Rodrigo Vieira   |   07/06/2023 17:11
Atualizada em 07/06/2023 17:30

Revista PANROTAS traz entrevista exclusiva com Marco Ferraz, da Clia

Associação de cruzeiros comemora os resultados de 2022/23, com 780 mil leitos ofertados


PANROTAS/Emerson Souza
Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil
Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

Depois de uma temporada 2021/22 difícil, com poucos navios, fronteiras fechadas e interrupções por conta da pandemia de covid-19, a Clia Brasil comemora os resultados de 2022/23. "Foi a maior dos últimos dez anos. Não poderia ser melhor do que isso", afirma o presidente da entidade brasileira de cruzeiros marítimos, Marco Ferraz. Foram nove navios, alguns com recorde de tamanho para os mares brasileiros, além de Maceió e Itajaí (SC) se destacando como novos portos de embarque e desembarque.

Em quase seis meses de duração, foram ofertados 780 mil leitos, alta de 47% na comparação com os 530 mil ofertados em 2019/2020 - pré-pandemia. Durante toda a temporada, as embarcações navegaram por 184 roteiros e 724 escalas.

Segundo o mais recente estudo da Clia Brasil, a média de impacto econômico gerada por cruzeirista nas cidades de escala é R$ 605,90 e de R$ 770,97, respectivamente, nas de embarque e desembarque.

TRAVESSIAS, INTERNACIONAL E LONGO CURSO

Outro motivo de comemoração foi a ocupação dos cruzeiros de travessias. Marco Ferraz conta que as voltas dos navios à Europa saíram cheias daqui. "Além disso, os cruzeiros internacionais são cada vez mais buscados no País, principalmente Caribe e Mediterrâneo. Estamos notando um crescimento de brasileiros em cruzeiros no Alasca, no Sul da Ásia, no Oriente Médio. Mas o grande campeão é mesmo o Caribe, saindo da Flórida. Aquele famoso de Caribe sem visto, saindo de Cartagena, deve voltar no fim do ano."O presidente da Clia Brasil também chama atenção dos agentes de viagens para os cerca de 35 navios que passarão pelo Brasil em viagens de longo curso. "Às vezes dá para embarcar em Manaus e sair no Rio de Janeiro, por exemplo. E costumam ser navios de expedição, com serviço premium, que passam pelo Brasil cheios de estrangeiros", aponta Ferraz.Silversa, Celebrity, NCL, Oceania, Regent, Ponant, Nicko Cruises, Seabourn, Nat Geo, Viking, Mystic, entre outras companhias fazem essas passagens pelo Brasil ao longo do ano.

PRÓXIMA TEMPORADA

Se há motivos para comemorar os resultados de 2022/2023, a Clia também se entusiasma com a próxima temporada. Serão 840 mil leitos, índice 7% superior ao da temporada mais recente. "Será outro recorde. Talvez não superaremos os 800 mil cruzeiristas de 2011/12, mas será uma temporada mais longa, na qual o último navio sai de Maceió no dia 7 de maio. É um caminho ascendente, quem sabe em 2024 ou 2025 nós consigamos um recorde definitivo", afirma Ferraz.Recentemente, a Clia Brasil se juntou com todos os 14 destinos de cruzeiros no Brasil, mais Argentina e Uruguai. Governos estaduais, municipais, Anvisa, Receita Federal, guarda portuária, secretarias de Saúde, Trânsito, Receptivos, Associações... uma viagem de cruzeiro é muito mais complexa do que o viajante e até o agente de viagens pode imaginar.

PRINCIPAL PARCEIRO

Por falar em agentes de viagens, a Clia Brasil trata a classe profissional como seus principais parceiros. No mundo inteiro, a venda de cruzeiros é 65% via agências, enquanto no Brasil esse índice supera os 80%.

"Tentamos fazer chegar nossas mensagens aos agentes para que eles coloquem os cruzeiros em suas prateleiras. A Clia tem 15 mil agências de viagens e 57 mil profissionais cadastrados globalmente. No Exterior, eles contam com um projeto de capacitação que estamos tentando trazer para cá. Não é fácil, pois não é só tradução, é tropicalização, ou seja, tem de haver toda uma adaptação do conteúdo para a mentalidade do brasileiro", afirma Ferraz.

VISÃO SOBRE OS PORTOS

Em sua missão de desenvolver e promover a indústria de cruzeiros no País, um dos papeis da Clia Brasil é atuar em estreita colaboração com os portos nacionais. Nesse sentido, Marco Ferraz se mostra satisfeito com o balanço da última temporada e animado com o que virá na próxima, incluindo a estreia de Paranaguá (PR).

