Beatrice Teizen   |   04/08/2023 18:00
Atualizada em 04/08/2023 18:01

Por que todo o Turismo deve ter regime específico na Reforma Tributária

Grupo de entidades G20 pede que todas as atividades da cadeia sejam contempladas de forma equilibrada


Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
G20 do Turismo envia carta aberta e nota técnica ao Senado Federal a respeito da Reforma Tributária
G20 do Turismo envia carta aberta e nota técnica ao Senado Federal a respeito da Reforma Tributária

Com o projeto de emenda à Constituição (PEC 45/19), que está no Senado, o trade turístico vem se movimentando para mobilizar o Senado Federal da necessidade de se fazer uma Reforma Tributária em prol do Turismo.

Diante deste cenário, o G20+, grupo que reúne as 20 maiores entidades representativas dos setores de Turismo e eventos, como Abav, Braztoa, Sindepat, Resorts Brasil, FBHA e Clia Brasil, está clamando pela atenção do Senado à` necessidade de garantir ao Turismo uma tributação condizente com suas características, mantendo os setores já incluídos em regime específico e contemplando de forma equilibrada todas as atividades da cadeia e que lhe permita competir no âmbito do turismo internacional.

Não faz sentido deixar alguns setores na exceção (justa) da nova regra, enquanto outros, como a aviação e o agenciamento de viagens, terão aumento da carga tributária.

FecomercioSP
Quem conseguiu ter regimes específicos no texto aprovado na Câmara, segundo levantamento da FecomercioSP. As demais entidades querem que todo o Turismo seja contemplado entre as exceções, pois se alguns pagam mais imposto que outros, isso causaria desequilíbrio na cadeia do Turismo
Quem conseguiu ter regimes específicos no texto aprovado na Câmara, segundo levantamento da FecomercioSP. As demais entidades querem que todo o Turismo seja contemplado entre as exceções, pois se alguns pagam mais imposto que outros, isso causaria desequilíbrio na cadeia do Turismo

Para isto, criou uma nota técnica que mostra a importância da indústria de Turismo e eventos no Brasil, que representa cerca de 10,5% do PIB nacional e teve receita bruta acima R$ 1 trilhão em 2022. Além disso, o setor de Serviços, onde o Turismo está inserido, é o que mais emprega no País, com 59% dos postos de trabalho, como se pode ver abaixo, em levantamento da FecomercioSP.

FecomercioSP

O documento aponta também que, apesar de o setor ser responsável pela geração de 13,6 milhões de empregos diretos, o crescimento do setor e o incremento de sua contribuição para o País "estão gravemente ameaçados pela atual proposta de reforma tributária, que se tenta atualmente aprovar de forma atropelada, sem o necessário debate com a sociedade e os setores potencialmente mais afetados". Somente no agenciamento de viagens o aumento de impostos será de no mínimo 47%, podendo chegar a mais de 110%.

FecomercioSP
Exemplo criado pela FecomercioSP para ilustrar o impacto em agências de viagens que estão no Simples Nacional, caso o texto da reforma seja mantido como está
Exemplo criado pela FecomercioSP para ilustrar o impacto em agências de viagens que estão no Simples Nacional, caso o texto da reforma seja mantido como está

Ontem (3), inclusive, foi realizada uma reunião entre entidades, como Abav, Abracorp, Air Tkt, Braztoa e Clia Brasil, além das empresas BeFly, CVC Corp e Decolar, com o Ministério da Fazenda, que propôs a criação de um grupo de trabalho com membros do trade turístico, Embratur e Ministério do Turismo para estudar os impactos da reforma tributária e definir uma proposta a ser levada ao debate público.

O grupo enviou também uma carta aberta ao senadores, além de uma aos deputados, na qual pede que estes "dediquem especial atenção ao setor de Turismo e eventos como um todo, inclusive fazendo valer a previsão de criação de um tratamento diferenciado, com alíquota especial para o setor".

Confira a nota técnica (que pode ter sua versão original acessada neste link) completa a seguir.

"NOTA TÉCNICA sobre a Impossibilidade do aumento da carga tributária do Setor de Turismo e Eventos no Brasil

De acordo com dados do Ministério do Turismo, com receita bruta acima R$ 1 trilhão em 2022, o setor de turismo e eventos no Brasil representa cerca de 10,5% do PIB nacional. Mais importante do que isso, o setor é responsável pela geração de 13,6 milhões de empregos diretos. 1 Como demonstram dados do IBGE, a importância do setor também é evidenciada pelo fato de ter sido o maior responsável pelo crescimento de 2,9% do PIB brasileiro em 2022.

Em termos de ingresso de divisas, mesmo ainda em processo de retomada após o fim da pandemia da Covid-19, os números impressionam: apenas em janeiro de 2023, turistas estrangeiros gastaram um total de US$ 604 milhões no país. Também merece destaque positivo a geração de empregos pelo setor, que entre janeiro e maio de 2023 foi responsável pela criação de 83,9 mil novos postos de trabalho.

Contudo, o crescimento do setor e o incremento de sua contribuição para o país estão gravemente ameaçados pela atual proposta de reforma tributária, que se tenta atualmente aprovar de forma atropelada, sem o necessário debate com a sociedade e os setores potencialmente mais afetados.

Atualmente, a tributação indireta do setor gira entre 8,65% e 14,25% do faturamento. Estima-se que o somatório da alíquota do IBS e da CBS será de, no mínimo, 25%. Há quem fale de percentuais bem superiores, na casa dos 37%. Na prática, isso significa majorar a carga tributária do setor de turismo e eventos entre 290% e 430%.

