Rodrigo Vieira   |   30/09/2025 10:41

Renato Kido fala com a PANROTAS: veja entrevista com o fundador da ViagensPromo

Empresário garante que trabalha diariamente para solucionar danos causados a agências; veja entrevista

PANROTAS / Filip Calixto
Renato Kido
Renato Kido

Depois de um longo período em silêncio, Renato Kido falou com a PANROTAS. Em um telefonema que contou com a participação de seu advogado, Anthonio Araújo, do escritório ABLAW, o fundador e CEO da ViagensPromo deu alguns esclarecimentos para o mercado, sempre acompanhado de seu assessor jurídico.

Falando sobre acusações de agências, parceria com a Faturepag, chargeback, boatos de seu retorno ao mercado e outros assuntos, Renato Kido finalmente quebra o silêncio e volta a falar à PANROTAS.

Em crise financeira e sem operar desde o primeiro bimestre de 2025, a ViagensPromo deixou centenas de agências de viagens sem repasses a fornecedores. Às agências restou buscar diferentes maneiras de contornar a crise, em alguns casos fechando as portas.

Leia a seguir a entrevista entre PANROTAS e ViagensPromo. Note que a maioria das perguntas foi respondida pelo advogado Anthonio Araújo, a pedido de Renato Kido.

PANROTAS - Muitos agentes de viagens lesados pela crise financeira da ViagensPromo dizem que não estão obtendo nenhuma resposta da operadora. Algum dia eles terão?

RENATO KIDO – Venho trabalhando todos os dias para isso. Foram milhares de cartas de chargeback emitidas para os agentes de viagens, totalizando quase R$ 51 milhões em cartas de chargeback, o que já foi uma grande vitória para mim.

Estou trabalhando caso a caso, agência por agência, e tudo o que eu puder fazer, estou fazendo para ajudar a trazer o dinheiro de volta aos agentes. Vou continuar trabalhando até minha última gota de sangue para tentar trazer o dinheiro de volta a eles.

Estou empenhado, trabalhando todos os dias, desde que irrompeu a crise da ViagensPromo, ao lado dos advogados e das instituições bancárias, para reverter esse quadro. Não está sendo fácil, mas estou tentando todos os dias, com os advogados, com todas as instituições bancárias. Não é fácil, não está sendo fácil.

PANROTAS – Esses R$ 51 milhões representam quanto do valor total?

KIDO – Por volta de 60% do valor total do prejuízo das agências. E nos casos mais difíceis estou trabalhando pessoalmente, individualmente.

PANROTAS – Você mesmo está trabalhando em alguns casos? O que ouvimos de muitos leitores é que você está incomunicável. Você está dando as caras para as agências?

KIDO – São muitos casos, muitas agências. Eu ajudo em um caso ou outro, quando preciso entrar mais fortemente. Mas não consigo absorver tudo, então tenho um corpo jurídico por trás desse suporte. Garanto que estamos tentando resolver todos.

PANROTAS – E os pagamentos de cartão que a ViagensPromo já tinha antecipado? Esse dinheiro foi devolvido?

KIDO – Estou empenhado em resolver os casos de chargeback. Doutor Anthonio pode falar sobre esses outros casos.

ADVOGADO ANTHONIO ARAUJO – Para responder a esta pergunta, é preciso separar B2B e B2C.

B2C: o consumidor final que foi frustrado em sua viagem e provou por meio da ouvidoria da ABLAW Advocacia, ganhou uma carta de chargeback e praticamente todo o valor de cartão para ele foi devolvido. A ViagensPromo priorizou resolver a situação de quem ia viajar, de quem teve a viagem frustrada, quem estava no contexto de não poder acessar seu hotel, por exemplo. Focamos nisso e obtivemos um sucesso muito grande. Isso fez com que baixasse muito a pressão das agências.

B2B: no trade, as agências que realmente resolveram beneficiar seu consumidor, tiveram o problema resolvido. Acontece que teve muita agência que não quis passar para seu consumidor final a nossa ouvidoria, não quis explicar o contexto, a carta, o chargeback... Teve agências que quiseram assumir a responsabilidade, que não quiseram repassar o problema ao cliente, embora nós tenhamos tentado convencê-las a fazê-lo.

Esse contexto é importante ser compreendido, pois a ViagensPromo reuniu todas suas energias: tecnológica, jurídica, administrativa... e conseguimos atingir volumetria de devolução de mais de R$ 50 milhões para o consumidor. Matamos basicamente todo o prejuízo que o consumidor teve nesse contexto.

PANROTAS – Mas tem agente que ainda está no prejuízo...

