Beatrice Teizen   |   05/10/2022 19:29
Atualizada em 05/10/2022 23:25

Maílson da Nóbrega traça panorama econômico a associados Abracorp

Economista foi ministro da Fazenda entre os anos 1988 e 1990

A Abracorp realizou nesta quarta-feira (5) sua reunião de TMCs associadas no Hotel InterContinental, em São Paulo. O encontro contou com uma palestra do economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda entre os anos 1988 e 1990, sobre perspectivas econômicas para 2023 e o que esperar para o próximo cenário político.

PANROTAS / Emerson Souza
O economista Maílson da Nóbrega
O economista Maílson da Nóbrega
“Ainda é possível olhar o Brasil com otimismo, desde que você esteja preparado para enfrentar o que está para vir. Prepare o caixa, analise os investimentos, entenda as perspectivas de mercado”, foi como Nóbrega deu início ao assunto.

O especialista deu uma introdução ao panorama econômico mundial e brasileiro com o fim da guerra fria, que gerou a hiper globalização da economia, causando a queda da percepção de riscos geopolíticos e aumentando a segurança. Nesta época, a prioridade passou a ser a eficiência – produzir aonde fosse mais barato. Foi neste período também que surgiram as cadeias mundiais de suprimentos, principalmente com a ajuda de mão de obra barata da China. O otimismo predominou em vários países, gerando ganhos de produtividade.

DESAFIOS DA ECONOMIA MUNDIAL
Maílson da Nóbrega apontou os desafios que a economia do mundo todo enfrenta. A curto prazo, e mais importante, é o fim da era de inflação e juros baixos – os bancos centrais dos países ricos aumentaram os juros básicos para combater a maior inflação em 40 anos.

“Em médio e longo prazos enfrentamos mudança nas cadeias de suprimentos. Isso resulta em uma economia menos eficiente, inflação mais alta e menor potencial de crescimento. Com a pandemia, tivemos uma desaceleração da economia, inclusive na China, com as commodities em baixa”, explica o economista.

Além de todo este período inesperado de covid-19, o mundo enfrenta ainda riscos geopolíticos, como o desfecho incerto da guerra na Ucrânia e a possível tentativa de anexação de Taiwan pela China.

E O BRASIL?
Para o Brasil, Maílson da Nóbrega foi claro: a situação fiscal é delicada e o principal problema a ser enfrentado pelo próximo presidente no ano que vem é o teto de gastos, que perdeu força.

“A finalidade e os pressupostos não se sustentaram e os furos desmoralizaram a regra. Por isso, a margem de gestão orçamentaria para 2023 pode desaparecer. O ano de 2023 é o ano de ajuste, não tem como fugir disso.”

O economista explica que é preciso haver um novo furo do teto de gasto para viabilizar a manutenção do valor do Auxílio Brasil (de R$ 600) e para assegurar um waiver (dispensa do cumprimento de exigências contratuais em empréstimos internacionais) no primeiro ano do governo.

E este ajuste fiscal exigirá a redução de gastos obrigatórios. São eles:
  • Pessoal;
  • Previdência;
  • Saúde;
  • Educação;
  • Gastos sociais.
“Além disso, será preciso mobilizar a sociedade em favor das mudanças e os grupos corporativistas agirão em sentido contrário. Este será o grande desafio do presidente eleito para o ano que vem. Ter liderança política e muita capacidade de articulação”, afirma Nóbrega.

Perspectivas a partir de 2026
O especialista entregou ainda algumas perspectivas para além de 2026. Segundo suas projeções, a sociedade estará mais amadurecida, com um ambiente mais propicio para formar consensos. Também haverá melhores condições para aprovar reformas complexas e privatizar grandes estatais.

“Dependendo de quem seja eleito, o Brasil pode ter recuperado prestígio internacional, particularmente na Europa, além de chances elevadas de renovação da liderança política nacional. As esperanças podem ainda ser renovadas em torno de um projeto desenvolvimentista sustentável em termos políticos, econômicos, sociais e ambientais”, finaliza.

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