Filip Calixto   |   23/07/2019 12:42   |   Atualizada em 23/07/2019 12:53

Secretários de Turismo reprovam nova marca do Brasil no Exterior

Em nota enviada à imprensa, as secretarias estaduais reforçam a ausência de posicionamento de mercado e a falta de diálogo com representantes do setor.

Lançada na semana passada, a nova marca da Embratur para promover o Turismo do Brasil no Exterior não foi tão bem recebida quanto a gestão atual do instituto esperava. Mais que as críticas em fóruns e redes sociais, o projeto gerou discussão também entre representantes do setor. Os principais apontamentos reclamam de falta de representatividade do slogan Brazil – Visit and love us. Mas há também ressalvas sobre o pouco tempo de elaboração, a respeito da utilização da letra Z no nome do País e até a possibilidade de uma interpretação ambígua na frase tema. Uma das avalizações negativas vem do do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes de Turismo (Fornatur), que se posicionou oficialmente sobre o assunto.

Emerson Souza
Hugo Paiva, presidente do Fornatur
Hugo Paiva, presidente do Fornatur
Em nota enviada à imprensa, as secretarias estaduais reforçam a ausência de posicionamento de mercado e a falta de diálogo com representantes do setor. "Entendemos que a nova marca não possui um posicionamento de mercado e não representa o Turismo do Brasil. Fica evidente que ela não possui conceito de marca turística, já que esse processo demanda tempo e planejamento", diz a nota.

Para contestar a nova campanha, o Fornatur cita o programa anterior e seus trunfos como comparativo. "Um exemplo disso é a marca que estava vigente até o momento e que, durante meses, teve o plano de marketing desenvolvido pelos melhores especialistas do Turismo internacional, em conjunto com os representantes do Turismo nacional. A marca lançada não descreve as belezas e diversidade do País ou a cultura de seu povo", segue o comunicado.

A organização ainda vai mais fundo no que entende como defeitos da campanha. "Entre os problemas da nova marca, podemos citar o estrangeirismo do nome do País. Brasil com "Z" ignora a grafia correta, não é utilizado há décadas e foi abolido justamente para que nossos símbolos fossem respeitados. O nome de um país, assim como sua bandeira, é um de seus maiores valores. O argumento de que o nome do País escrito com a letra "Z" é bom para os estrangeiros que o buscam na internet cai por terra, já que hoje em dia os algoritmos detectam as possibilidades da palavra e já a sugerem, não tendo nem a necessidade de escrever corretamente", continua a nota.

"Outro problema é o slogan e como ele foi traduzido para o inglês. O Brasil vem há anos trabalhando para apagar a imagem de destino de "turismo sexual", porém a tradução dúbia do slogan pode colocar todo esse trabalho em risco. O slogan, como foi apresentado, sugere conotação sexual já que, na língua inglesa, o verbo amar pode significar um ato sexual se vier junto com o pronome errado, como no caso dessa marca que usa o pronome "us" e não o "it".

Formado em Marketing, o presidente do Fornatur, Hugo Paiva, do Maranhão, procura usar sua visão de profissional da área para entender os detalhes da programa. "Numa avaliação técnica, não consigo entender aspectos básicos como posicionamento ou conceito. Também questiono o fato de não termos notícias sobre briefing ou algum tipo de teste prévio. Para mim, não houve clareza no processo de criação", comenta.

Outro fator de descontentamento demonstrado pela associação está relacionado a um compromisso estabelecido entre Fornatur e Embratur em maio, numa reunião realizada em Goiânia, durante o Conotel, com 23 líderes estaduais. À época, representantes do MTur e da Embratur comprometeram-se a incluir ou pelo menos levar em consideração as ideias do Fornatur em planos estratégicos para o Turismo nacional. "Não fomos partícipes do projeto e, como representantes dos estados que vão receber turistas vindos do Exterior, não nos sentimos representados. Não fomos ouvidos e ao nosso ver, a campanha não traduz a riqueza cultural do povo, nem a essência dele", pontua Paiva. O documento é assinado pelo fórum, representando todos os secretários.

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