Além de representar um aumento vertiginoso da carga tributária do setor, caso a reforma tributária impeça que o setor de turismo figure entre aqueles elegíveis a um tratamento diferenciado em virtude de suas características intrínsecas, o Brasil seguirá na contramão do que se verifica na maioria dos outros países seja no que se refere à alíquota nominal aplicada ao setor, seja no que se refere à comparação entre a alíquota aplicada ao setor e a alíquota base praticada pelos países.

Ainda que seja considerada uma alíquota de 25%, o turismo no Brasil será tributado em patamar extremamente superior à prática internacional. Isso porque em mais de 80 países nos quais o consumo é tributado por meio do IVA, são adotadas alíquotas favorecidas para setores como o setor de turismo e eventos.

Demonstrando essa discrepância, na relação abaixo é possível observar as alíquotas gerais e as alíquotas específicas para as atividades turísticas de 8 dos países que mais atraem turistas no mundo.

Divulgação

Percebe-se da relação acima que em nenhum dos países que mais atraem turistas no mundo há uma alíquota nominal de IVA no patamar de 25%. Não bastasse isso, em todos os países que mais atraem turistas no mundo, o setor de turismo é objeto de tratamento diferenciado mediante alíquotas reduzidas ou mesmo de desoneração, o que se dá em virtude de suas características intrínsecas.

De fato, o setor de Turismo é altamente intensivo em mão de obra, que representa uma das maiores despesas do setor que, no contexto da tributação não cumulativa do consumo, não gera créditos para a empresa empregadora. Situação similar se observa em relação a outras despesas relevantes do setor, como as despesas imobiliárias com os locais onde é desenvolvida a atividade, que na maioria dos casos igualmente não gera créditos.

Além disso, há outro fator extremamente importante que impede a adoção de uma alíquota nominal para o setor de turismo: diferentemente da maioria dos setores para os quais a maior parte da clientela é composta de empresas (que podem apropriar créditos sobre os serviços adquiridos), a clientela do setor de turismo é composta majoritariamente de consumidores finais pessoas físicas, que não se creditarão sobre as despesas com turismo e eventos. Isso significa dizer que o impacto do aumento dos tributos no caso do setor de turismo e eventos não é amenizado pela contrapartida do aumento dos créditos por parte da sua clientela.

É justamente por isso que na experiência internacional o setor de turismo recebe tratamento tributário diferenciado em relação ao IVA, o que se dá mediante alíquotas reduzidas ou mesmo isenção.

Não se pode esquecer, ainda, dos nefastos efeitos da pandemia sobre o setor de eventos e turismo, ainda não totalmente recuperados das medidas adotadas para o combate à Covid-19 e que impuseram suspensões reiteradas (em muitos casos por meses seguidos) das atividades do setor. A esse respeito, segundo a Embratur - Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, a retomada do turismo pós-pandemia no Brasil tem sido lenta em comparação à média internacional. As regiões com os melhores desempenho de retomada do turismo internacional foram Oriente Médio (83%) e Europa (80%). O Brasil ficou atrás dos países africanos (63%) e das Américas (66%).

Portanto, o severo aumento da tributação do setor, nos termos propostos pela PEC 45, pode ter um impacto extremamente negativo, inviabilizando a operação de diversas empresas e provocando o fechamento de postos de trabalho, além de expressiva redução da demanda pelos serviços fornecidos, que será resultado automático da necessária transferência do ônus tributário para os consumidores.

Diante desse cenário, é imprescindível reconhecer o setor de Turismo e Eventos entre aqueles com direito à redução e à desoneração da tributação do consumo, como mecanismo de incremento dessa atividade econômica que possui enorme efeito multiplicador, evitando-se a majoração da carga tributária desse setor que é responsável pela geração de número expressivo de empregos diretos no Brasil."

Divulgação
Entidades do G20
Entidades do G20

Assinam a nota:

  • MAGDA NASSAR - Presidente Associação Brasileira de Agencias de Viagens (ABAV)
  • JUREMA MONTEIRO - Presidente Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR)
  • FÁTIMA FACURI - Presidente Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC)
  • GERVÁSIO TANABE - Presidente Executivo Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (ABRACORP)
  • DORENI CARAMORI JR. - Presidente Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE)
  • VANESSA COSTA - Presidente Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (ADIBRA)
  • CAIO CALFAT - Presidente Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT BRASIL)
  • LUCIANO GUIMARÃES - Presidente do Conselho Associação Brasileira dos Consolidadores de Passagens Aéreas e Serviços de Viagens (AIR TKT)
  • SIMONE SCORSATO - CEO Brazilian Luxury Travel Association (BLTA)
  • FABIANO CAMARGO - Presidente Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA)
  • MARCO FERRAZ - Presidente Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA BRASIL)
  • ALEXANDRE SAMPAIO - Presidente Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA)
  • ORLANDO DE SOUZA - Presidente Executivo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB)
  • MURILO PASCOAL - Presidente Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (SINDEPAT)
  • CARLOS ALBERTO SAUANDAG - Presidente Sindicato de Emp. de Prom. Org. e Montagem de Feiras Cong. e Ev. do Est. de SP (SINDIPROM)
  • PAULO VENTURA - Presidente do Conselho União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios (UBRAFE)
  • TONI SANDO - Presidente União Nacional de CVBx e Entidades de Destinos (UNEDESTINOS)
  • MARCELO PICKA VAN ROEY - Presidente do Conselho Associação Brasileira de Resorts (RESORTS BRASIL)




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