Accor debate sustentabilidade na hotelaria e destaca impacto de práticas
Setor responde por 1 bilhão de toneladas de CO2 ao ano e busca projetos com eficiência e resiliência

Com o tema "Presente ao futuro: tendências na hospitalidade", a Accor realizou um evento em São Paulo nesta segunda-feira (29) para colaboradores, fornecedores e investidores. Com a COP30 batendo à porta, o tema da sustentabilidade na hospitalidade foi um dos pontos altos da discussão.
O encontro foi realizado em parceria com 0 CTE - Centro de Tecnologia em Edificações, que trouxe duas colaboradoras para explicar as principais tendências sustentáveis na hospitalidade. Lara Teixeira, vice-presidente de Design e Technical Services da Accor, destacou a importância do encontro com profissionais da indústria.
"A gente projeta um hotel para durar. Nosso objetivo é ter empreendimentos com vida útil de 30 a 50 anos. Isso significa um grande desafio para as nossas equipes técnicas e para os nossos fornecedores, que precisam ser futuristas"
Lara Teixeira, vice-presidente de Design e Technical Services da Accor
Por sua vez, Adriana Hansen, diretora técnica da unidade de Sustentabilidade do CTE, apresentou a atuação da empresa e os impactos da pauta ambiental na hotelaria. "Nós estudamos e atuamos em diversas frentes no Brasil. A sustentabilidade está no centro da nossa jornada ESG, em que apoiamos empresas do setor imobiliário, construtoras, fabricantes de materiais, gestoras de ativos e também segmentos como hotelaria, hospitalidade, saúde e educação. Nosso portfólio é bastante amplo, ajudando companhias a se estruturarem e se posicionarem em temas ligados a essa agenda. E estamos aqui para falar de um futuro que esperamos que seja cada vez mais sustentável."
Segundo Adriana, sustentabilidade deixou de ser discurso e se tornou fator de negócio. "Não podemos romantizar. Sustentabilidade é business. É preciso dar resultado. Projetos ambientalmente melhores são também mais coerentes com o negócio. Estudos mostram que prédios que adotam práticas sustentáveis geram, em média, 12% a mais de receita. Isso porque reduzem custos operacionais com energia, água e resíduos, além de aumentarem a atratividade junto aos clientes."
Ela também alertou para a relevância das emissões do setor. "A hotelaria responde por cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a 3% das emissões globais. Um terço vem da operação dos hotéis e dois terços de novas construções e reformas. Isso mostra o peso do setor nas discussões de mudanças climáticas", afirmou.
Preferência do cliente

Adriana ressaltou que o comportamento do consumidor também reforça a necessidade do tema. "Mais de 70% dos turistas globais buscam práticas sustentáveis. A Accor possui quatro pilares estratégicos de sustentabilidade, abrangendo todas as áreas da empresa. A questão da sustentabilidade e dos compromissos de descarbonização não é responsabilidade apenas de uma área, como ESG. É responsabilidade do desenvolvimento, dos projetos, das operações, das finanças e de todas as áreas de suporte. Nossas estratégias integram todas as áreas da empresa, e queremos envolver também os demais segmentos da indústria", explicou.
Na área de design, Lara afirma que práticas sustentáveis já são utilizadas há mais de 20 anos. São mais de 200 hotéis em países que utilizam placas solares e mais de 100 empreendimentos construídos com sistemas de reuso de água para irrigação, entre muitas outras iniciativas sustentáveis.
Tendências sustentáveis na hospitalidade