ARAUJO – Sim, ainda tem um prejuízo que está sendo calculado dentro da Recuperação Judicial. São principalmente daqueles consumidores os quais não conseguimos atingir por falta de informação da agência, por falta de informação do contexto.

PANROTAS – Como assim "falta de contexto"?

ARAUJO – O contexto é grande. A ViagensPromo era o terceiro maior player do Turismo do Brasil. Tínhamos dentro desse contexto a responsabilidade de o Renato diariamente resolver ponto a ponto, junto com seu time administrativo e jurídico, caso a caso, vendo a solução.

O que mais causa estranheza é que dentro disso tinha várias agências caloteiras, que levaram ao consumidor prejuízo e colocaram na conta da ViagensPromo, inclusive grandes operadoras. Há operadoras que alegaram a seus parceiros e clientes que devido à crise da ViagensPromo, atrasou pagamentos. Muitas empresas... estelionatárias processualmente, convictas em processos, dizendo que a culpa de seus prejuízos é da ViagensPromo.

PANROTAS – Fato é que a quebra da ViagensPromo foi bem relevante para o mercado.

ARAUJO – Outros grandes players estão quebrando no mercado de Turismo e fatalmente em breve isso virá à tona.

PANROTAS – Por falar em boatos, gostaria de saber do Alan Barros [CEO da Faturepag]. Queria esclarecimentos sobre esta parceria.

ARAUJO – A ViagensPromo e o Renato Kido não têm nada a dizer sobre Alan Barros e nem Faturepag. Isso foi uma questão mercadológica... não temos nada a falar sobre eles.

PANROTAS – Os senhores dizem que mais de 90% das ações contra a ViagensPromo foram vencidas na Justiça. Falem mais sobre isso. Que ações são essas?

ARAUJO – Sim, vencemos mais de 90% das ações. São ações públicas. Basta consultar no JusBrasil e vocês verão que tivemos um êxito gigante nas operações, ações vindas de agências e da área hoteleira e outras vindas de empresas nas quais confiamos, como a ETS, de Michael [Barkoczy]. Ele era sócio do Renato e toda vinculação era com o Michael. Ele era o controller da operação e depois veio a público dizer que não era sócio. Mas a verdade é que o Renato tinha uma sociedade com ele, que era investidor da ViagensPromo. A ETS e o Michael são um de nossos focos. Estamos buscando ressarcimento por todo o prejuízo que ele causou à ViagensPromo.

Resposta de Michael Barkoczy

Procurado para esclarecimentos a respeito destes argumentos, Michael Barkoczy, CEO da ETS, afirma:

"Renato Kido não é sócio da ETS.

Basta consultar a Junta Comercial para confirmar.

De fato, existe uma ação da ETS contra a ViagensPromo por falta de pagamento de faturas.

Ou seja, o prejuízo não foi causado pela ETS, mas sim pela ViagensPromo, que deixou de honrar os pagamentos pelos serviços prestados.

O único entrave jurídico existente hoje é justamente essa ação movida pela ETS para cobrar os valores devidos.

É de conhecimento geral no mercado o quanto a Viagens Promo prejudicou agentes de viagens, hoteleiros, consolidadores, receptivos e tantos outros.

A ETS também foi vítima desse calote.

É muito triste ver uma empresa que gerou tantos prejuízos ainda ter voz em nosso mercado e tentar prejudicar pessoas e negócios que trabalham incansavelmente para saldar as dívidas deixadas por ela. Colocamos nosso jurídico à disposição para esclarecer qualquer dúvida e acompanhar todo o processo."
Michael Barkoczy, CEO da ETS

PANROTAS – Quando a crise começava a se agravar e o Renato deixou de atender os agentes de viagens, o senhor Anthonio, conversou conosco e disse que acreditava na retomada da operadora. Vocês ainda têm essa esperança?

ARAUJO – Esse é um trabalho constante. Temos desejo de voltar, mas antes disso precisamos honrar muitos compromissos que foram assumidos e agora estamos dedicados exclusivamente a resolver isso. Não sei se teremos capilaridade e credibilidade de voltar como ViagensPromo no futuro. Se entender que não, vamos buscar uma Recuperação Judicial para reparar os danos causados.

KIDO – Eu trabalho todos os dias para resolver os danos causados. Eu não estou sumido. Eu me dedico diariamente, caso a caso, tentando resolver da melhor maneira possível. Nem sempre as agências querem passar nossa solução aos clientes, e isso gera um transtorno.

Àquelas que aceitam, fazemos de tudo para resolver, devolvendo carta de chargeback ou possibilidade de comprar com outro player. Não estamos parados. Estou dedicado a resolver os problemas que causei junto com a ViagensPromo. Estou fazendo tudo o que posso. Acordo e durmo pensando como solucionar. O agente que está disposto a resolver, está conseguindo.

