Cade pede suspensão da fusão entre ClickBus e RJ por informações falsas; entenda
Superintendência aponta omissão sobre concorrência no mercado de softwares de gestão de passagens

A Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) recomendou ao Tribunal do órgão a suspensão e reavaliação da compra da RJ Participações S.A. pela ClickBus (Bus Serviços de Agendamento S.A.). A operação havia sido aprovada sem restrições, mas o novo parecer alega que a decisão se baseou em informações falsas ou enganosas apresentadas pelas empresas.
De acordo com a Superintendência, as companhias afirmaram não competir no mesmo mercado, o que caracterizaria ausência de sobreposição horizontal. No entanto, a investigação concluiu que há concorrência direta entre as partes, especialmente no segmento de softwares de gestão de passagens (IMS).
O órgão identificou que a Smart Travel, desenvolvedora do sistema SmartBus e reconhecida como concorrente da RJ, é controlada pelo Grupo Guanabara, um dos principais acionistas da Bus Serviços e da ClickBus. Para a SG, essa estrutura evidencia unidade econômica e gestão comum, caracterizando concorrência não declarada.
O parecer também cita um histórico de omissões e descumprimentos de Bus Serviços, JCA e Grupo Guanabara em outros processos analisados pelo Cade. Diante das constatações, a Superintendência recomenda a suspensão da aprovação da fusão, a reabertura da análise do caso e a aplicação de multa à Bus Serviços por prestação de informações falsas, em valor que pode variar entre R$ 60 mil e R$ 6 milhões.
Visão do mercado
A BlaBlaCar, que havia questionado a operação, afirmou que o novo posicionamento do Cade confirma preocupações já levantadas sobre a concentração no setor rodoviário. A empresa argumenta que a união entre grupos que controlam viações e plataformas digitais pode restringir a competição e reduzir as opções para os consumidores.
Durante o processo, BlaBlaCar, Omio e BusOn solicitaram o direito de atuar como partes interessadas, pedido que foi negado pelo órgão. Segundo as empresas, isso impediu o debate técnico sobre os impactos da operação na concorrência.