"Embarque, desembarque e trânsito em Paranaguá acontecerão em um centro de convenções da cidade, com os passageiros sendo transportados por via terrestre. Essa é uma estratégia que deu certo em Itajaí, onde tivemos de parar de operar devido ao evento Ocean Race e levamos os cruzeiristas ao Centreventos, além de Ilhéus, onde a operação também é feita de maneira similar. Estamos confiantes no sucesso de Paranaguá e nos destinos ao redor, como Ilha do Mel, Antonina, Morretes, Mangue e outros", afirma o presidente da Clia Brasil.A segunda temporada de utilização de Maceió também foi considerada bem sucedida por Ferraz. "O problema do porto da capital alagoana é que não está alfandegado, o que impossibilita a operação internacional. No entanto, há uma solução, que inclusive conseguimos em Itajaí e Balneário Camboriú: é fazer o alfandegamento dentro do navio. A Receita Federal está colaborando e estamos trabalhando para fazê-lo em Maceió e Paranaguá."Sobre Santos, o projeto é transferir os cruzeiros marítimos do Concais para o Valongo. No entanto, esse é um projeto de prazo mais longo. "O ministro de Portos e Infraestrutura, Márcio França, já publicou apoio da transferência de terminal, após uma reforma geral de Valongo. Além de atualizar o espaço e colocar os turistas no centro histórico da cidade, com grande área de convivência turística, o novo terminal terá berços exclusivos para navios de até 350 metros.”

Divulgação
Pier Mauá
Pier Mauá

No Rio de Janeiro, também há conversas com o ministério dos Portos para fazer a operação no Armazém 7, no caminho oposto da roda gigante. Isso ampliaria a área do Pier Mauá e os navios de passageiros ganhariam área para operar. Salvador, por fim, contou com dois grandes navios em operação na última temporada: Costa Firenze e MSC Seashore.

Para a próxima temporada, os soteropolitanos verão o Costa Diadema e o MSC Grandiosa, fora outros que fazem escala na capital baiana. "Há infraestrutura para ajustar em Salvador, mas são coisas que dá para resolver e melhorar a operação. Os cruzeiristas apreciam a parada na Bahia."

Tendências da Clia Global para o setor

Mundo está pronto para superar o pré-pandemia.

Projeções da Clia Global (Cruise Lines International Association), em seu estudo Clia State of the Cruise Industry 2023, mostram que, neste ano, a indústria de cruzeiros irá ultrapassar o volume de passageiros embarcados de 2019. O setor está acima da previsão da OMT de que as chegadas de turistas internacionais em 2023 serão de 80% a 95% dos níveis de 2019. Além disso, a frota de navios de cruzeiro membros da Clia deve passar de 300 embarcações, já em 2024.

As gerações mais jovens são o futuro dos cruzeiros. Cerca de 88% dos Millennials (nascidos entre 1981 a 1995) e 86% dos viajantes da Geração X (nascidos entre 1965 e 1981) que já fizeram cruzeiros, afirmam que planejam fazer cruzeiros novamente.Entre os que nunca fizeram um cruzeiro, 73% indicam que pretendem experimentar uma viagem de navio nas férias.Para atender quem quer estrear nos navios e para já apaixonados por cruzeiros, as companhias estão oferecendo roteiros mais curtos e mais longos. A duração média de um cruzeiro continua em torno de sete dias, mas as opções de duração dos roteiros aumentaram, e as de volta ao mundo estão sendo vendidas em poucas semanas após seu lançamento.

Hoje, 73% das pessoas gostam de navegar com familiares. Além disso, a família e os amigos têm mais influência nas decisões dos viajantes de reservar ou não um cruzeiro.

No entanto, as viagens solo estão em alta e as companhias marítimas estão aumentando o número de cabines individuais em novos navios - e adaptando alguns já existentes para incluir cabines adicionais projetadas para quem viaja sozinho.A sustentabilidade está em pauta nos investimentos e ações das companhias e, também, no interesse dos cruzeiristas. Atualmente, 50% dos viajantes de cruzeiros dizem que estão mais comprometidos em escolher suas viagem com base nos impactos ambientais do que há três anos.O número de cabines acessíveis em toda a frota de cruzeiros está aumentando. Essa evolução está ajudando a atender às necessidades dos viajantes com mobilidade limitada. Nesse quesito, a grande maioria diz que vê um cruzeiro como a única opção de viagem que atende suas necessidades.As viagens imersivas estão se tornando cada vez mais uma prioridade e as companhias estão trabalhando para atender esta demanda, com a programação de estadas mais longas, incluindo pernoites, em determinados portos de escala. Aqui, os cruzeiros de expedição também aparecem como excelentes oportunidades e uma grande tendência da indústria.Essa matéria é parte integrante da Edição Especial Cruzeiros 2023/2024 da Revista PANROTAS.

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