PANROTAS – Por favor, esclareçam: o que é resolver e o que é criar problemas?

ARAUJO - Os maiores problemas estão sendo causados pelas agências que não querem repassar os dados de seus clientes da outra ponta para a ViagensPromo gerar o chargeback.

PANROTAS – Por que uma agência de viagens faria isso?

ARAUJO – Boa pergunta. Precisaria perguntar para as agências que estão fazendo isso.

PANROTAS – E o chargeback seria a solução para todos os problemas adquiridos pela ViagensPromo?

ARAUJO – O que posso dizer é que todas as agências que entraram com pedido de chargeback têm tido seus problemas resolvidos.

PANROTAS – Renato, procede que você está voltando ao mercado por meio de outros CNPJs e/ou CPFs?

KIDO – Eu não tenho a menor cabeça para isso. Estou focado em apagar incêndio que causei com agências de viagens. Eu não posso voltar enquanto não resolver.

ARAUJO – É descabido esse comentário. Recebo comentários diários como esse. São conjecturas vazias. O mercado fala o que quer, são boatos vazios e ridículos. Fato é que o Renato Kido é um grande player, senão o maior player de Turismo que aconteceu no Brasil. O empresário mais inteligente do Turismo no Brasil. Ele foi mal assessorado, teve uma equipe que não correspondeu, mas isso não vem ao caso. Mas ele, como profissional, não estaria impedido de prestar consultoria, pois é o detentor de conhecimento de poucas pessoas do mercado.

PANROTAS – Ele está fazendo isso? Está voltando ao mercado?

ARAUJO – Estou dizendo que ele poderia fazer, mas não está fazendo. Não está construindo nada novo, mas se quisesse poderia ajudar outras empresas, outras consultorias, por meio de contrato. Seria inconstitucional inibi-lo disso. De qualquer forma, ele não está fazendo isso no momento. Nem com a ViagensPromo, nem com outra empresa.

PANROTAS – Recuperação Judicial, decretação de falência... quão próximos estamos de uma resposta oficial sobre a ViagensPromo para acabar com essa nebulosidade que tanto incomoda os agentes de viagens impactados?

ARAUJO – Isso depende do Judiciário. Recuperação Judicial é um planejamento, como acabou de sair a assembleia de aceitação da RJ da 123 Milhas. Nada está fora do nosso radar. Estamos trabalhando para poder cumprir nossas exigências legais e constitucionais dentro do processo. Todas as possibilidades jurídicas estão à mesa. Nada foi descartado.

PANROTAS – Pouco antes de a crise estourar, a ViagensPromo oferecia um iPhone por dia, campanha com estrela da televisão, anunciava FIDC de R$ 1,5 bilhão... Quando você viu que a situação involuiria como involuiu?

ARAUJO – Todo mundo que conhece a fundo o Renato e toda a trajetória dele, sabe que jamais alguém poderia pensar algo intencional de forma negativa sobre ele. Apesar de tudo o que a ViagensPromo causou, eu escuto até hoje pessoas dizendo que estão com saudade do Renato, pois ele foi um player disruptivo, que realmente mudou o segmento. Então, não há o que se questionar nesse sentido. Renato era, sobretudo, uma pessoa de tração e de construção de mercado. Se houve algum desentendimento com instituições financeiras, isso não partiu do Renato, que sempre foi um cara do Turismo.

PANROTAS – Na semana passada, surgiram vagas em nome da ViagensPromo no Linkedin. Foram mais de 200 vagas de empregos, o que gerou revolta e confusão nos agentes de viagens. O que vocês têm a dizer sobre isso?

ARAUJO – Essas vagas não têm absolutamente nada a ver com a ViagensPromo. A operadora não está atuando, não está contratando, nem vendendo. Nosso perfil foi invadido e essas vagas publicadas de maneira errada.

Nota da Redação: De fato, a PANROTAS apurou a questão das vagas no Linkedin e comprovou que as vagas não procediam. Elas levavam o nome da agência NoCeci, que foi consultada pela reportagem e rechaçou qualquer ligação com a ViagensPromo.

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Sobre o autor

Rodrigo Vieira é jornalista com 12 anos de especialização na indústria de Turismo, todo esse tempo orgulhosamente na PANROTAS. Sua maior satisfação profissional é quando, por meio de seu trabalho, ajuda um agente de viagens a obter êxito. Conhece 30 países e ama viajar para o Exterior, mas jamais moraria fora do melhor destino de todos, o Brasilzão.