Karina Cedeño   |   16/10/2023 08:17
Atualizada em 16/10/2023 13:14

Etarismo no mercado de trabalho: um tema que não deve ser ignorado

Tema será destaque na próxima edição do Lacte, que acontece em fevereiro do ano que vem

PANROTAS / Emerson Souza
Giovana Jannuzzelli, ex-diretora executiva da Alagev
Giovana Jannuzzelli, ex-diretora executiva da Alagev

A maturidade nem sempre vem acompanhada de oportunidades, principalmente no mercado de trabalho. Entre os desafios encontrados pelos profissionais com mais de 50 anos para conseguir emprego, está a questão do etarismo, que é a discriminação ou preconceito por causa da idade. A questão ganhou destaque recentemente no Brasil, depois da divulgação de um vídeo em que três jovens debocham de uma colega de faculdade pelo fato de ela ter mais de 40 anos. Esse acontecimento, entre tantos outros, mostra a cultura “jovem-cêntrica”, que tende a valorizar as pessoas mais jovens.

Para reverter essa questão, algumas ações já têm sido feitas, principalmente no setor de viagens e eventos corporativos. Um exemplo é a parceria anunciada entre a Alagev e a Maturi, empresa que promove diversidade etária por meio de ações de recolocação, educação e conexão.

“O etarismo será a causa defendida no próximo Lacte, que acontecerá nos dias 26 e 27 de fevereiro de 2024 no Golden Hall do WTC Events Center (SP). Trazendo o tema 'Inspire', o evento tem como objetivo mobilizar uma mudança cultural e lutar contra estereótipos negativos associados às gerações, especialmente as 60+. A ideia é que possamos trazer o olhar para o fato de que a população está envelhecendo e as pessoas maduras serão uma grande força de trabalho. Precisamos entender como integrar essa melhor idade no mercado”, destaca a então diretora executiva da Alagev, Giovana Jannuzzelli. *

A afirmação de Giovana é reforçada por dados do IBGE. No Brasil, 27% da população está cima dos 50 anos e 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos até 2040. A previsão é alcançar a 6ª posição com maior número de idosos no mundo em 2025. Sendo assim, é essencial que as empresas se adaptem e tenham programas de contratação que olhem para a experiência desses profissionais.

Arquivo pessoal de Mórris Litvak
Mórris Litvak, CEO da Maturi
Mórris Litvak, CEO da Maturi

“É importante promover nas empresas a conscientização, a educação, e implementar políticas para garantir que haja diversidade e inclusão, trazendo para o processo seletivo essas pessoas maduras”, destaca Giovana. Nesse contexto, a parceria entre a Alagev e a Maturi se mostra essencial.

“A parceria será fundamental para fortalecer o combate ao etarismo. Cada geração tem perspectivas únicas e valiosas. Assim como todas as formas de preconceito, este viola o princípio da igualdade, negando às pessoas mais maduras os mesmos direitos, oportunidades e respeito que são garantidos a outras faixas etárias”, comenta a diretora executiva da Alagev.

A primeira ação da parceria foi o apoio ao evento MaturiFest, realizado 23 a 25 de agosto em São Paulo em formato híbrido, na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), campus Liberdade. "Esta parceria com a Alagev é uma grande conquista para nós da Maturi. É uma oportunidade inestimável para promovermos a diversidade e inclusão etária em eventos e viagens corporativas. Acredito que, juntos, podemos enriquecer o setor com a experiência e resiliência do público 50+, gerando impacto social e transformando a realidade do etarismo no mercado de trabalho”, destaca o CEO da Maturi, Mórris Litvak.

Com o apoio, os associados da entidade receberão um link com cupom com 50% de desconto na inscrição do evento. Em contrapartida, a Maturi será consultora oficial sobre o combate ao etarismo para a 19ª edição do Lacte. “Vamos mobilizar a comunidade de eventos e viagens para uma mudança cultural. Queremos todos juntos lutando e abrindo caminhos para que qualquer pessoa possa participar plenamente do mercado de trabalho, compartilhando suas histórias, conhecimentos e habilidades. A luta contra o etarismo é um passo crucial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Podemos promover o envelhecimento saudável e digno, permitindo que todas as gerações prosperem juntas”, ressalta Giovana.

Olhando para o público 50+

Embora a questão do etarismo esteja ganhando mais destaque agora, a Maturi já olha para ela há muito tempo. Desde 2015, a empresa apoia as estratégias de diversidade etária e geracional das organizações, além de atrair profissionais 50+ para o seu time. Hoje, a Maturi conta com 753 empresas parceiras, mais de 220 mil profissionais inscritos em sua plataforma e já capacitou 55,4 mil pessoas 50+, recolocando 7,8 mil no mercado de trabalho.

