Beatriz Contelli   |   01/09/2022 08:00
Atualizada em 01/09/2022 11:09

Artigo: Brasil ainda enfrenta caminho incerto na retomada

O coordenador do Comitê TravelTech analisou a retomada e os principais desafios do mercado de Turismo

Ao analisar a retomada e os principais desafios do mercado de Turismo no Brasil, o diretor do Grupo Expedia na América Latina Gustavo Dias expõe que, apesar dos ótimos números que o País registrou nos primeiros cinco meses de 2022, ainda estamos longe de encarar a potencialidade do setor como ativo econômico.

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Gustavo Dias
Gustavo Dias
Atrás de destinos como Argentina, Colômbia e México, o Brasil não investe nem US$ 10 milhões em propaganda do País no exterior por ano. Confira o artigo na íntegra:

A retomada e os desafios do Turismo no Brasil: para onde estamos indo?
Por Gustavo Dias*

"A retomada do setor de Turismo no Brasil, após dois anos de restrições impostas pela pandemia, é evidente. O ano de 2022 tem sido um marco para o Turismo nacional, principalmente se levarmos em consideração que apenas nos cinco primeiros meses deste ano, passamos a barreira de 1 milhão de visitantes estrangeiros. Até abril, já tinham passado pelo País mais de 962 mil turistas vindos de fora, ultrapassando o número de 2020 inteiro, de acordo com dados do Sistema de Tráfego Internacional (STI) da Polícia Federal. Porém, apesar de números animadores, o setor ainda enfrenta grandes desafios.

É bom relembrar os efeitos da covid-19 no mercado de viagens do Brasil: durante a pandemia, as reservas brutas caíram 62% no País (total de US$ 7,3 bilhões em 2020), de acordo com dados do Latin America Travel Market Report 2021 – 2025, desenvolvido pela Phocuswright. Em 2021, a receita geral aumentou para US$ 9,8 bilhões e a projeção é chegar a US$ 15 bilhões até o final de 2022.

Apesar da significativa retomada, os números não nos colocam nem perto dos países em que o Turismo é visto como ativo econômico, coisa que o Brasil ainda não enxerga. Para se ter uma ideia da importância do Turismo: ele faz parte de um setor econômico maior, o de serviços, responsável por puxar para cima o Produto Interno Bruto (PIB) do País. E com a retomada do setor, o PIB cresceu 1,96% acima da média nacional (1,7%) nos primeiros três meses de 2022, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Ou seja, o investimento em Turismo pode e deve ser revisto e recalculado.

Em um país tão grande e diverso, a falta de visibilidade mundial de Estados e cidades menores também é evidente. No primeiro semestre de 2022, os destinos mais buscados por turistas estrangeiros no Brasil, na Hotéis.com, são: São Paulo, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu (PR) e Florianópolis. Destinos nacionais fora do eixo Sudeste e turístico nem passam perto da lista dos mais procurados, apesar de tantos destinos paradisíacos e atributos incontáveis.

Isso porque, em termos de divulgação, o Brasil investe apenas US$ 8 milhões por ano em propaganda do País do Exterior. Enquanto a Argentina, por exemplo, investe US$ 120 milhões, a Colômbia US$ 70 milhões e, o México ,US$ 500 milhões. Os números mostram que nosso investimento oficial é ainda irrisório. A boa notícia é que a Embratur tem intensificado neste ano as iniciativas de promoção do Brasil em mercados estratégicos mundo afora, o que é fantástico, porém o caminho ainda é longo e árduo.

Para conseguirmos começar a mudar este cenário e planejar de maneira contundente os próximos passos, é necessário o envolvimento de outros órgãos para o impulsionamento do Turismo brasileiro, além dos dedicados ao segmento. Afinal de contas: para onde estamos indo e aonde queremos chegar? Essa é uma luta diária, de toda a cadeia produtiva do setor. E a esperança é de que os recentes resultados abram os olhos de todos os envolvidos. Só assim, juntos, iremos alcançar outro patamar, que o turismo brasileiro tanto merece."


*Gustavo Dias é diretor do Grupo Expedia na América Latina.

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