Beatriz Contelli   |   21/01/2022 11:20   |   Atualizada em 21/01/2022 11:40

Dezembro encerra com 74,5% das famílias endividadas na capital paulista

Em um ano, 688 mil lares entraram para o rol de endividados


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As famílias têm buscado o crédito como alternativa para manter o consumo
As famílias têm buscado o crédito como alternativa para manter o consumo
A cidade de São Paulo encerrou 2021 com recorde de famílias endividadas e intenção de consumo limitada pela alta da inflação. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), de dezembro de 2020 até o mesmo período de 2021, 688 mil famílias entraram no rol de endividados. O total atual é de 2,98 milhões de lares com algum tipo de dívida. A taxa de endividados sobe sequencialmente desde novembro de 2020, chegando a 74,5%, em dezembro – recorde para a série histórica da pesquisa, que teve início em 2010.

Durante o ano, enquanto o endividamento registrou altas consecutivas, a inadimplência apresentou estabilidade. No décimo segundo mês de 2021, o porcentual das famílias com dívidas em atraso obteve redução em relação a novembro, ficando em 20,2%. Em relação ao mesmo período de 2020, houve avanço de 1,2 ponto porcentual (aumento de 54 mil famílias inadimplentes). Atualmente, o total de lares com dívidas em atraso soma 805,5 mil. Os tradicionais “feirões de limpa nome”, realizados nessa época do ano – além da renegociação com condições especiais para a regularização da dívida em atraso –, são algumas das razões para a estabilidade, mesmo diante do aumento do número de endividados.

O tempo de comprometimento da dívida chegou, em dezembro, à média de 7,9 meses – maior nível desde junho de 2020. As dívidas com período superior a um ano são as que mais têm registrado aumento: de 32,9% para 41% em 2021. O dado reflete que as famílias estão postergando os compromissos o máximo possível. O cartão e os carnês, por exemplo, estão sendo utilizados para diluição do compromisso no longo prazo, com objetivo de aliviar o bolso para o momento.

Com o desemprego e a inflação levando a uma retração do poder de compra, para se defender do aumento dos preços as famílias têm buscado o crédito como alternativa para manter o consumo, inclusive de itens essenciais. Prova disso, é que, no mês passado, a modalidade de cartão de crédito atingiu novo recorde entre os endividados (87%). Em dezembro de 2020, o porcentual era de 71,3%, o que representa alta, em termos absolutos, de 958 mil famílias com dívidas no cartão.

Ao longo de 2021, a Selic passou de 2% para 9,25% ao ano (a.a), encarecendo o crédito e os juros. Apesar do aumento e da maior seletividade do crédito, os carnês aparecem logo depois, com 21%. Embora o porcentual esteja um pouco abaixo dos meses anteriores, o patamar ainda é alto em termos históricos. Outras modalidades de crédito com porcentuais elevados são: financiamento de carro (14,3%), financiamento de casa (11,2%) e crédito pessoal (11,1%). Destes, o crédito pessoal está no maior patamar desde setembro de 2019, indicando a necessidade desse tipo de crédito para pagamentos de contas e despesas.

A despeito de o endividamento ter atingido todos os perfis de famílias em São Paulo, a proporção entre aquelas com renda abaixo de dez salários mínimos foi de 78%, enquanto entre aquelas com renda superior a esta quantidade, a taxa, em dezembro, ficou em 64,2%. Para ambas, no entanto, os patamares são recordes. Quando se analisa a inadimplência por faixa de renda, a discrepância é maior: 24,5% das famílias com menor poder aquisitivo têm dívidas em atraso, enquanto para as com renda mais elevada, a taxa foi de 9,3%. Em dezembro de 2020, os porcentuais registrados eram de 23% e 9%, respectivamente.

INTENÇÃO DE CONSUMO EM QUEDA
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), da FecomercioSP, registrou leve queda de 0,2% em dezembro, atingindo 70,2 pontos. O atual patamar é praticamente igual ao de dezembro de 2020 (70,4). A oscilação do ICF próximo aos 70 pontos, durante 2021, indica que as variáveis que definem o consumo não avançaram como os consumidores gostariam. A inflação subiu mais de 10% em um ano, ao passo que o desemprego ainda atinge um contingente importante de pessoas na capital paulista.

Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) registrou alta mensal de 2,4% e registrou 112 pontos. Em relação a dezembro de 2020, a pontuação é praticamente igual: 111,7 pontos. A diferença entre os indicadores está relacionada ao fato de o ICC contar com perguntas macro, amplas, sobre a situação do País em geral, (no momento e nos próximos anos), enquanto o ICF se restringe às variáveis que afetam o dia a dia das famílias, como renda, emprego e crédito. Desta forma, o consumidor sempre avalia que a sua situação é pior que a média – por isso a pontuação menor do ICF.

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