Após Chapter 11, Gol planeja voar para todos os países da América do Sul
Companhia consolida operação na Argentina e projeta novos mercados como Chile, Equador e Costa Rica

A Gol Linhas Aéreas inicia um novo capítulo de sua história nesta sexta-feira, dia 6 de junho, ao concluir o processo de recuperação via Chapter 11 nos Estados Unidos. A companhia reduziu de forma significativa seu endividamento, com a conversão ou extinção de cerca de US$ 1,7 bilhão em dívidas financeiras anteriores ao Chapter 11 e até US$ 850 milhões em outras obrigações. E agora chegou a hora de olhar para frente.
Visitamos a sede da Gol e conversamos com o vice-presidente comercial Mateus Pongeluppi, que detalhou quais são os próximos passos da companhia aérea brasileira tanto no mercado doméstico, no internacional, no mercado corporativo, bem como nas diretrizes e estratégias que vão ladrilhar seu futuro a curto e longo prazo.
Em ritmo de expansão, a companhia vem consolidando sua presença na América do Sul e Caribe, ao mesmo tempo em que inicia um processo de transformação cultural para atuar de forma mais global. A companhia já possui uma atuação sólida na Argentina, com voos para seis destinos no país, e planeja, nos próximos anos, alcançar todas as capitais sul-americanas — dentro dos limites regulatórios.
“Temos uma posição muito forte na Argentina e queremos, de maneira gradual, ampliar nossa atuação para todos os países da América do Sul. Hoje, a Gol opera voos para Ezeiza e Aeroparque, em Buenos Aires, Córdoba, Rosário, Mendoza e Bariloche, mas acompanha de perto mercados como Chile, Peru e Equador, considerados estratégicos no plano dos próximos cinco anos da companhia"
Mateus Pongeluppi, vice-presidente comercial da Gol
O executivo lembra que a companhia já superou os níveis pré-pandemia e lidera o corredor entre Brasil e Argentina, ainda mais depois da recente transferência de boa parte de seus voos para o Aeroparque.

"O momento é favorável e hoje tem mais argentinos do que brasileiros em nossos voos, o que depende da sazonalidade. No entanto, em determinados meses, a fatia de argentinos chega a 70%. Por outro lado, a Argentina, que era um destino barato, agora está ganhando uma cara de lifestyle, para tomar um bom vinho e conhecer a arquitetura europeia", disse Mateus.
A Colômbia também é um ponto-chave na malha regional, com voos operados a partir de Brasília e Manaus, além do potencial de retomada da rota São Paulo–Bogotá, em parceria com a Avianca (Grupo Abra). “Há sinergias ainda pouco exploradas. Temos discutido formas de retomar essa operação com a Avianca, que tem forte presença na Colômbia e infraestrutura consolidada em Bogotá”, explica o executivo.
A companhia aérea está presente hoje no Paraguai, Uruguai, Bolívia, Argentina, Colômbia, Suriname, Aruba, San Jose, Guiana Francesa (em parceria com Air France). A Gol também abriu recentemente a rota para Caracas e trabalha com times locais e parcerias regionais para ampliar a capilaridade e o atendimento nesses mercados.
Caribe & Estados Unidos

O Caribe é outro foco da estratégia internacional da Gol, com destaque para San José, na Costa Rica. Por lá, a companhia vem construindo a operação de lazer do zero, com apoio de operadoras. Apesar da ocupação ainda abaixo da média de outros voos internacionais, a Gol acredita no potencial da Costa Rica no médio prazo.
“San José tem um mix importante de vendas e empresas com negócios no Brasil. É uma aposta que deve amadurecer nos próximos meses"
Mateus Pongeluppi, vice-presidente comercial da Gol, sobre Costa Rica
Nos Estados Unidos, a companhia mantém voos diretos de Brasília para Orlando e, sazonalmente, de Manaus. Também opera rotas de Fortaleza para Orlando e Miami, além de uma nova operação em Belém, alinhada a incentivos locais.
A parceria com a American Airlines, neste caso, é considerada estratégica para a distribuição no território norte-americano. “Miami é um ponto central, e a American é fundamental na nossa estratégia de distribuição beyond nos EUA. A conectividade seamless permite expandir o alcance sem ampliar a malha própria”, explica o VP.
Transformação cultural e visão internacional

Mais do que expansão geográfica, a Gol passa por um processo interno de transformação para se tornar uma companhia mais internacional em sua atuação e no pensamento estratégico do dia a dia. “A mudança começa no acionista e vai até o trade de cada país. É uma mudança cultural profunda, que envolve entender as diferenças e se conectar com um ambiente mais global", diz Pongeluppi.
No modelo atual, a Gol abandonou o uso de GSAs (representantes comerciais externos) nas Américas, apostando em estrutura uma própria e na sinergia com a Avianca, que atua como força de vendas em vários mercados. Na Argentina, por exemplo, há um time dedicado com foco tanto no lazer quanto no corporativo, firmando contratos globais e acordos bilaterais com empresas brasileiras.
“Estamos reconstruindo nosso portfólio doméstico, mas com os olhos bem abertos para as oportunidades internacionais. O caminho é longo, mas a base está sendo bem construída”
Mateus Pongeluppi, vice-presidente comercial da Gol