, como os domésticos, Maldivas e Egito, tiveram demanda estabilizada. A balança pesou para o lado da Europa. "Destinos europeus estão fora da curva. Eu pensava que no ano passado o pico havia atingido, mas não, neste verão será ainda maior. Temos de apontar as ofertas certeiras para que clientes não se decepcionem em termos de serviço, pois hotéis e atrativos estarão lotados", afirma o diretor da Superviagem.

Thiago Cuencas reforça os combinados asiáticos como tendência. "São destinos diferenciados, que requerem o toque do consultor. Vale a pena investir nesses roteiros que incluem Butão, Sri Lanka, Tailândia, Indochina e Japão."

Já Claudia Bernardo vê Turquia voltando com força nos próximos meses e, para ela, isso fará com que o Egito siga em alta. "Mas o que está despontando na Six Viagens mesmo são os cruzeiros. O viajante definitivamente perdeu o medo de entrar a bordo, deixou a pandemia para trás. Nós somos especializados nos produtos marítimos e estamos aproveitando que há equipamentos e serviços com cada vez mais qualidade no mercado", conclui.

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