Patrícia Yoshiko, coordenadora da Unidade de Sustentabilidade do CTE, explica que a pressão regulatória já coloca os empreendimentos diante de um cenário em que precisam pensar em redução das emissões de gases de efeito estufa. "E esse momento é agora. Tudo começa, de fato, em um bom projeto, em um projeto inteligente, desde a escolha do terreno até decisões técnicas que vão impactar a operação do hotel no futuro".
A executiva cita como exemplo o caso de um hotel em Paris que tem sido chamado de "pulmão da cidade". Ele foi concebido com uma fachada que alia materialidade, vegetação e soluções para garantir ao máximo a iluminação natural, mas, ao mesmo tempo, reduzir a entrada excessiva de calor. Ou seja, é um projeto que conecta eficiência, estética e contato com a natureza, reforçando a sustentabilidade do empreendimento.
Na hotelaria, a fachada é determinante para o conforto do hóspede. Ela impacta a iluminação natural, a percepção da qualidade do espaço, a acústica e até mesmo a sensação de bem-estar. Por isso, na concepção, é preciso considerar fatores como o entorno, o posicionamento de áreas de ventilação, o tipo de vidro e o isolamento acústico e térmico. Tudo isso deve ser dimensionado corretamente, com apoio de especialistas, para garantir eficiência energética, conforto e redução de impactos externos, como ruídos de metrô, aeroportos ou avenidas movimentadas.

Na parte hídrica, a primeira responsabilidade é reduzir o consumo de água. Isso passa pelo uso de dispositivos eficientes, como chuveiros de baixo consumo (já comuns em várias redes), arejadores em torneiras, bacias sanitárias com descarga eficiente e máquinas de lavar louça e roupa com menor gasto de água. Em paisagismo, a escolha de espécies nativas é fundamental, pois elas já estão adaptadas ao regime de chuvas local e exigem menos irrigação. Um zoneamento inteligente das áreas verdes também reduz a demanda hídrica.
Outro destaque foi contado por Fernando Mariante, Property & Maintenance Manager Accor Américas. "A Accor tem sido pioneira em diversas iniciativas. Já utilizamos aquecimento solar para água em grande parte dos hotéis, e fomos precursores, por exemplo, na adoção da descarga com duplo fluxo. Esse pioneirismo se mantém, e para continuar nessa liderança estamos atualizando normas e renovando nossos padrões, trazendo referências de certificações como BREEAM e LEED, que a Patrícia citou, e aplicando isso à realidade local", explica
Um exemplo é o Novotel Itu. Desde a fase de projeto, Mariante compartilha que foram muitos desafios por conta da grande área verde, mas conseguiram implementar soluções que tornaram o hotel uma referência em sustentabilidade. O ar-condicionado, por exemplo, é de alta eficiência, com sistemas mistos que permitem maior produtividade energética em cada área. A iluminação conta com automação, sensores de presença e controle de qualidade. Além disso, foram instalados carregadores para veículos elétricos, e toda a energia utilizada é proveniente de fontes renováveis.
Impactos na hotelaria

Os impactos, segundo Adriana, já são visíveis. "Eventos climáticos extremos, como as chuvas em Porto Alegre, mostram como o setor é vulnerável. Enchentes, secas mais intensas, aumento da temperatura e elevação do nível do mar afetam diretamente a operação e até a atratividade turística de algumas regiões. Projetos precisam considerar a resiliência climática desde a concepção, caso contrário, estarão sempre expostos a riscos."
Ela destacou ainda que o tema não se limita ao ambiental, mas também ao financeiro. "Hoje temos instrumentos como a taxonomia sustentável, que define critérios para um empreendimento ser considerado sustentável. Isso abre portas para financiamentos mais baratos, linhas verdes de crédito e benefícios fiscais em cidades como Salvador, Manaus e Maringá. Cada vez mais bancos e investidores priorizam projetos alinhados a essas diretrizes, o que traz retorno direto para os negócios."
Para Adriana, quatro pilares devem guiar a sustentabilidade no setor: resiliência e performance; saúde e bem-estar; conservação e restauração ecológica; e mitigação e adaptação às mudanças climáticas. "Mitigar é reduzir impactos, como consumo de energia e emissões. Adaptação é conseguir responder a situações imediatas, como uma chuva intensa. Já a resiliência é a capacidade de manter o desempenho ao longo do tempo, mesmo com mudanças no clima. Projetar sistemas e edificações resilientes é essencial para garantir a longevidade e a competitividade dos hotéis", explicou.
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