Rodrigo Vieira   |   17/07/2025 15:33

Embora com mais estrangeiros, Brasil segue com entraves, diz FecomercioSP

Embratur implementa iniciativas importantes, mas Brasil precisa de medidas estruturais, diz a entidade

Global Residence Index/Unsplash
FecomercioSP avalia impacto da cobrança do visto americano para o Turismo receptivo do Brasil:
FecomercioSP avalia impacto da cobrança do visto americano para o Turismo receptivo do Brasil: "País deixou de receber 40 mil turistas norte-americanos no 2º trimestre"

Burocracia, concentração e sazonalidade. Essas são as três barreiras que, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o Brasil precisa superar para atrair mais turistas internacionais.

Dados do Ministério do Turismo mostram que, no primeiro semestre deste ano, 5,3 milhões de estrangeiros visitaram o País — um crescimento de quase 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda que o resultado seja positivo, a FecomercioSP ressalta que é preciso alinhar as políticas públicas nacionais para assegurar um desenvolvimento consistente e sustentável do setor.

Segundo a entidade, o Brasil pode se beneficiar indiretamente do atual cenário mundial, marcado por conflitos no Oriente Médio e por políticas econômicas norte-americanas que resultaram em uma significativa redução nas reservas de viagens aos Estados Unidos.

O País desponta como alternativa para os turistas europeus que buscam destinos politicamente estáveis, sem conflitos armados e com câmbio favorável. Por outro lado, a decisão do governo de restabelecer a exigência de visto para estadunidenses, australianos e canadenses cria um entrave burocrático que atrapalha o crescimento da visita de turistas estrangeiros ao Brasil.

Brasil deixou de receber 40 mil turistas norte-americanos no 2º trimestre

Em vigor desde abril deste ano, a volta da exigência de visto já teve impacto direto, resultando em uma retração de 0,4% no número de visitantes dos Estados Unidos entre abril e junho [tabela 1]. Na visão da FecomercioSP, embora o porcentual pareça pequeno, representa um volume significativo, considerando que os estadunidenses formam o terceiro maior grupo de turistas que visitam o Brasil, atrás apenas dos argentinos e dos chilenos. Entre os australianos, a queda foi de 1,5%, e, entre os canadenses, de 1,8%.

Sem a reintrodução da exigência de vistos — e mantido o ritmo observado no período de janeiro a março —, o Brasil poderia ter recebido quase 40 mil turistas adicionais dos Estados Unidos no segundo trimestre.

Para se ter uma ideia de como a facilitação de entrada é um fator determinante na escolha do destino, de acordo com dados da CVC, entre maio e junho, as vendas de pacote de viagens para a China cresceram 30% em comparação com o mesmo período do ano passado, depois que o país asiático decidiu isentar turistas brasileiros de apresentar o documento.

FecomercioSP

Tabela Fecomércio

País
2° tri/24
2° tri/25
Variação (%)
Uruguai
44.772
139.144
210,8
Argentina
214.261
395.730
84,7
Paraguai
68.817
116.322
69
Colômbia
30.933
48.757
57,6
Portugal
32.743
50.434
54
China
17.738
27.042
52,5
Equador
8.998
13.176
52,4
Reino Unido
23.931
33.842
41,4
Chile
111.827
156.083
39,6
Espanha
20.773
28.193
35,7
Peru
27.620
37.220
34,8
Itália
23.931
31.585
32
Alemanha
27.035
34.606
25,8
França
40.998
50.651
23,5
México
22.728
27.179
19,6
Holanda
9.523
11.246
18,1
Japão
15.597
18.205
16,7
Estados Unidos
148.815
149.254
0,4
Austrália
8.459
8.329
-1,5
Canadá
19.252
18.908
-1,8
Bolívia
22.891
21.400
-6,5


América do Sul domina fluxo de turistas estrangeiros para o Brasil


Reprodução/YouTube
Aeroparque, em Buenos Aires, é um dos principais aeroportos para o Turismo receptivo no Brasil
Aeroparque, em Buenos Aires, é um dos principais aeroportos para o Turismo receptivo no Brasil

A entidade aponta que a falta de diversificação na origem dos visitantes ficou evidente no segundo trimestre deste ano. Pouco mais de 60% dos turistas internacionais vieram de países sul-americanos, enquanto a Europa respondeu por 19% e a América do Norte, por 12%.

Mesmo dentro do contexto sul-americano, a concentração é marcante: 41% dos visitantes são argentinos — um contingente que apresentou crescimento de 85% em relação ao segundo trimestre do ano anterior. O Uruguai, apesar da menor população, registrou um aumento impressionante de 210%, mais do que triplicando o número de visitantes no período, com um total de quase 140 mil entradas entre abril e junho.

Contudo, os resultados expressivos da América do Sul são consequências de fatores externos — como a desvalorização do real e o fortalecimento da moeda argentina —, e não de política públicas nacionais para setor. Dessa forma, o cenário pode se reverter se a moeda brasileira continuar a trajetória de valorização. Já no caso da Venezuela, o número de visitantes despencou de 7,7 mil, no primeiro trimestre, para menos de mil, no segundo, refletindo fatores sazonais e externos ao controle da política nacional.

FecomercioSP

O ingresso de turistas no País ocorre em proporção significativamente maior na primeira parte do ano, durante o verão. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil recebeu 3,74 milhões de visitantes, enquanto no trimestre seguinte, de abril a junho, esse número caiu para 1,6 milhão — uma retração de quase 60%, apontando a forte dependência do setor da alta temporada para se manter aquecido. Ainda assim, é importante ressaltar que, mesmo diante dessa queda sazonal, o segundo trimestre registrou um aumento de 50% em comparação com o mesmo período de 2024.


Reprodução/FecomercioSP
Chegada de turistas internacionais por continente | Participação no segundo trimestre de 2025 em % | Fonte: Embratur
Chegada de turistas internacionais por continente | Participação no segundo trimestre de 2025 em % | Fonte: Embratur

Embratur implementa iniciativas importantes, mas Brasil precisa de medidas estruturais

Segundo a FecomercioSP, a Agência Brasileira de Promoção Internacional de Turismo, Embratur, vem implementando iniciativas importantes, como o programa de incentivo à ampliação da malha aérea internacional — que já contribuiu para um aumento de quase 30% no fluxo de turistas europeus — e a promoção dos atrativos nacionais ao longo de todo o ano, com o objetivo de reduzir a sazonalidade concentrada no verão e nas férias escolares. No entanto, a fim de garantir que o crescimento do Turismo nacional seja sustentável, é preciso investir em medidas estruturais que removam entraves e ampliem a competitividade do Brasil como destino global.

Urge eliminar impasses burocráticos

Para isso, é fundamental eliminar os impasses burocráticos que dificultam a entrada de visitantes internacionais. A FecomercioSP continua mobilizada pela aprovação do PDL 206/2023, que revoga o decreto federal e restabelece a isenção de vistos para portadores dos passaportes dos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália. Só assim, além de enfrentar os demais problemas, será possível ampliar a competitividade do Brasil e comemorar os recordes conquistados.

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