Movida

Raphael Silva   |   17/07/2018 16:00

Consolidadoras em debate - parte 2: há espaço para outro intermediário?

Crescimento dos problemas envolvendo a subconsolidação alerta o setor para a chegada de um novo player polêmico

Subconsolidadores emitem bilhetes com consolidadoras maiores, mas o que isso significa para o mercado?
Subconsolidadores emitem bilhetes com consolidadoras maiores, mas o que isso significa para o mercado?
O fechamento da Intercontinental Consolidadora e a polêmica com a subconsolidadora Prime colocaram o Turismo em alerta para uma questão: há espaço para mais um intermediário nesse mercado? A entrada de um novo player para atuar entre o consolidador e o agente de viagens pode significar diversificação nos negócios, mas também há um risco de se negociar com empresas com uma menor segurança financeira.

Nessa segunda reportagem da série Consolidadoras em Debate, o Portal PANROTAS aborda como essa nova operação (dos chamados subconsolidadores) afeta o mercado e o que pensam alguns dos líderes da consolidação.

LEIA TAMBÉM: CONSOLIDADORAS EM DEBATE - PARTE 1: CESSÃO DE CRÉDITO É SOLUÇÃO OU VILÃ?

No caso que envolve Prime, além do fechamento da Intercontinental, diversos agentes e viajantes acabaram afetados. Alguns sequer sabiam que estavam comprando da Intercontinental. Para eles, estavam comprando apenas da Prime (não sabiam que essa, por sua vez, comprava da consolidadora capixaba).

Para a Air Tkt, associação representativa de dez das maiores consolidadores do País, quem perde, em acontecimentos como esse, é o setor no geral. "A consolidadora lida com um prejuízo perigoso e a agência perde credibilidade com o cliente", analisou o diretor da entidade, Ralf Aasmann. Cliente esse que pode correr para sites de venda direta, alertam alguns.

Jhonatan Soares
VP da Ancoradouro, Oliveira não vê a subconsolidação prosperando por muito tempo
VP da Ancoradouro, Oliveira não vê a subconsolidação prosperando por muito tempo
"OPERAÇÃO INVIÁVEL E COM PRAZO DE VALIDADE"
É assim que o vice-presidente do grupo Ancoradouro, Cassio Oliveira, vê o modelo de subconsolidação. Segundo ele, as baixas margens de lucro da atual operação nas consolidadoras fazem com que uma 'terceirização' desse serviço, que já ocorreu no passado, com outras condições, se torne inviável. E ele não é o único a enxergar limite nesse modelo. Os diretores de CNT Consolidadora e Skyteam Consolidadora, por exemplo, também não veem possibilidade de a subconsolidação prosperar.

O subconsolidador não tem contato direto com a companhia aérea (pois não tem crédito e contrato com ela, por diversos motivos). Assim, emite bilhetes junto a uma outra consolidadora. Nessa operação, os ganhos, suportados pelas grandes com um alto volume de vendas, não sustentam um negócio rentável por muito tempo, conforme explicam alguns dos líderes consultados pela PANROTAS.
"Os custos [do subconsolidador] são basicamente os mesmos das consolidadoras organizadas, mas com receitas muito menores. Isso faz com que o risco operacional seja altíssimo", afirmou o diretor e fundador da Skyteam, Peter Weber.

Tais Ballestero
Para Weber, a subconsolidação representa um risco operacional altíssimo
Para Weber, a subconsolidação representa um risco operacional altíssimo
Já o diretor da CNT, André Khouri, acredita que os novos consolidadores precisam ir atrás das companhias aéreas para estabelecerem uma conexão direta, como fazem os grandes. "Não somos contra novos entrantes no mercado, mas não vejo espaço para mais um intermediário ali", afirmou ele.

POR QUE NUTRIR UM CONCORRENTE?
Mal vista por boa parte dos grandes players do ramo, a subconsolidação tem alguns adeptos, até porque eles são os responsáveis por prover quantias de crédito aos menores - no caso de Intercontinental, a Prime revela ter emitido mais de R$ 50 milhões desde o ano passado. Mas o que os leva a incluir outros consolidadores em sua carteira de clientes?

Uma das únicas a aceitar esse modelo, a Rextur Advance, consolidadora do grupo CVC Corp, parece não discriminar seus parceiros. O importante é manter uma relação segura financeiramente.

"A Rextur Advance trabalha com todos os segmentos de agências que derem as garantias necessárias para a operação", disse Guimarães, que, além de controlar bem esses riscos, tem um respaldo de mais de R$ 3 bilhões em vendas para cobrir os índices médios de inadimplência. Algo que para uma empresa pequena como a Intercontinental significa sobreviver ou morrer (no caso de falta de pagamento ou qualquer outro problema).

Cassio Oliveira, por sua vez, vê outros riscos para consolidadores abertos a negócios de subconsolidação. Segundo ele, esse relacionamento tem apenas dois caminhos e ambos são negativos para a empresa de maior porte.

Emerson Souza
Comandada por Guimarães, a Rextur Advance não discrimina os clientes, mas se garante pela segurança financeira
Comandada por Guimarães, a Rextur Advance não discrimina os clientes, mas se garante pela segurança financeira

"Se eles [subconsolidadores] derem certo, serão nossos concorrentes diretos. Se não derem, provavelmente teremos problemas com o crédito lá na frente", destacou o VP da Ancoradouro.

Ao tentar explicar por que alguns nutrem esses possíveis concorrentes, tanto Weber quanto Oliveira e Khouri — que afirmam não terem relações de subconsolidação em suas respectivas empresas — concordam que as metas das companhias aéreas criam uma crescente necessidade por volume de vendas, o que pressiona os consolidadores a buscarem novas alternativas.

"Está formada a tempestade perfeita. Consolidadoras liberando crédito para buscar ganhos maiores, alimentando subconsolidadoras, que, por sua vez, tentam conquistar uma fatia de mercado oferecendo 'milagres' às agências", criticou Weber.

PROBLEMA DA CHINA
Entre as novas alternativas está outra modalidade, também apontada como de alto risco pelo mercado: a emissão de bilhetes para empresas do Exterior, especialmente da Ásia.

Além de questões legais, há ainda questões fiscais e o problema da cobrança no caso de inadimplência. O tema promete estourar em breve no setor, dizem alguns players. "Faço questão de não vender para a China, mesmo sendo um grande player", afirmou à reportagem o presidente de uma grande consolidadora, que preferiu não ser identificado.

RISCO PARA OS DOIS LADOS?
Das grandes consolidadoras consultadas pela PANROTAS, apenas a Rextur Advance, sob declaração do diretor geral Luciano Guimarães, admite negócios com empresas que atuam no modelo da subconsolidação. Ancoradouro, CNT e Skyteam afirmam não atuarem nesse modelo. A Air Tkt, por sua vez, também desaprova esse tipo de negócio. A Prime, em entrevista à PANROTAS, disse que fez emissões em três empresas: PVT, Rextur Advance e Intercontinental. Em 2018, ensaiou uma sociedade com a Confiança, do Centro-Oeste, mas o diretor Helvécio Garófalo desistiu do negócio no meio do caminho.

O Portal PANROTAS tentou contato com a subconsolidadora Keep Going, que não nos respondeu até o fechamento dessa matéria, e também com o diretor da Confiança, que se encontra viajando e não pôde colaborar com a reportagem.

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