Movida

Rodrigo Vieira   |   14/08/2018 15:45

Entre receio e otimismo: a visão de concorrentes de Esfera e CVC

A opinião dos principais concorrentes sobre o que vem a ser a compra do ano

A CVC Corp, dona da Rextur Advance, maior consolidadora de bilhetes aéreos do Brasil, comprou a Esferatur, que se não é a segunda, é a terceira maior empresa do ramo, lado a lado com a Flytour Gapnet. O grupo fechou o primeiro semestre com lucro de R$ 127,4 milhões e agora vai reforçar o que chama de "corporativo" (Rextur Advance e Trend) com uma empresa de aproximadamente R$ 2 bilhões em vendas de passagens B2B. Nos seis primeiros meses do ano, R$ 2,4 bilhões foram somados por Rextur Advance e Trend, alta de 7% em relação ao mesmo período do ano passado.

A meta é chegar aos R$ 6 bilhões com consolidação aérea até dezembro, e a CVC Corp agora soma R$ 5,2 com a aquisição da Esfera.

E agora?

Emerson Souza
Juarez Cintra, da Ancoradouro: otimista
Juarez Cintra, da Ancoradouro: otimista
Grande parte do mercado só estava esperando pelo anúncio de uma transição que já era esperada, cuja negociação demorou pouco menos de dois anos para se concretizar. Embora o fundador da Esfera, Beto Santos, acredite que não haverá perda substancial de clientes, quando uma compra desse porte é realizada, cerca de 20% dos clientes da companhia adquirida optam por outra alternativa, por não se identificar com um conglomerado de grande porte.

O presidente do Conselho de Administração da Ancoradouro, Juarez Cintra, o avalia desta maneira. Para ele, a aquisição é um mérito da CVC Corp, mas bom para os demais consolidadores. "Trata-se de um fato muito relevante para todo o mercado. Para a CVC Corp é uma compra muito importante, mas o agente de viagens é reticente com a empresa, hoje seu maior competidor, com 1,3 mil lojas. Não se vende o cliente e muita da venda será absorvida pelos concorrentes. Temos tecnologia como eles mas o diferencial do atendimento. A Ancoradouro vai para cima."

Tais Ballestero
Peter Weber,skyteam
Peter Weber,skyteam

É bem parecida a visão da Skyteam, de Peter Weber. Os próprios rumores da compra, segundo ele, já mexeram com suas vendas. "Já sentimos isso nos últimos meses. O agente de viagens tem restrição com grupos, e a CVC tem venda on-line, lojas e outras unidades de negócios. Por fim, nós consolidadores sabemos que é um negócio específico que depende de pessoas. Tanto que na CVC quem toca essa área é um filho de um consolidador".

Não só as consolidadoras, mas as operadoras também sentem o reflexo em vendas tão grandes como essa. Tanto Weber quanto Cintra dizem que as vendas de suas operadoras, Europlus e Mondiale, respectivamente, cresceram depois da compra da Trend pela CVC. A Europlus triplicou vendas. Na empresa paulista, a venda de hotéis dobrou.

Emerson Souza
Emerson Camilo, da Flytour Gapnet: otimista
Emerson Camilo, da Flytour Gapnet: otimista
Principal competidora da Esfera pelo segundo lugar do pódio, a Flytour Gapnet também vê a compra com otimismo e naturalidade. "Desde 2013 observamos essas movimentações, primeiro Rextur Advance, depois Flytour em 2015, e novas irão acontecer. Isso é bom, mostra maturidade no nosso segmento e que existe possibilidades não só na consolidação mas em fusão de agências, como já vimos nos últimos meses. Isso faz com que o mercado se movimente e traga novidades. Faz com que cada empresa repense seu negócio e quais oportunidades surgem, traz ainda mais competitividade, e competitividade gera criatividade", avalia o CEO da Flytour Gapnet, Emerson Camilo.

Emerson Souza
Wania Fasulo, da High Light: receosa
Wania Fasulo, da High Light: receosa
Para Wania Fasulo, da High Light, "essa consolidação da consolidação" é complicada, mas sabendo trabalhar há oportunidades. A empresária diz que muito dependerá dos fornecedores, e alerta as companhias aéreas. "Elas precisam ver que não podem incentivar uma situação predatória dando condições muito diferenciadas que prejudiquem o mercado. Se as aéreas o enxergarem, conseguiremos trabalhar, pois com CVC e Rextur Advance já há pressão por mais condições de fornecedores. Temo que com a Esfera isso possa piorar..."


Divulgação
Flavia Pirola, da Tyller: novas oportunidades
Flavia Pirola, da Tyller: novas oportunidades
Na Tyller, Flavia Pirola está otimista. "Nós entendemos que essa aquisição por parte da CVC fará com que a venda fique mais diluída e com isso enxergamos sim, novas oportunidades."

Emerson Souza
Helvécio Garófalo: otimista
Helvécio Garófalo: otimista
Helvécio Garófalo, presidente da Confiança, vê o mercado mais maduro, principalmente o da consolidação. Ao ser questionado se as consolidadoras regionais afastadas do Sudeste ganhariam força, ele diz que acredita que sim, mas retifica que a Confiança deixou de ser forte apenas em Centro-Oeste. "A aquisição demonstra maturidade do nosso setor, e tem mercado para todo mundo, dos pequenos, passando pelos médios e os grandes players. Hoje temos mesmo atuação muito forte no Centro-Oeste, mas o Sudeste já ultrapassou esse mercado, e o Sul está praticamente empatado com a região onde originalmente começamos. Entretanto, as regionais têm, sim, oportunidade de focar em um atendimento diferenciado. Há cliente para todos, e sai na frente quem conseguir prestar o melhor serviço."

Emerson Souza
Eraldo Palmerini, da BRT:  cauteloso
Eraldo Palmerini, da BRT: cauteloso
A BRT está em situação parecida. Estabeleceu-se em Curitiba, mas ampliou seu negócio em quase 20 cidades, entre escritórios e home office. A chegada em São Paulo aconteceu há apenas dois meses. Na visão do presidente do Grupo BRT, Eraldo Palmerini, a venda da Esferatur para a CVC Corp abre novas portas. “Teremos de analisar as praças, vai ter oportunidade de gente que sai da empresa, de gente que é demitida, enfim... Temos de comer pelas beiradas e oferecer o melhor nível de eficiência. Aqui se liga para o presidente e fala com ele, o cliente se sente importante. Em outras empresas isso não acontece."

Por falar em contato direto com o board, a GS Travel Tour, com matriz no Recife, por meio do executivo Derik Paterson, diz que seus agentes estão temendo monopolização da consolidação aérea. "Eles têm medo que o possível monopólio estabeleça um preço e deixe a concorrência desleal. Nossos clientes são muito fiéis. Conhecemos os diretores e proprietários das agências. Eles têm o telefone dos diretores e proprietários, e não dos gerentes regionais das consolidadoras. Isso faz diferença. Embora haja muita agência interessada nas grandes consolidadores, a nossa cartela de agências nordestinas não deve diluir."

*Colaboram Artur Luiz Andrade e Henrique Santiago

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