Embora com mais estrangeiros, Brasil segue com entraves, diz FecomercioSP
Embratur implementa iniciativas importantes, mas Brasil precisa de medidas estruturais, diz a entidade

Burocracia, concentração e sazonalidade. Essas são as três barreiras que, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o Brasil precisa superar para atrair mais turistas internacionais.
Dados do Ministério do Turismo mostram que, no primeiro semestre deste ano, 5,3 milhões de estrangeiros visitaram o País — um crescimento de quase 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda que o resultado seja positivo, a FecomercioSP ressalta que é preciso alinhar as políticas públicas nacionais para assegurar um desenvolvimento consistente e sustentável do setor.
Segundo a entidade, o Brasil pode se beneficiar indiretamente do atual cenário mundial, marcado por conflitos no Oriente Médio e por políticas econômicas norte-americanas que resultaram em uma significativa redução nas reservas de viagens aos Estados Unidos.
O País desponta como alternativa para os turistas europeus que buscam destinos politicamente estáveis, sem conflitos armados e com câmbio favorável. Por outro lado, a decisão do governo de restabelecer a exigência de visto para estadunidenses, australianos e canadenses cria um entrave burocrático que atrapalha o crescimento da visita de turistas estrangeiros ao Brasil.
Brasil deixou de receber 40 mil turistas norte-americanos no 2º trimestre
Em vigor desde abril deste ano, a volta da exigência de visto já teve impacto direto, resultando em uma retração de 0,4% no número de visitantes dos Estados Unidos entre abril e junho [tabela 1]. Na visão da FecomercioSP, embora o porcentual pareça pequeno, representa um volume significativo, considerando que os estadunidenses formam o terceiro maior grupo de turistas que visitam o Brasil, atrás apenas dos argentinos e dos chilenos. Entre os australianos, a queda foi de 1,5%, e, entre os canadenses, de 1,8%.
Sem a reintrodução da exigência de vistos — e mantido o ritmo observado no período de janeiro a março —, o Brasil poderia ter recebido quase 40 mil turistas adicionais dos Estados Unidos no segundo trimestre.
Para se ter uma ideia de como a facilitação de entrada é um fator determinante na escolha do destino, de acordo com dados da CVC, entre maio e junho, as vendas de pacote de viagens para a China cresceram 30% em comparação com o mesmo período do ano passado, depois que o país asiático decidiu isentar turistas brasileiros de apresentar o documento.
FecomercioSP
País | 2° tri/24 | 2° tri/25 | Variação (%) |
---|---|---|---|
Uruguai | 44.772 | 139.144 | 210,8 |
Argentina | 214.261 | 395.730 | 84,7 |
Paraguai | 68.817 | 116.322 | 69 |
Colômbia | 30.933 | 48.757 | 57,6 |
Portugal | 32.743 | 50.434 | 54 |
China | 17.738 | 27.042 | 52,5 |
Equador | 8.998 | 13.176 | 52,4 |
Reino Unido | 23.931 | 33.842 | 41,4 |
Chile | 111.827 | 156.083 | 39,6 |
Espanha | 20.773 | 28.193 | 35,7 |
Peru | 27.620 | 37.220 | 34,8 |
Itália | 23.931 | 31.585 | 32 |
Alemanha | 27.035 | 34.606 | 25,8 |
França | 40.998 | 50.651 | 23,5 |
México | 22.728 | 27.179 | 19,6 |
Holanda | 9.523 | 11.246 | 18,1 |
Japão | 15.597 | 18.205 | 16,7 |
Estados Unidos | 148.815 | 149.254 | 0,4 |
Austrália | 8.459 | 8.329 | -1,5 |
Canadá | 19.252 | 18.908 | -1,8 |
Bolívia | 22.891 | 21.400 | -6,5 |
América do Sul domina fluxo de turistas estrangeiros para o Brasil

A entidade aponta que a falta de diversificação na origem dos visitantes ficou evidente no segundo trimestre deste ano. Pouco mais de 60% dos turistas internacionais vieram de países sul-americanos, enquanto a Europa respondeu por 19% e a América do Norte, por 12%.
Mesmo dentro do contexto sul-americano, a concentração é marcante: 41% dos visitantes são argentinos — um contingente que apresentou crescimento de 85% em relação ao segundo trimestre do ano anterior. O Uruguai, apesar da menor população, registrou um aumento impressionante de 210%, mais do que triplicando o número de visitantes no período, com um total de quase 140 mil entradas entre abril e junho.
Contudo, os resultados expressivos da América do Sul são consequências de fatores externos — como a desvalorização do real e o fortalecimento da moeda argentina —, e não de política públicas nacionais para setor. Dessa forma, o cenário pode se reverter se a moeda brasileira continuar a trajetória de valorização. Já no caso da Venezuela, o número de visitantes despencou de 7,7 mil, no primeiro trimestre, para menos de mil, no segundo, refletindo fatores sazonais e externos ao controle da política nacional.
FecomercioSP
O ingresso de turistas no País ocorre em proporção significativamente maior na primeira parte do ano, durante o verão. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil recebeu 3,74 milhões de visitantes, enquanto no trimestre seguinte, de abril a junho, esse número caiu para 1,6 milhão — uma retração de quase 60%, apontando a forte dependência do setor da alta temporada para se manter aquecido. Ainda assim, é importante ressaltar que, mesmo diante dessa queda sazonal, o segundo trimestre registrou um aumento de 50% em comparação com o mesmo período de 2024.

Embratur implementa iniciativas importantes, mas Brasil precisa de medidas estruturais
Segundo a FecomercioSP, a Agência Brasileira de Promoção Internacional de Turismo, Embratur, vem implementando iniciativas importantes, como o programa de incentivo à ampliação da malha aérea internacional — que já contribuiu para um aumento de quase 30% no fluxo de turistas europeus — e a promoção dos atrativos nacionais ao longo de todo o ano, com o objetivo de reduzir a sazonalidade concentrada no verão e nas férias escolares. No entanto, a fim de garantir que o crescimento do Turismo nacional seja sustentável, é preciso investir em medidas estruturais que removam entraves e ampliem a competitividade do Brasil como destino global.
Urge eliminar impasses burocráticos
Para isso, é fundamental eliminar os impasses burocráticos que dificultam a entrada de visitantes internacionais. A FecomercioSP continua mobilizada pela aprovação do PDL 206/2023, que revoga o decreto federal e restabelece a isenção de vistos para portadores dos passaportes dos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália. Só assim, além de enfrentar os demais problemas, será possível ampliar a competitividade do Brasil e comemorar os recordes conquistados.