Fusão entre Gol e Azul é "inconcebível", afirma ex-conselheira do Cade
Cristiane Schmidt critica acordo comercial e alerta para risco de duopólio no setor aéreo brasileiro

A economista e ex-conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Cristiane Alkmin Schmidt, foi categórica ao comentar a possível fusão entre as companhias aéreas Gol e Azul. Em entrevista concedida nesta terça-feira (21) à CNN Brasil, a executiva afirmou que a operação, caso concretizada, criaria um duopólio no setor e poderia afetar gravemente a concorrência e os consumidores brasileiros.
"Não tenho a menor sombra de dúvida que todas as companhias aéreas passaram por um grande problema, mas o fato concreto é que uma fusão, no Brasil, especificamente, é inconcebível"
Cristiane Alkmin Schmidt, economista ex-conselheira do Cade
Segundo ela, a concentração de mercado resultante seria alarmante: "Teríamos um duopólio, a Latam com 40% e a Gol e a Azul com 60%".
Codeshare sob suspeita
A especialista também demonstrou preocupação com o acordo de codeshare firmado entre Gol e Azul em maio de 2024. Embora esse tipo de parceria seja comum no setor, Cristiane afirma que houve abuso do mecanismo, com impactos reais na oferta de voos e na concorrência.
"Eles, de fato, retiraram diversas rotas da malha de cada um, e rotas em que eles tinham uma sobreposição. Como usuária, eu vi rotas que tinham voos diretos para várias cidades do Centro-Oeste e agora não têm mais. Você não tem mais esse tipo de oferta para o Nordeste"
Cristiane Alkmin Schmidt, economista ex-conselheira do Cade
Segundo ela, o comportamento das empresas pode configurar gun jumping — prática em que companhias começam a atuar de forma integrada antes de obter autorização do Cade para uma fusão ou aquisição. "Tem que ser analisado com maior rigor, de que houve, sim, uma exclusão de rotas", afirmou.
"Não cabe a tese de empresa falida"
Para a ex-conselheira do Cade, o argumento de que a Azul estaria em situação financeira insustentável não se sustenta, ao menos por ora. A economista ressalta que a companhia ainda não entrou em recuperação judicial nem protocolou pedido de Chapter 11, como fez a Gol nos Estados Unidos.
"Temos um potencial enorme no Brasil, não caberia a tese da empresa falida, de forma alguma. A Azul nem passou ainda pelos critérios para justificar essa teoria", afirmou.
Ela também criticou a possibilidade de uso de recursos públicos por parte da Azul. "Se a Azul está com um problema, não quer entrar no Chapter 11, quer buscar recursos no governo federal, a pergunta é: é a maneira mais eficiente e melhor para o consumidor brasileiro?", questionou.
Cristiane defende uma abordagem diferente para o mercado aéreo nacional. Em vez de permitir maior concentração entre os atuais players, ela propõe a abertura a novas companhias no setor. "Vamos permitir que outras empresas entrem no Brasil. Aí, sim, seria ótimo", concluiu.