Beatriz Contelli   |   16/02/2022 12:30

Comércio: queda da confiança anula otimismo de janeiro

Depois de dois meses de alta, Icec de fevereiro registra queda de todos os índices pesquisados


Agência Brasil/TâniaRêgo
Com os juros ascendentes e o consumo ainda morno, o empresariado demonstra receio
Com os juros ascendentes e o consumo ainda morno, o empresariado demonstra receio
Após duas altas seguidas, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apresentou queda de 1,2% em fevereiro. Registrando pontuação de 119,3, o indicador permaneceu dentro da zona de satisfação (acima dos 100 pontos), o que, segundo a análise, se deu devido à recuperação do setor no ano passado.

Os dados apontam que a taxa quase eliminou o crescimento de janeiro (1,4%), resultando em um avanço anual de 0,2% em 2022. O número, no entanto, é mais positivo do que o do primeiro bimestre do ano passado, quando o acumulado apresentou redução de 2,7%. Apesar da melhora, todos os subíndices avaliados pela pesquisa contaram com retrações.

O destaque negativo mensal foi o componente Expectativa do Empresário do Comércio, que teve redução mensal de 1,6%, puxado especialmente pelo item Empresa (-1,9%). Por outro lado, Intenções de Investimento apresentou a menor retração, de 0,9%. A última vez que o Icec apresentou esse nível de pessimismo foi em abril de 2021, com queda de 6,4%, alcançando 95,7 pontos.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, observa que, de lá para cá, o índice oscilou, mas veio se recuperando em função da melhora das condições da economia, relacionada ao avanço da vacinação. Segundo ele, a inflação ajuda a explicar o relativo desânimo dos comerciantes em fevereiro. "Os resultados refletem as condições operacionais que envolvem as atividades comerciais. Com a energia elétrica e os combustíveis mais caros, os preços no atacado pressionando a formação de preços ao consumidor, os juros ascendentes e o consumo ainda morno, o empresariado demonstra receio", avalia.

Flickr/Maitre Yoda
As condições da economia impõem aos empresários momentos complicados
As condições da economia impõem aos empresários momentos complicados
Os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro ajudam a compreender o cenário. Apesar do decréscimo pelo terceiro mês consecutivo, após o pico de outubro do ano passado, o indicador apresentou a maior taxa para o mês desde 2016 (0,54%). O Boletim Focus, do Banco Central, também apresentou estimativa de baixo crescimento da economia neste ano, estimando 0,30%.

Para o economista da CNC responsável pela pesquisa, Antonio Everton, as condições presentes da economia impõem aos empresários momentos complicados para a gestão e condução do negócio. "A percepção de que as coisas ficaram mais difíceis refletiu-se na diminuição de 2,4% do subindicador Economia do Índice das Condições Atuais do Empresário do Comércio, tendo como pano de fundo, portanto, uma conjuntura mais dura a ser enfrentada", observa.

Ele avalia que, por essa razão, 54,2% dos empresários pesquisados reconheceram que as condições econômicas se deterioraram, superando o conjunto que se mostrou otimista (45,8%). No entanto, o economista acredita que as expectativas são mais promissoras. Segundo as previsões do Boletim Focus, espera-se que a inflação feche o ano próxima da metade (5,44%) do patamar acumulado em doze meses de hoje (10,38%). "Nessas condições, as estimativas hoje são de baixo volume de faturamento do varejo em 2022. Por outro lado, há perspectivas de arrefecimento da inflação, à medida que a política monetária vem gerando efeitos desejados na economia, em particular sobre a atuação do comércio e a formação dos preços ao consumidor".

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