Filip Calixto   |   10/10/2022 13:14

Endividamento atingiu 79% dos lares brasileiros em setembro

O total de lares brasileiros com dívidas a vencer chegou a 79,3%, aponta a CNC

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou que, em setembro, o total de lares brasileiros com dívidas a vencer chegou a 79,3%, o terceiro aumento consecutivo em 2022. No entanto, esse aumento de 0,3 pontos porcentuais, em relação a agosto, desacelerou e é o menor desde abril deste ano. Na comparação com setembro do ano passado, a proporção de endividados também reduziu o ritmo de crescimento, com aumento de 5,3 pontos porcentuais, o que corresponde à menor taxa anual desde julho de 2021.

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Alta no mês se deu pela contratação de dívidas entre mais consumidores de rendas média e baixa. Volume de famílias com contas atrasadas também alcançou marca histórica de 30%
Alta no mês se deu pela contratação de dívidas entre mais consumidores de rendas média e baixa. Volume de famílias com contas atrasadas também alcançou marca histórica de 30%
"É possível verificar que a melhora gradual do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda e a queda da inflação nos últimos dois meses são fatores que geram maior disponibilidade de renda para as famílias. Por outro lado, podemos observar que o alto nível de endividamento e os juros elevados afetam, sobremaneira, o orçamento das famílias de menor renda, ao encarecerem as dívidas já contraídas", observa o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

ENDIVIDAMENTO SUPERA 80% DOS MAIS POBRES
Em setembro, a proporção de endividados entre os consumidores com renda inferior a 10 salários mínimos aumentou 0,4% e atingiu 80,3%, o maior patamar da série histórica da Peic. No grupo de famílias com maior renda, a proporção de endividados manteve-se estável em setembro, mas cresceu mais na comparação anual (ampliação de 7 pontos porcentuais) do que entre as famílias de menor renda (5 pontos porcentuais).

INADIMPLÊNCIA ACELEROU
Em setembro, o volume de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas atingiu 30%, o maior desde o início da Peic, em 2010. Esse é o terceiro aumento mensal consecutivo da taxa, que evoluiu 0,4 pontos porcentuais.
Ao contrário do endividamento, que cresceu em ritmo menor, em um ano, o indicador de dívidas atrasadas expandiu 4,5%, a maior taxa anual desde março de 2016.

"Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda, as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda", analisa a economista da CNC responsável pela apuração, Izis Ferreira. Segundo ela, esses consumidores seguem enfrentando desafios na gestão de seus orçamentos mensais, especialmente porque o nível de endividamento está elevado e os juros maiores pioram as despesas com as dívidas.

ALTA NA PROCURA POR CARNÊS
A maior parte das famílias que relatam estar endividadas, 85,6%, possui contas a vencer no cartão de crédito, que apresentou também a maior alta em um ano, de 1 ponto percentual. O ritmo de endividamento no cartão também vem desacelerando, em razão do maior custo desse tipo de dívida.

Nas dívidas diretas com o varejo, o volume de endividados nos carnês de loja cresce desde maio deste ano. No recorte por faixa de renda, a proporção de endividados nos carnês entre os com até 10 salários mínimos de rendimentos atingiu o maior volume desde fevereiro.

"Isso revela que estes consumidores estão na dinâmica de diversificação do endividamento e buscando alternativas de crédito", explica a economista da CNC. "Quando se olha o filme dos últimos cinco anos, o avanço do crédito operado pelo varejo tem resultado no maior volume de endividados de forma geral no Brasil", acrescenta Izis.

ENDIVIDAMENTO DE HOMENS E MULHERES
O endividamento avançou 0,9 ponto percentual entre as mulheres, de agosto para setembro (eram 80%, agora são 80,9%), enquanto caiu ligeiramente entre os homens (de 78,3% para 78,2%). No intervalo de um ano, as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens.

As mulheres são as mais endividadas no cartão de crédito e no cheque especial, atualmente. Nas demais modalidades de dívida, como carnês de loja, crédito pessoal, financiamento de carro e casa ou crédito consignado, por exemplo, o público masculino é mais numeroso, superando o feminino.

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