“A Maturi atua em três frentes: contratação, por meio da Maturi Hunting, que conta com um time de recrutamento e seleção especializado em talentos 50+ à disposição das empresas; educação e treinamento, preparando as empresas para lidar com times multigeracionais, por meio de treinamentos, workshops e palestras, além da Maturi Academy, que fornece ao público maduro ferramentas de desenvolvimento para que eles tenham oportunidades de se atualizar; e a terceira frente é o fortalecimento das marcas, por meio de ações voltadas ao público 50+, sejam essas marcas empregadoras ou aquelas que querem olhar para esse público consumidor”, conta a head de Novos Negócios da Maturi, Andrea Tenuta.

Arquivo pessoal de Andrea Tenuta
Andrea Tenuta, head de Novos Negócios da Maturi
Andrea Tenuta, head de Novos Negócios da Maturi

“Além de cursos, também promovemos eventos para conectar as pessoas. Mostramos que existem outras formas de trabalho além do CLT, nas quais o público 50+ pode atuar, seja empreendendo ou como profissional autônomo. É importante destacar que a Maturi é representante oficial e exclusiva no Brasil do programa Certified Age Friendly Employer (CAFE), do Age-Friendly Institute, organização que existe há 17 anos nos Estados Unidos e certifica organizações com boas práticas voltadas ao público maduro”, conta o CEO da Maturi.

Na opinião dele, o etarismo é uma questão global “O mundo está envelhecendo e, ao compararmos o Brasil com a Europa, os Estados Unidos, o Canadá e o Japão, vemos que esses lugares têm mais estrutura e educação para lidar com o etarismo. Falta mão de obra jovem nesses locais, por causa do envelhecimento populacional. Então, para eles, é comum ter pessoas mais velhas no mercado de trabalho”, comenta Mórris.

Empresas estão realmente comprometidas com a causa?

Mas será que as empresas realmente têm se comprometido com a questão do etarismo? De acordo com Andrea, muitas delas acabam ficando só no discurso.

“Vemos isso por meio dos números. Por mais que o discurso de muitas empresas seja ‘somos inclusivos’, quando olhamos para os dados vemos que a representatividade do público 50+ nas empresas é muito baixa. E quando esse número é mais expressivo, ele se refere a pessoas que não foram contratadas na maturidade”, comenta a head de Novos Negócios da Maturi.

Os números, de fato, não mentem. Um estudo da Maturi realizado em parceria com a Ernst & Young (EY), feito com 191 empresas de 13 setores, revela que 80% dos entrevistados não possuem políticas específicas para a contratação de profissionais 50+ em seus empreendimentos, enquanto 42% não consideram diversidade, equidade e inclusão (DEI) uma prioridade na estratégia do negócio.

Os temas principais, entre aqueles que possuem práticas estruturadas de DEI, são: étnico e racial (75%), pessoa com deficiência - PCD (75%), LGBTQIA+ (64%), gênero (75%) e etário/gerações (45%). O levantamento também revela que 88% dos participantes concordam total ou parcialmente com a afirmação de que as marcas que se prepararem para o envelhecimento estarão em vantagem; e 57% das organizações pensam em ações direcionadas ao envelhecimento, como investir no recrutamento de profissionais maduros e na preparação da cultura organizacional nos próximos três anos; 33%, por sua vez, não praticam nenhuma ação voltada para a população madura.

Já os poucos que contam com ações são pontuais e iniciais. Apesar dos benefícios, apenas 26% das empresas ouvidas pelo estudo têm o tema em sua agenda estratégica, com ações em andamento ou previstas para os próximos 12 meses. “As empresas devem olhar seus números para enxergar onde devem atuar, a fim de desenvolver a liderança sobre o tema, para que essa seja uma pauta estratégica e esteja na agenda”, comenta Andrea.

O público 50+, por sua vez, pode ir atrás do aperfeiçoamento de seus conhecimentos e expertises. "É preciso adotar o conceito do life learning, do aprendizado contínuo. Nunca é cedo ou tarde para aprender algo novo, é importante não ficar lamentando a dificuldade e dar continuidade a seus conhecimentos, aprender assuntos novos para manter sua empregabilidade alta”, destaca Mórris.

Dicas para que a es empresas sejam mais inclusivas com o público 50+

  • Para que o colaborador maduro se sinta integrado ao grupo, um caminho é realizar divulgações que retratem essas pessoas de maneira justa e positiva, desafiando os estereótipos negativos e destacando suas histórias de sucesso;
  • Vale fomentar, também, a interação e o envolvimento entre os funcionários de diferentes faixas etárias, com o entendimento e o reconhecimento das contribuições de cada geração;
  • Incentivar programas que enfatizem a colaboração contínua de variadas idades como, por exemplo, mentoria de jovens com indivíduos mais experientes, já que ambos têm conteúdos distintos para compartilhar.



* Na realização desta entrevista e elaboração da matéria, Giovana Jannuzzelli ainda ocupava o cargo de diretora executiva da Alagev. A profissional deixou a posição no dia 9 de outubro, com Luana Nogueira sucedendo

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